SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vazamento de dados de mais de 18 mil contas de um dos maiores bancos privados do mundo, o Credit Suisse, expôs a riqueza oculta de clientes envolvidos em tortura, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção e outros crimes ao redor do mundo. Um consórcio internacional de imprensa, que inclui jornais como o britânico The Guardian e o americano The New York Times, revelou o caso neste domingo (20).
Os dados foram fornecidos inicialmente ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung por um denunciante anônimo, que declarou considerar as leis suíças de sigilo bancário “imorais”. Em um comunicado, ele afirmou que, sob “o pretexto de proteger a privacidade financeira”, essas instituições se tornam “colaboradoras de sonegadores de impostos”.
O conteúdo do vazamento, que abrange contas abertas dos anos 1940 até os 2010, foi compartilhado pelo veículo alemão com a organização sem fins lucrativos Organized Crime and Corruption Reporting Project e 46 outros publicações no mundo. O vazamento foi batizado pelo consórcio de “Suisse Secrets”.
Segundo as reportagens, entre os clientes do banco estavam executivos que saquearam a estatal petrolífera da Venezuela, os dois filhos do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak, o rei Abdullah 2º da Jordânia, um traficante de pessoas nas Filipinas, um diretor da Bolsa de Valores de Hong Kong preso por suborno, um bilionário que ordenou o assassinato de sua namorada libanesa pop star, além de políticos corruptos do Egito à Ucrânia.
As 18 mil contas somadas continham mais de US$ 100 bilhões.
Os bancos suíços estão proibidos legalmente de receber dinheiro ligado a atividades criminosas, mas o vazamento sugere que o Credit Suisse não cumpriu “as repetidas promessas feitas ao longo de décadas de eliminar clientes duvidosos e fundos ilícitos”, nas palavras do Guardian.
Segundo o New York Times, o banco aceitou como clientes pessoas com reputação reconhecidamente problemática, que deveriam ter sido submetidas a uma avaliação de risco.
Procurado pelos meios de comunicação do consórcio, o Credit Suisse afirmou que as reportagens trazem “informações seletivas tiradas de contexto, resultando em interpretações tendenciosas dos negócios do banco”, e que as rígidas leis de sigilo bancário da Suíça impedem a empresa de comentar reclamações relacionadas a clientes individuais.
O banco também disse que as alegações são em grande parte antigas, mas o consórcio afirma que mais de dois terços foram abertas depois do ano 2000, muitas delas ainda estavam abertas até a última década e uma parte opera até hoje.
O Credit Suisse tem estado no centro de grandes escândalos recentemente. No mês passado, seu presidente, o português António Horta-Osório, pediu demissão por ter violado as restrições da pandemia de Covid-19 mais de uma vez, inclusive em uma viagem a Londres, no ano passado, para assistir às finais de tênis em Wimbledon.
Neste mês de fevereiro, o Credit Suisse tornou-se o primeiro grande banco na história da Suíça a enfrentar acusações criminais relacionadas à alegação de que ajudou a lavar dinheiro do comércio de cocaína em nome da máfia búlgara.
Para o Guardian, as repercussões do vazamento podem ir além do banco em si, tornando-se uma crise para a Suíça, que tem uma das leis bancárias mais secretas do mundo.