SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na coleção de atores que deixaram a Globo e suas novelas em direção ao streaming nos últimos meses, o nome de Bruno Gagliasso é um dos que mais chamam a atenção. Com seus olhos azuis, uma família celebridade e uma variedade de papéis populares no currículo, o ator pareceu ser uma grande perda para a emissora -e uma aposta segura para as plataformas.
Agora, o primeiro desses projetos no sob demanda, “Operação Maré Negra”, finalmente é lançado pelo Amazon Prime Video, mostrando um lado vilanesco de Gagliasso, que vive um “empresário do tráfico” disposto a pôr em risco quantas vidas for preciso para engordar sua conta bancária.
Inspirada num caso real ocorrido há três anos, a série acompanha o lutador de boxe espanhol Nando, que, precisando de dinheiro, aceita uma oferta arriscada feita por seu tio, um poderoso traficante da Galícia. Ele deve atravessar o oceano Atlântico, da América do Sul até a Península Ibérica, num submarino caseiro recheado de cocaína.
É na floresta amazônica, na fronteira entre Brasil e Colômbia, que conhecemos o “empresário” de Gagliasso. Ele não poupa o submarino de elogios, apesar da clara inadequação do veículo para uma viagem tão longa e complicada, e seduz o boxeador espanhol com promessas de riqueza e com o que diz ser um faro para os negócios -se ele não acreditasse que a travessia é possível, não apostaria nela.
“Eu estou nessa fase aberta a boas histórias e bons personagens. É isso que eu quero como ator, porque me enriquece não só profissionalmente, mas como ser humano”, diz Gagliasso sobre a saída da Globo.
“A história de ‘Operação Maré Negra’ é verídica, uma coisa da qual eu gosto muito, e completamente absurda, então eu fiquei encantado. Eu fiz muito mocinho, e também já fiz vilão em novelas, mas agora eu estava em busca de personagens que me desafiassem, e as séries e filmes proporcionam mais isso. Nas novelas tudo é muito mais maniqueísta -e é preciso, faz parte.”
Gagliasso recebeu o convite para “Operação Maré Negra”, da qual participa de metade dos episódios, enquanto morava na Espanha, onde gravou a série da Netflix “Santo” -essa, sim, na qual é protagonista. Nela, ele está do outro lado de uma operação do tráfico, vivendo um policial que quer desmantelar um esquema.
Ele conta que há pouca diferença entre um set de filmagem de TV aberta e de uma produção internacional do streaming -“Operação Maré Negra” é espanhola-, sendo a maior exceção o tempo de envolvimento com cada um deles, já que os folhetins passam da centena de episódios.
Para ele, a ascensão do streaming não é uma ameaça à televisão tradicional, como muitos acreditam, e se adaptar é a palavra-chave para que ambos continuem coexistindo. A indústria se beneficia dessa disputa por audiência, diz Gagliasso, que “sem sombra de dúvidas” retornaria para a TV no futuro.
Ao seu lado, o narcotraficante vivido pelo ator em “Operação Maré Negra” tem o personagem de Leandro Firmino, o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”, que vive um capanga capaz de exemplificar a fala de Gagliasso sobre os personagens terem mais nuances nas séries.
Apesar de estar envolvido com o tráfico e com gente muito perigosa, o personagem é também uma vítima, diz Firmino, já que é empurrado para aquela situação por uma variedade de fatores. Quando é “convidado” a entrar no submarino para participar da travessia2, ele não tem muito poder de escolha.
Lugar-comum para os latino-americanos nas telas, o tráfico de drogas que faz “Operação Maré Negra” girar suscitou dúvidas em Firmino quando o papel apareceu. Ele conta que teve cautela antes de aceitar, para ter certeza de que não reforçaria estereótipos.
“Eu fiquei um pouco preocupado, mas minha agente conversou com os produtores antes e viu que eu não ia cair num estereótipo, principalmente pela repetição do que eu já fiz antes, em ‘Cidade de Deus’ ou ‘Impuros'”, diz ele sobre as tramas sobre criminalidade nas quais esteve.
“O meu personagem é uma espécie de mecânico, ele entende como o submarino funciona, se der ruim ele sabe o que fazer. No fim é ele quem vai segurar a onda dos outros personagens, que estão quase se matando, dentro daquele submarino. Ele é um cara que faz isso pela família, não para enriquecer”, afirma, contrapondo o rapaz ao tio europeu que põe Nando no esquema de drogas. “Já meu personagem é um escroto”, dispara Gagliasso.
Em meio a tanto investimento em séries de língua espanhola no universo do streaming, a dupla de atores acredita que “Operação Maré Negra” tem potencial para se destacar justamente por sua pluralidade, algo com que Firmino e Gagliasso se divertiram durante as gravações.
“Você tinha dois atores brasileiros, um colombiano, um galego, dois portugueses, um espanhol… Eu estou muito curioso para ver o resultado dessa mescla”, diz Firmino. “Isso é uma tendência, a coisa está cada vez mais globalizada e eu me diverti horrores fazendo a série”, completa Gagliasso.
*
OPERAÇÃO MARÉ NEGRA
Quando Estreia nesta sexta (25), no Amazon Prime Video
Elenco Álex González, Bruno Gagliasso e Leandro Firmino
Produção Espanha, 2022
Criação Patxi Amezcua e Natxo López