SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As restrições para atendimento em salões de beleza terminaram há pelo menos seis meses, mas o setor ainda sofre os efeitos da interrupção nos serviços.
Agora, passado o momento mais crítico da pandemia e com a crise sanitária prestes a completar dois anos, os salões querem atrair de volta a clientela que se acostumou a ser atendida em casa.
Segundo levantamento do Sebrae com a ABSB (Associação Brasileira de Salões de Beleza), mais da metade dos estabelecimentos no Brasil dizem ter profissionais atendendo a domicílio de maneira autônoma, sem relação com o salão.
José Augusto Nascimento, presidente da associação, diz que a oferta desse tipo de serviço realizado em casa foi uma solução momentânea. “Nós sempre desaconselhamos, mas entendemos, porque era uma questão de sobrevivência. Agora estamos em outra fase e o recomendado é o atendimento supervisionado e no salão”, afirma.
Para a cabeleireira Natacha D’Alessandro, oferecer cortes e outros procedimentos na casa dos clientes e na própria residência começou como uma solução temporária que, diante do prolongamento da pandemia, acabou ficando definitiva.
Em 2020, quando os salões começaram a reabrir a partir de agosto, ela diz ter notado que muitos clientes ainda tinham medo de frequentar o espaço. Até o fim daquele ano, ela ainda dividiu o tempo entre atender no salão, com horários reduzidos, e na casa dos clientes.
“No começo de 2021, quando o salão fechou de novo, comecei a oferecer, para quem morava muito longe, de vir na minha casa, que aí não precisaria pagar o transporte. Comecei a atender aqui e, por fim, virou a melhor opção.”
A profissional diz que a decisão compensou financeiramente. “Eu gastava para comer e com condução e [atender em casa] me deu a possibilidade de atender menos pessoas também. No salão, eu precisava atender de 20 a 30 pessoas por dia para compensar. Em casa, eu ganho o mesmo atendendo de cinco a sete pessoas”, diz.
No levantamento do Sebrae com a associação, 60% dos empresários do setor de salões disseram ter reduzido suas equipes na comparação com 2019. O faturamento também caiu -20% relataram que a entrada de dinheiro em caixa foi 30% menor em dezembro de 2021 ante o pré-pandemia. Para 18%, foi 40% menor.
Essa migração para o atendimento domiciliar é também fruto do modelo de trabalho dos profissionais em salões, e pelos quais os empresários brigaram para tornar legal. Em outubro do ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) validou a lei “do salão parceiro”, como a norma ficou conhecida.
Na prática, a legislação permitiu a contratação de cabeleireiro, barbeiro, esteticista, manicure, pedicure, depilador e maquiador como pessoas jurídicas. Esses profissionais não têm, portanto, exclusividade com os estabelecimentos.
“Quem é registrado no salão é o pessoal da recepção e de suporte. Para esses, os salões tiveram auxílio do governo para o pagamento dos salários. Já os profissionais ficaram sem respaldo, mas os salões também não tinham como ajudar”, diz Nascimento, da associação dos salões.
Na avaliação da empresária Rosângela Barchetta, sócia da rede de salões Studio W, o atendimento domiciliar tende a perder força pelo apelo da experiência de estar no salão.
Ela compara o mercado de beleza profissional com o dos restaurantes. “O delivery, por melhor que seja o restaurante, nunca vai ser igual à experiência de estar no local, que foi todo pensado para aquela experiência”, diz.
Barchetta não se opõe ao atendimento em casa, mas defende que ele seja feito com a intermediação do salão. Isso, segundo ela, garante a segurança do profissional e do cliente.
“Temos um protocolo para isso. O profissional sai do salão com toalhas e equipamentos esterilizados e todos os cuidados que teria aqui. Nos salões, somos neuróticos com controle. Cobramos vacinação e limpamos tudo com produto hospitalar. Em casa, não há essa garantia.”
Para a empresária, apesar de os profissionais serem autônomos, o atendimento no salão ou por meio dele também dá ao consumidor mais garantias caso haja algum problema.
“Temos feito muita correção de cor no salão. Não adianta, em casa não se tem a mesma infraestrutura do salão, mesmo com o lavatório portátil. Se tem um erro com uma química, para quem você vai reclamar?”
Nascimento, da associação dos empresários, diz que além da queda no número de atendimentos e da migração de profissionais e clientes, os salões também perderam com a venda de produtos para cuidados em que casa, como xampus e máscaras de tratamento.
Ele calcula que, no pré-pandemia, de 20% a 30% do faturamento vinha dessas vendas. Nesse caso, a concorrência vem do ecommerce, que ganhou tração no Brasil a partir de 2020.
Desde o ano passado, conforme as restrições foram sendo retiradas, a associação dos salões vem recomendando que os estabelecimentos façam promoções e pacotes que aumentem a fidelização dos clientes, fazendo com que eles retornem ao estabelecimento com mais frequência.
Na semana passada, a associação lançou uma campanha para tentar estimular esse retorno com a cantora Claudia Leitte cantando em vídeos para a internet.
Patrocinada pela L’Oreal, que é dona também das marcas Redken e Kérastase, a campanha foi lançado sobre o bordão “Tô voltando para o salão” e está distribuindo 40 mil hidratações capilares gratuitas. A lista de salões participantes está no site www.tovoltandoprosalao.com.br.