O perigo da hipocrisia

Está na “moda” ultimamente jogar comida em obras de arte. Jogaram sopa de tomate num quadro de Van Gogh e purê de batata em um Monet. Houve outras manifestações assim em vários lugares do mundo. Os manifestantes de tais atos querem chamar atenção para as mudanças climáticas que estão assolando o planeta e trazendo miséria e fome em vários cantos do mundo. Realmente, isso é preocupante, as mudanças climáticas afetam a agricultura que poderá ficar prejudicada gerando, no futuro, guerras e muitos outros tipos de sofrimentos. Há um ponto a se considerar no que os ativistas estão querendo mostrar, mas…

Uma charge do cartunista Laerte no jornal A Folha de São Paulo mostra manifestantes prontos para jogar molho de tomate e macarrão na obra Os Retirantes de Cândido Portinari e atrás desses manifestantes havia uma família de retirantes, em carne e osso, que pede que os manifestantes joguem a comida neles, ao invés de na pintura, mostrando que essa comida seria mais bem aproveitada pelos retirantes reais do que pelo ato de vandalismo em si. Sim, porque se trata de vandalismo. Não podemos deixar de dar nomes aos bois.

Há um ditado antigo que diz que “de boas intenções o inferno está cheio”. Não basta haver somente boas intenções para realizar algo. Muitas coisas começam com as melhores intenções possíveis, mas se desvirtuam se tornando algo bem diferente. Fica muito mais a serviço do causar barulho, criar escândalo, do que de algo realmente eficaz.

A palavra escândalo vem do grego que por sua vez vem do hebraico e significa algo como “pedra de tropeço”. Escandalizar seria o equivalente a tropeçar. Quem escandaliza, na verdade, tropeça e cai podendo nisso levar muita gente a tropeçar e cair junto. Enfim, é uma atitude danosa e prejudicial levando a muitos enganos e sofrimentos.

Muita gente bem-intencionada vem tropeçando feio por aí e não está sendo eficiente no que quer afirmar. Infelizmente, a aparência, o ruído, conta muito mais que a verdade. Só olhar as redes sociais e notar que há pessoas falando coisas maravilhosas e inspiradoras, mas que ficam só nas palavras, nunca se tornam de fato um ato que gera transformações. Só gera barulho.

Geralmente quanto mais escandalosa for uma manifestação menos eficiente ela é e corre-se o risco de no meio do caminho virar um ato de violência banal como muitos outros por aí. Assim, aquilo que teve um início cheio de boas intenções e era promissor e importante torna-se somente uma ação selvagem e nociva.

É necessário, sim, mudar muita coisa nesse mundo e chamar atenção para mazelas gritantes que muitas vezes insistimos em não reconhecer. Fechar os olhos já não pode ser mais uma forma de lidarmos com tudo o que enfrentamos, mas precisamos criar meios de sermos eficientes no que queremos manifestar. Caso contrário corremos o risco de sermos apenas hipócritas. E de hipocrisia o mundo está cheio e não precisa de mais.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina 

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