ARTIGO – Brasília palco de vandalismo

Os bolsonaristas estão perdendo terreno, razão e importância, no palco da política brasileira. Esvaem-se diuturnamente sob sol e chuva às portas dos quartéis. Derretem como banha, enquanto clamam que os milicos deixem a legalidade constitucional e invadam o chão fétido do fascismo!

O que poderia vir a ser uma alternativa de poder nos próximos quatro anos, como manda o figurino democrático, resvala a olho nu para o campo terrorista da anormalidade e do crime. A baderna vista em Brasília nestes dias após a diplomação do presidente eleito por maioria de votos, expõe as vísceras podres de um movimento que de ordeiro, pacífico e legítimo nada possui!

O silêncio do mandatário em exercício, continua com uma eloquência ambígua, que escapa da objetividade do crime e é captado pelos golpistas a quilômetros de distância. De boca calada, falando em notas lidas, revestidas de imagens patéticas, geralmente em eventos militares, ele executa ispis letteris o que é produzido no gabinete do ódio. Aparentemente um script que funciona. Porém, tendo seus dias de caneta bic bem contados, esse homem flerta com o abismo facinoroso que veio aprofundando em quatro anos.

Há vida após 1 de janeiro de 2023! Em democracia ela sempre está em aberto. No autoritarismo não! A previsibilidade da limitação de direitos e da intolerância, faz com que regimes totalitários não comportem novidades. Não é o nosso caso! Portanto, o senhor presidente em exercício, presta um enorme desserviço à sua turma ao lhe negar um caminho democrático de oposição e quem sabe de confiança na sua pessoa! Alguém autofágico e destrutivo, que apostou tudo num golpe que o Brasil não comportaria e não aceitou!

Sabemos que o mundo vive um momento delicado de mudança de época e que neste ínterim, extremistas se apressam a tentar entrar no trem que visam descarrilar. Já mencionamos aqui várias vezes, que os golpes atuais se imiscuem em processos democráticos legítimos, com o objetivo simples de os subverterem.

Houve com isso, um encolhimento da democracia no mundo e, mesmo países como os EUA, em que aparentemente ela venceu, sabemos o que representa hoje um infeliz Partido Republicano que demora para acordar do pesadelo trumpista. Mais ainda! Os golpistas usam uma linguagem democrática, evocam direitos democráticos, acusam os adversários de fascistas, tudo na linha do Olavo de Carvalho, que costumava atribuir aos adversários uma tática que ele e seus seguidores absorveram como princípio de ação política! O Brasil demorou para perceber a arapuca e, como também já referi neste espaço, a direita decente se entusiasmou com esse discurso!

Às vésperas do novo governo legitimamente eleito, se esperava o que sempre tivemos ao longo destes 34 anos. Nem dois impeachments ou até a prisão de um ex-presidente, conseguiram abalar os pilares do nosso regime! Mas o Brasil mudou nos últimos anos. Infelizmente,  para pior! Nem me refiro à fome ou ao desemprego, duas chagas que se aprofundaram, mas ao Establishment democrático, corroído intencionalmente para dar lugar a pseudos outsiders políticos, que se mostraram mais profissionais dentro do métier da coisa pública, do que todos que criticavam! Bolsonaro, ao não condenar com veemência os arroubos golpistas de manifestantes antidemocráticos, arrisca-se a caminhar velozmente para o penhasco! Por sua vez, a leniência ou condescendência para com os atos que afrontam o Estado de Direito, poderá ter um preço impagável no futuro. O mesmo se diga de anistias combinadas em conchavos espúrios nos porões do poder central.

O espectro político brasileiro, não só necessita mas sobrevive de opções viáveis, dentro das quatro linhas da Constituição, usando expressão bem conhecida! Em alguns países, como na Alemanha, simpatizantes de nazismo ou extremistas que abominam a democracia, podem parar na cadeia! Um país que queira deixar no lixo da história episódios trágicos e perversos como os da Segunda Guerra, não poderia agir diferente. Mas o mundo todo deve se proteger de gente que tendo faltado às aulas, visa reproduzir momentos inglórios do passado!

 Manuel Joaquim R. dos Santos é padre na Arquidiocese de Londrina

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