São Paulo – O processo natural do envelhecimento acarreta uma série de alterações no organismo que incluem a necessidade de ingestão de mais nutrientes para a manutenção da boa saúde. Porém, a redução do apetite, digestão mais lenta, disfagia, que provoca dificuldades para engolir, e problemas dentários, entre outras consequências da idade, impactam o consumo alimentar e, consequentemente, de substâncias importantes, como proteínas, carboidratos, vitaminas, minerais e até de calorias. Por isso, para evitar a perda de peso e de massa muscular, muitas vezes, a suplementação é indicada por médicos e nutricionistas.
Mas não é todo idoso que vai precisar. A indicação suplementar por meio de produtos industrializados ou receitas caseiras é realizada quando o consumo é menor que 70% das recomendações diárias via alimentação.
Outra indicação de suplementação é quando ocorre a perda de peso, em torno de 10% nos últimos seis meses, sem alterações de hábitos de vida, como dieta ou atividade física. Quando a perda é de 5% do peso total em três meses também é feita a indicação, diz Simone Fiebrantz Pinto, presidente do departamento de gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
FATORES
Para a prescrição do melhor suplemento é necessário que se faça uma avaliação. De acordo com Vanessa Vieira Lourenço Costa, nutricionista, professora da Faculdade de Nutrição da UFPA (Universidade Federal do Pará), são considerados fatores que influenciam a desnutrição como:
1 – Alterações secundárias ao envelhecimento: deficiência visual, de olfato e do paladar, redução de dentes, diminuição da secreção gástrica, imunodeficiência, dificuldade de ingestão, sequela de doenças neurológicas, anorexia do idoso, deficiência vitamínica e/ou de microelementos e alterações hormonais.
2 – Questões socioeconômicas: menor renda, solidão, isolamento.
3 – Doenças associadas: infecções, osteoporose, insuficiências cardíaca e renal, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, má absorção intestinal de nutrientes.
4 – Interações medicamentosas: devido a drogas que alteram o apetite, a digestão, o metabolismo, a utilização e a excreção de nutrientes e alterações no padrão alimentar.
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INGESTA PROTEICA
Ao se constatar alguma deficiência, é orientado o uso de suprimentos nutricionais. “De uma maneira geral, os idosos apresentam uma deficiência, principalmente na ingesta proteica, relacionada às carnes bovina, suína, de aves ou peixes”, esclarece Nelson Iucif Junior, responsável pelo departamento de geriatria da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Para se ter uma ideia, os adultos necessitam, em média, consumir de 0,8 a 1 g de proteína por quilo de peso. “Já para as pessoas acima de 60 anos, a recomendação é de 1,2 a 1,5 g/kg para melhorar a imunidade e a manutenção da massa muscular”, explica Pinto.
Assim, verifica-se, inicialmente, se o consumo está adequado, já que são fundamentais para a formação da massa muscular. “Se for constatada a falta de outras substâncias, é preciso acrescentar nutrientes, para evitar uma série de problemas, entre eles a baixa imunidade que pode levar a uma condição mais delicada. As deficiências podem ser corrigidas com alimentação e suplementação. Feito o ajuste, após um período, verifica-se como estão os índices para manter a ou não -caso a alimentação estiver de acordo”, orienta Iucif Junior.
MODO DE USAR
Existe uma variedade de marcas e composições, incluindo versões com e sem sabor. Essas segundas facilitam a adição a comidas e outros preparos.
Assim como a indicação correta, seguir as instruções é fundamental, pois o uso inadequado não traz o resultado esperado. “Em muitos casos, o produto pronto para consumo é a melhor solução, evitando desperdício econômico”, afirma Simone Fiebrantz Pinto, da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
Deve-se, ainda, prestar atenção na hora do consumo para não atrapalhar a refeição seguinte, por isso, a orientação de um nutricionista é importante para estabelecer a dosagem e o horário.
REGULAMENTAÇÃO
De acordo com a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), os suplementos alimentares não são medicamentos e, por isso, não servem para tratar, prevenir ou curar doenças. Eles são destinados a pessoas saudáveis e a finalidade é fornecer nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos em complemento à alimentação.
Essa categoria foi criada em 2018 para garantir o acesso a produtos seguros e de qualidade e nela foram reunidos alimentos para atletas, gestantes, suplementos vitamínicos e minerais. No site da Anvisa, é possível consultar as informações sobre a instrução normativa IN nº 76/2020 que dispõe sobre a atualização das listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
“Os suplementos comercializados em farmácias para o público idoso estão dentro da legislação e, para aqueles que não estão, existe um prazo legal para ajuste. Os alimentares podem ser prescritos por médicos e nutricionistas. E alguns também por biomédicos. Quando a dosagem ultrapassa 100% das necessidades diárias, ele deixa de ser suplemento e passa a ser dose medicamentosa”, orienta a presidente do departamento de gerontologia da SBGG. Neste caso, a prescrição deve ser feita por um médico.
RECEITAS CASEIRAS
É possível elaborar a complementação nutricional de forma artesanal para ser adicionada no momento do cozimento das refeições, aumentando, por exemplo, o suporte de proteína.
Simone Fiebrantz Pinto, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, sugere o preparo caseiro de receitas como caldo de carne em cubos. Cozinha-se uma quantidade de carne, que pode ser acém, músculo, coxão mole, com temperos e faz-se um caldo suculento. Processa-se o cozido que pode ser acondicionado em formas de gelo para ser congelado e adicionado durante a cocção de feijão ou outros pratos, aumentando-se assim a quantidade de proteína na refeição.
É possível preparar concentrados, também, de fontes de proteína vegetal, como ervilha e grão-de-bico.
Outra alternativa é adicionar leite em pó em iogurtes ou em vitaminas. Basta diluir uma quantidade dobrada do item em pó para apenas uma porção líquida. Assim, eleva-se o valor nutricional para duas porções, sendo que a ingestão corresponde a apenas uma. Com isso, aumenta-se a ingestão nutricional, em quantidades que consigam ingerir.
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ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
A alimentação saudável é fundamental para a pessoa idosa, e deve ser baseada em ingredientes in natura e minimamente processados, evitando os ultraprocessados, segundo Vanessa Vieira Lourenço Costa, nutricionista, professora da Faculdade de Nutrição da UFPA (Universidade Federal do Pará). Ela elenca alguns atributos básicos para obter uma alimentação saudável:
1- Acessibilidade física e financeira: prefira frutas e os vegetais in natura e produzidos regionalmente
2 – Sabor: utilize menos produtos refinados, explore a criatividade e use
3 – Variedade: a ingestão de vários tipos de alimentos fornece diferentes nutrientes e evita a monotonia na dieta
4 – Cor: quanto mais colorido for o prato, mais rico é em vitaminas e minerais, além de tornar a refeição mais atrativa
5 – Harmonia: preste atenção na quantidade e na qualidade dos alimentos consumidos para o alcance de uma nutrição adequada.
6 – Segurança sanitária: os alimentos devem ser seguros para o consumo, ou seja, não devem apresentar contaminantes de natureza biológica, física ou química, que comprometam a saúde do indivíduo ou da população, por isso, o cuidado no consumo fora de casa deve ser redobrado.
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