SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A filiação do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) ao PSD para concorrer à Presidência da República é tida como certa entre tucanos, que não escondem sua decepção, e entre membros do partido de Gilberto Kassab, onde o clima é de entusiasmo.
A expectativa é a de que o anúncio possa ser feito nas próximas semanas. Kassab e Leite estiveram reunidos na segunda-feira (14), em São Paulo, quando o dirigente fez a proposta.
Aliados do governador no PSDB lamentam a saída de Leite, veem prejuízo para sua carreira política e se queixam de não terem sido ouvidos no que consideram um movimento brusco do gaúcho. Procurada pela reportagem, a assessoria de Leite informou que o governador não vai comentar.
O avanço de Leite no PSD ainda depende do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a quem Kassab convidou para ser presidenciável pelo partido e que ainda não respondeu se topa ou não a empreitada.
Entre políticos já está claro que Pacheco vai declinar e, por isso mesmo, o plano B já foi engatilhado com Leite. O senador não se engajou em sua campanha até agora.
Aliados do presidente do Senado dizem não haver pressa para desistir e abrir caminho para Leite –a janela partidária vai de 3 de março a 1º de abril.
Kassab já afirmou que o tucano se encaixa no perfil de candidato a presidente. “Ele tem condições, tem pré-requisitos para ser candidato, é jovem, é respeitado, já mostrou que tem vontade de ser presidente da República”, afirmou.
“Já mostrou que tem aliança com o PSD em seu estado, no Rio Grande do Sul. Também atende a uma expectativa do nosso partido de que o nosso presidente tenha independência em relação a esse governo”, completou Kassab.
Tucanos afirmam que, desde o encontro com o presidente do PSD, Leite não conversou com seus aliados no PSDB para receber conselhos ou dar satisfação, o que gerou incômodo na ala que o apoiou nas prévias contra o governador paulista, João Doria (PSDB), vencedor da disputa interna.
Parte dos tucanos pró-Leite relata decepção com o que consideram um gesto de imaturidade do governador de 36 anos, que tem como ativos políticos justamente a juventude e a novidade.
O caminho natural, dizem esses aliados, seria concorrer à reeleição no Rio Grande do Sul e ser aclamado presidenciável do PSDB em 2026.
Mas há quem concorde com Leite no sentido de que pode não haver outra oportunidade para uma campanha ao Planalto e de que o gaúcho pode ter chances num cenário de terceira via fragmentada e estagnada nas pesquisas.
A cobrança é para que Leite não abandone seu grupo do PSDB, que poderia até ajudá-lo em eventual campanha no PSD.
Ainda na avaliação de alguns tucanos próximos ao governador, porém, ele perde politicamente ao quebrar sua palavra -Leite se comprometeu a não deixar o PSDB se perdesse as prévias e sempre ressaltou sua trajetória num único partido desde os 16 anos.
Nos bastidores, a conversa é a de que Leite não poderia mais acusar Doria de traidor depois de se aliar ao PSD. Dando as costas para o PSDB e com a confiança abalada no mundo político, Leite teria dificuldade de atrair partidos aliados e poderia fazer uma campanha isolado, segundo dirigentes do partido.
Atualmente, MDB, União Brasil e PSDB têm um acordo para selarem uma candidatura única ao Planalto.
Como mostrou a Folha, Doria indicou ter disposição de submeter sua candidatura à vontade de uma eventual federação entre esses partidos -que hoje tendem mais para a senadora Simone Tebet (MDB-MS) do que para o tucano.
Há ainda na equação uma desconfiança dos demais dirigentes de legendas da terceira via com Kassab. Na visão deles, o presidente do PSD, que deve apoiar Lula (PT) no segundo turno e até admitiu fazê-lo já no primeiro, está articulando a favor do petista ao fragmentar a terceira via.
Na prática, Leite, assim como fez Pacheco, seria um candidato tampão para que Kassab possa negociar com o PT. Membros do PSD, contudo, enxergam na candidatura própria a melhor estratégia para ampliar a bancada de deputados federais.
