Como costuma acontecer com continuações, “Avatar: O Caminho da Água” é menos original do que o primeiro. O que Fox e Disney oferecem desta vez, como garantia, é a assinatura de James Cameron. A primeira aventura foi não só muito pessoal, como parece ter sido embalada pelo prazer da experimentação.
Ainda assim, há algo de embaraçoso neste novo filme. Aqui, Jake Sullivan, que formou família em Pandora, vive com a família despreocupado, brincando de árvore em árvore, na plena harmonia com a natureza que Pandora oferece.
O problema que se apresenta é bem mais convencional – a Terra está nas últimas. E que melhor ideia podem ter os terráqueos militaristas, a não ser invadir um belo planeta para abrigar humanos? Quem comanda a expedição é o avatar gigantesco do coronel Miles Quaritch.
No pensamento antibélico parece se encontrar, desta vez, o essencial da contribuição de Cameron. Se não há exploração de novas fronteiras – tecnológicas, inclusive –, em todo caso se trata de afirmar o propósito pacifista da série.
O primeiro movimento do filme afirma o pensamento ecológico do primeiro “Avatar” – Pandora é um paraíso –, ao mesmo tempo em que condena o militarismo, em particular o americano. De passagem, o filme não deixa de dar umas cotoveladas no neoliberalismo e seu espírito meritocrata.
O filme nos carrega a esse novo reino, o da água. Jake, que é perseguido por Quaritch de maneira implacável, refugia-se com a família junto ao povo que vive em outra parte do planeta de Pandora. Os bons selvagens da tribo das águas terminarão, após alguma relutância, por aceitar a família Sully. Sugestões de miscigenação e antirracismo surgem com alguns flertes entre os jovens que superam suas diferenças.
Os pontos menos animadores dessa ficção parecem remeter à presença infantilizadora da Disney na produção. O primeiro a assinalar é a assimilação dos animais à cultura humana – no caso, a do povo de Pandora. Quase impossível se esquecer das tantas operações análogas de assimilação operadas pela Disney com sucesso.
O segundo e mais evidente aspecto bem característico da Disney é a ideologia familiar. Está certo que Jake queira proteger sua família, já que é o alvo preferencial de Quaritch e seus asseclas. O filme acena com a ideia de que pai é aquele que protege sua família. Que seja. Mas a família de um líder é seu povo, e Sully parece menos um herói do que um gatinho assustado, quando pede refúgio à tribo das águas. Soa postiço.
O segundo “Avatar” preserva, grosso modo, as ideias do filme de 2009 e, claro, se destaca em meio à fraca produção hollywoodiana atual. Perde, no entanto, o caráter original do primeiro filme, que supunha não só aspectos tecnológicos inéditos, como a criação de um mundo inteiramente novo e dotado de língua própria, inclusive.
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