BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – São Paulo tem, pelo menos, 180 mil árvores em falta, que deveriam ter sido plantadas nos últimos dez anos mas não foram. A situação se agravou nos últimos seis meses, período em que a Prefeitura Municipal não realizou nenhum plantio na cidade.
O serviço, que é feito por uma empresa contratada por meio de licitação, está suspenso desde o fim do contrato anterior, em julho de 2021.
Com a interrupção, o número de árvores plantadas na capital paulista em 2021 foi o menor desde 2016. Além das que deixaram de ser plantadas, muitas árvores foram retiradas e não receberam a substituição prevista em lei. Os dados são da Divisão de Arborização Urbana (DAU), dos Planos de Metas das duas últimas gestões e do Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU)
Mesmo no período em que o contrato ainda estava ativo, as metas definidas pelo PMAU para o número de árvores plantadas anualmente nunca foram totalmente atingidas. O instrumento foi elaborado entre 2019 e 2020 como parte do esforço da cidade para atingir as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Os números estão mais distantes ainda do estabelecido no Plano de Metas 2021-2024, elaborado pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), que prevê o plantio de 45 mil árvores por ano.
O objetivo é alcançar 50% de cobertura vegetal na cidade. O índice atualmente é de 48,2%.
Além da cobertura em si, outro problema é a distribuição desigual da vegetação pela cidade. A subprefeitura de Parelheiros, por exemplo, é a segunda maior da cidade e tem mais de 60% de sua área é coberta por mata atlântica. Essa taxa cai a 3,2% em bairros como o Brás, na zona leste, zona com menor cobertura árborea da capital.
O professor da USP Marcos Buckeridge, especialista em arborização urbana, explica como essa desigualdade de distribuição da vegetação é um dos fatores que compõem a grande desigualdade social na capital paulista.
Áreas mais arborizadas têm melhor qualidade do ar, temperaturas mais equilibradas, maior umidade e menos enchentes, além de serem mais agradáveis visualmente.
“Nós [cientistas] não sabemos se existe uma relação de causa e efeito ou não, mas existe maior arborização onde o índice de desenvolvimento humano (IDH) é maior. Nos locais de maior IDH e maior arborização, os habitantes chegam a viver 20 anos a mais em comparação com aqueles que vivem em regiões de baixo IDH e baixa arborização. Ainda que não seja uma relação direta, a árvore é um dos fatores que se correlaciona com as desigualdades que temos na cidade de São Paulo.”, explica Buckeridge.
O professor ressalta que a temática das árvores urbanas está em alta no meio científico de todo o mundo, e que todos os lugares enfrentam desafios, especialmente as grandes cidades. Isso porque o custo é alto para cuidar de um plantel enorme como o de São Paulo, que tem cerca de 650 mil árvores.
Entretanto, apesar dos custos, Buckeridge explica que esse investimento deve ser feito, tendo em vista que, com as mudanças climáticas globais, haverá aumento da temperatura.
Tanto o professor como a prefeitura, por meio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), afirmam que a gestão atual tem dado importância para o tema, com a criação de um comitê formado por cientistas para definir planos responsáveis de arborização para a capital.
Até o ano passado, a empresa responsável pelo manejo e plantio das árvores da capital recebia mais de R$ 7 milhões anualmente por esse serviço.
A SVMA afirma que o novo contrato está em fase final de licitação, aguardando julgamento de recurso para liberação de pregão eletrônico. A secretaria não informou uma previsão de quando os serviços devem retornar à normalidade.