SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pressões internacionais sobre as principais matérias básicas produzidas pelo Brasil empurravam para baixo no início da tarde desta quinta (17) as ações das empresas mais importantes para a Bolsa de Valores do país. O cenário se tornava ainda mais desfavorável para os negócios em meio às quedas nos principais mercados globais, situação potencializada pelo pessimismo de investidores quanto às tensões envolvendo Rússia e Ucrânia e também sobre a inflação nos Estados Unidos.
Às 12h45, o Ibovespa caía 1,15%, a 113.849 pontos. Desta forma, o índice de referência da Bolsa caminhava para interromper um ciclo de sete altas diárias consecutivas. O dólar subia 0,79%, a R$ 5,17. A moeda americana, porém, segue próxima das menores cotações desde o início do segundo semestre do ano passado.
A principal fonte de queda do mercado de ações brasileiro está no setor de commodities, conforme descreveu Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora, em seu boletim a investidores nesta quinta.
Após semanas de valorização neste início de 2022, os preços contratos de minério de ferro caíram rapidamente nos últimos dias. A China, principal consumidora dessa matéria-prima, decidiu apertar o controle sobre os valores.
“O governo chinês está investigando operações irregulares para evitar ajustes artificiais nos preços e, de alguma forma, quer limitar os ganhos com a especulação”, comentou a analista da Clear.
Guerra destaca que as ações de empresas do setor de mineração e siderurgia, que representam mais de 20% do volume de negociações do Ibovespa, tendem a responder à cotação do minério. A Vale caía mais de 3%.
Depois de ter superado a casa dos 115 mil pontos na véspera, a Bolsa brasileira naturalmente enfrentaria uma dificuldade técnica para seguir em alta nesta quinta, pois os ganhos recentes geram uma pressão pela venda. Investidores tendem a buscar a realização dos lucros obtidos recentemente, conforme explicou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.
No exterior, a continuidade da movimentação de tropas russas na fronteira da Ucrânia ampliava a tensão sobre um potencial conflito armado na Europa. A Rússia é uma das principais produtoras de petróleo e gás e o agravamento da crise poderia prejudicar a oferta e acelerar ainda mais a inflação global. “É uma combinação desafiadora para o Ibovespa”, afirmou Borsoi.
Apesar de rondar as maiores cotações em sete anos, o barril do petróleo Brent recuava 2,35%, a US$ 92,58 (R$ 477,93). Analistas atribuem a queda à possibilidade de que o Irã volte a ser aceito por potências ocidentais como fornecedor da commodity devido ao avanço nas negociações sobre o programa nuclear do país.
Para o Brasil, a queda do petróleo tem reflexo na desvalorização das ações da Petrobras, que recuavam mais de 1%.
No mercado americano, investidores iniciavam o dia reagindo à crise envolvendo a Ucrânia e avaliando a ata da reunião de janeiro do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sobre os próximos passos do aperto monetário para o controle da maior inflação em 40 anos.
Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíam 1,33%, 1,38% e 1,64%, nessa ordem.
A ata do Fed mostrou que os conselheiros concordam que, com a inflação ampliando seu impacto na economia e um mercado de trabalho aquecido, era hora de aumentar juros e diminuir compras de ativos no mercado financeiro.
Eles disseram, porém, que as decisões sejam tomadas conforme o cenário na ocasião de cada encontro do grupo. A reunião de janeiro foi primeira de oito previstas para este ano.
Apesar do mercado americano ainda estar em período de divulgação dos balanços empresariais do quarto trimestre de 2021, as atenções dos investidores estão completamente voltadas para a crise na Europa e para a alta dos juros, disse à Bloomberg o chefe global de ações da Federated Hermes, Geir Lode. “A flutuação dos mercados segue direcionada por esses dois temas: inflação e Rússia”, comentou.