SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Começou a guerra”. Brasileiros que vivem na Ucrânia acordaram na manhã desta quinta-feira (24) com mensagens como essa, barulhos de explosões e sirenes de alarme de bombardeio.
Apesar da escalada de tensões entre os governos da Rússia e da Ucrânia nos últimos dias, os ataques pegaram a maioria deles de surpresa, especialmente quem vive em Kiev e nos arredores, a centenas de quilômetros da fronteira e das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk.
É o caso da publicitária paraense Cristiane Barros Nedashkovskaya, 30, que mora em Bila Tserkva, na região metropolitana de Kiev, uma das cidades atingidas pelos ataques aéreos.
“Acordei às 5h com o barulho da explosão, a sirene de alarme tocando por causa do choque. Depois ouvi mais explosões, drones sobrevoando. Liguei para amigos brasileiros que moram aqui para avisar. Foi um desespero, um momento bem tenso”, relata.
Casada com um ucraniano e vivendo no país há um ano e meio, Cristiane colocou um casaco por cima do pijama e foi tentar abastecer o carro para poder viajar para a fronteira com a Romênia com a sogra, a cunhada e o sobrinho de 1 ano.
O sogro de 58 anos não poderá ir, pois homens ucranianos com idade entre 18 e 65 anos estão proibidos de deixar o país, para que possam ser convocados pelo Exército. O marido dela está a trabalho em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e por isso está a salvo.
Cristiane passou horas na fila do posto de combustível. Enquanto esperava, viu sete tanques passando ao seu lado. Quando chegou sua vez de abastecer, o cartão de crédito estava bloqueado.
“Teve muitos ataques cibernéticos, os sites e sistemas bancários caíram. A sorte é que eu já estava guardando dólar em casa, consegui trocar, abastecer e comprar suprimentos para colocar no carro”, conta.
As saídas da cidade estão congestionadas de carros tentando deixar o local. A família deve pegar a estrada assim que amanhecer o dia. “Vai ser uma noite difícil porque a gente não vai conseguir pregar o olho.”
A poucos quilômetros dali, em Kiev, o artista 3D Walther Lang, 47, foi acordado pela mensagem da esposa ucraniana, que está em viagem para outra cidade, avisando: “Começou a guerra”.
Ele foi então ao supermercado comprar comida. “Já tinha fila, um segurança administrando o fluxo das pessoas. Não tinha limite de compra, mas só dava para entrar quando saía alguém”, conta. “Houve também uma certa corrida aos bancos para sacar dinheiro, porque não se sabe se o sistema bancário vai funcionar, os cartões.”
Enquanto falava com a reportagem, Walther se preparava para ir a um abrigo antibombas a 200 metros de sua casa. A prefeitura divulgou um mapa, com opções de garagens e outras passagens subterrâneas.
“Eles nos recomendaram sair dos prédios ou pelo menos ficar no andar térreo, evitar ficar perto das janelas, pois podem voar destroços, e de qualquer coisa inflamável”, afirma.
Segundo ele, o clima na capital ucraniana era de certa normalidade, ao menos na parte da manhã, mas ele avalia ir para a Polônia por terra e depois pegar um voo para o Brasil. “Pode ser que daqui a dois minutos mude tudo, que cheguem tropas ou que a coisa amenize. O Exército ucraniano diz que já abateu helicópteros, mas na Rússia estão dizendo a mesma coisa. É uma guerra de informação, todos os lados dizem que estão ganhando.”