Além disso, o partido montou palanques nos estados para dar sustentação à campanha presidencial -com Alexandre Kalil em Minas Gerais e Felipe Santa Cruz no Rio de Janeiro.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, reagiu ao encontro de Leite e Kassab, tuitando que o gaúcho deve aos tucanos sua entrada na cena pública nacional.
O governador “foi alçado à política nacional por um importante investimento de confiança e prestigio de diversos líderes nacionais do PSDB nas prévias”, disse.
“O eleitor gaúcho sempre exigiu muita firmeza de posições de seus líderes e Eduardo é firme. Não vai dar margens para o seu eleitor ficar em dúvida dessas posições com as informações desencontradas que circulam. Nem sempre a grama do vizinho é a mais verde”, completou no post de terça (15).
Twitter Bruno Arajo https://twitter.com/BrunoAraujo456/status/1493671757525438465 *** Hoje a cúpula do PSDB admite que Leite está de saída. Nas últimas semanas, ele vinha dando sinais trocados a respeito de seu futuro na política.
No último dia 8, participou de um jantar com tucanos que o apoiaram nas prévias para discutir caminhos para o partido diante da alta rejeição de Doria.
Ali os presentes cogitaram meios de derrubar a candidatura do paulista, substituí-la pela de Leite ou até mesmo apoiar um nome de fora, como Tebet. A avaliação geral foi a de que ninguém deveria deixar o PSDB.
No último sábado (12), Leite participou de um grande evento do PSDB no Rio Grande do Sul, com a presença do presidente Araújo, e admitiu concorrer à reeleição no estado, embora tenha feito promessa de que governaria apenas quatro anos.
“Vocês sabem a minha convicção sobre a reeleição. […] Mas eu também tenho a convicção de que nós não podemos permitir que o estado se perca”, disse Leite no evento.
“Eu quero agradecer muito a mensagens que me são dirigidas sobre ficar, sobre não parar, sobre ir adiante. Eu quero dizer para vocês que não precisam pedir para eu ficar, porque eu jamais sairei. Não precisam me pedir para não parar, porque eu não vou parar”, declarou ainda.
Leite filiou seu vice, Ranolfo Vieira Júnior, ao PSDB para concorrer ao Palácio Piratini, mas a candidatura é vista com desconfiança entre tucanos.
Por isso, para membros do PSDB, Leite deveria ignorar sua promessa, ceder aos apelos de reeleição e garantir que o partido mantenha o Rio Grande do Sul em vez de seguir para uma eleição nacional com o estado desorganizado politicamente.
Depois do vaivém, Leite indicou nesta semana querer participar da eleição nacional e disse ser demandado por políticos e outros partidos. Também deixou claro que não é candidato à reeleição.
“Eu não pretendo participar do processo para dispersar forças que possam ser alternativas a essa polarização que aí está. Mas, se houver um entendimento de um grupo representativo de que eu possa dar alguma contribuição, eu me sinto em condições de participar desse processo nacional”, afirmou Leite.
“Na questão local, eu mantenho minha posição crítica à reeleição. […] Não sinalizei que vá concorrer à reeleição, o que eu manifestei, no evento do PSDB, demandado pela nossa base e nossa militância, foi que nós não vamos deixar de liderar esse processo. Vou participar como agente político para que a gente consiga construir uma candidatura forte que mantenha esse projeto que está dando certo no Rio Grande do Sul. […] Vou trabalhar para que a gente possa alavancar uma outra candidatura”, completou.
Integrantes da campanha de Doria afirmam que Leite, se migrar para o PSD, segue o caminho da velha política e se guia pelo que consideram ganância de poder. Também duvidam de que o gaúcho tenha resultado expressivo nas urnas uma vez que perdeu a eleição interna tucana.
O próprio governador, porém, é alvo de resistência no PSDB. Tucanos cobram que ele melhore seus índices -Doria tem cerca de 4% nas pesquisas- e atribuem a ele o eventual fracasso do partido nas eleições, com debandada de deputados na janela e diminuição da bancada.
A federação com MDB e União Brasil tem poucas chances de prosperar, mas a coligação já está acertada -com Tebet como candidata favorita nas condições atuais.