SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), que acertou com o ex-presidente Lula (PT) a composição como candidato a vice-presidente em sua chapa, busca blindar seu acordo do imbróglio na relação entre PT e PSB, seu provável partido.
Como mostrou a Folha, o acerto entre os partidos desandou, e a federação se tornou uma dúvida embora o apoio do PSB à eleição de Lula esteja garantido até agora.
Considerando que a aliança nacional está preservada em qualquer cenário, petistas e aliados de Alckmin ainda mantêm a aposta de que o ex-governador se filiará ao PSB.
Alckmin tem dito que escolherá seu partido em março, mês em que ele e Lula pretendem anunciar publicamente a chapa. O ex-governador também tem como opções o PV, o Solidariedade e o PSD.
No centro da contenda entre PT e PSB está a eleição em São Paulo, em que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) pretendem concorrer.
De acordo com aliados de Alckmin ouvidos pela Folha, a chapa com Lula está mais do que acertada. O petista já deu entrevistas confirmando sua escolha, e o ex-governador o elogiou em reunião com sindicalistas na quinta-feira (17).
A única pendência é a filiação de Alckmin. Interlocutores do ex-governador afirmam que ele tende ao PSB, partido que abriga aliados dele e que tem estrutura e porte para gestar um eventual vice-presidente da República.
Petistas e pessebistas o veem desvinculado do dilema da federação. De acordo com esses políticos, a aliança do ex-governador e de Lula independe da aliança formal de quatro anos e pode se dar com Alckmin em qualquer partido.
“A gente concorda com a indicação de Alckmin [para a vice] esteja ele onde estiver. Em relação à federação, vamos tentar até o fim encontrar uma solução”, afirma França à Folha.
Outros nomes próximos do ex-governador afirmam que, a seu tempo, a federação deve, sim, sair do papel.
O ex-governador estaria inclusive recomendando que aliados se filiem ao PSB. Críticos de seu posicionamento pró-Lula, tucanos do time de Alckmin afirmam que a grande maioria do seu grupo político não deve segui-lo e que sua imagem pública foi maculada pela mudança abrupta de lado.
Na eventualidade de um desentendimento total entre PT e PSB, algo que hoje soa improvável para os políticos envolvidos nas negociações, Alckmin traçou sua rota de fuga via PV ou Solidariedade, partidos menores, mas que já deram a certeza do apoio ao PT.
Na semana passada, em encontro com o presidente do PV, José Luiz Penna, Alckmin voltou a externar sua simpatia pela sigla. Segundo Penna, o ex-governador é um amigo do partido, mas não deu sinais de qual vai ser sua escolha.
“É um absurdo as pessoas não compreenderem a grandeza do gesto de Alckmin. É uma pessoa que tinha uma condição confortável para voltar ao Governo de São Paulo, mas abre mão porque tem a visão da necessidade de uma união nacional para corrigir o roteiro macabro de Bolsonaro”, diz o dirigente.
A hipótese de filiação ao PSD, incentivada por petistas que querem amarrar o apoio do partido logo no primeiro turno, não é descartada, mas é considerada bastante improvável. Justamente porque o presidente da sigla, Gilberto Kassab, resiste a embarcar na candidatura de Lula no próximo mês e planeja fazê-lo somente no segundo turno.
Kassab, que chegou a admitir uma aliança com Lula no primeiro turno, segue demonstrando que prefere um candidato próprio ao Planalto busca filiar o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), já que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve recusar a candidatura.
A estratégia de Kassab é manter-se neutro na polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar garantir a eleição de uma bancada expressiva no Congresso Nacional. Já o PT, como mostrou a coluna Mônica Bergamo, ampliou a oferta ao partido e insiste no apoio, o que poderia ter a filiação de Alckmin como peça-chave.
Contra essa configuração pesa o ruído na relação entre Alckmin e Kassab depois que o ex-governador declinou o convite da sigla para concorrer novamente ao Governo de São Paulo e preferiu se lançar na disputa nacional como vice.
Aliados de Alckmin afirmam que ele espera a tormenta entre PSB e PT se dissipar para anunciar sua filiação. O ex-governador demonstrou preocupação com a discórdia diante da escolha entre Haddad e França.
Na reunião com Penna, na segunda-feira (14), Alckmin pediu ajuda para tentar resolver a situação.
“Ele acha que a grande missão da gente, o que ele deixou explícito, é que devemos trabalhar para aproximar o Márcio [França] do [Fernando] Haddad. É como se fosse a missão dele. Pediu a nossa ajuda”, disse Penna ao Painel, acrescentando que Alckmin não demonstrou preferência por um ou outro.
Alckmin esteve com Lula em um jantar na casa de Haddad no último dia 11 França não participou. O ex-governador encontrou o líder do PSB dois dias depois, no domingo (13).
O ex-tucano já se comprometeu a ajudar Haddad na campanha em São Paulo. Se a federação não vingar, Haddad e França podem se tornar adversários nas urnas, cenário já cogitado por ambas as campanhas. Nesse caso, Lula e Alckmin apoiariam o ex-prefeito, enquanto Alckmin também apoiaria França, que foi seu vice.
De toda forma, interlocutores de Alckmin e de França afirmam que, para evitar a situação delicada de um palanque duplo, os pré-candidatos ainda mantêm a esperança de uma unidade cada vez mais complicada diante da irritação de petistas com as condições impostas pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira.
O que França propõe é que as pesquisas indiquem quem deve ser candidato, mas falta definir qual sondagem e em que momento. Até agora, Haddad está à frente nos levantamentos.