Tri seria boa influência para ambas as sociedades, diz Ariel Palácios

Sou torcedor do Londrina Esporte Clube desde os 9 anos de idade, quando via da janela de nosso apartamento do edifício Alaska, na esquina da Pio XII e Pernambuco, a construção do estádio do Café (com os binóculos de meu avô).

|  Foto: Arquivo pessoal – Divulgação  

Somente torço para o LEC. Não vejo sentido em torcer para times de outras cidades. Da mesma forma, só torço pela seleção brasileira. Por nenhuma outra. Mas, atenção, não torço “contra” outras. Isto é, não perco tempo “secando” outras seleções.

Desde a saída do Brasil da Copa vejo o que há de divertido nos embates entre as seleções remanescentes. Exemplo: o frenético (e divertidíssimo) tempo adicional entre as seleções da Croácia e da Argentina, nas quais os jogadores corriam mais do que os coelhinhos da Duracell. Serei mais neutro do que a Suíça no rendez-vous da final deste domingo entre a França e a Argentina.

Lamento que o Marrocos não esteja na final, já que teria sido fascinante para bagunçar o coreto da FIFA e do próprio imaginário coletivos da imensa maioria dos torcedores do planeta. Teria sido interessante uma sacudida nos clichês futebolísticos. O futebol precisa disso a cada meio século. Já estava na hora.

Mas, o encontro entre as seleções dos platinos e dos gauleses será, sem dúvida, um embate interessantíssimo. O clima entre os torcedores argentinos – isto é, dos 75% da população, já que os 25% se declaram copafóbicos (tem sido a média desde a virada do século) – é de exultante alegria pela chegada (pela 6ª vez) da seleção à final.

Mas, desta vez existe um fator adicional: parte das pessoas torcem para que Messi seja vencedor. “Gostaria ver Messi vencer”, dizem muitos. Atenção para a nuance. Essas pessoas não dizem “gostaria de ver a seleção vencer”. Dizem “Messi”. Ok, alguns poderiam dizer que Messi é sinédoque de seleção, mas muitas estão focalizadas especificamente no jogador.

Messi não fala em terceira pessoa, não faz escândalos quando não aparece na topo de um ranking, e não aspirava ser líder até que lhe indicaram que desta vez precisava liderar (outros jogadores acham que são mini-Mussolinis do gramado, que devem ser reverenciados e obedecidos).

“La Pulga”, como é apelidado, tem ótima imagem mesmo entre pessoas que não são fanáticas pelo futebol. Ele tem 35 anos e poderia ser sua derradeira Copa. Seria útil para a sociedade argentina que a seleção ganhe neste domingo, pois isso exaltaria a figura de um cara legal como Messi, para deixar de lado a figura de um sujeito racista, homofóbico, espancador de mulheres e apoiador simultaneamente de ditaduras de direita e de esquerda como era Maradona.

Mas, também seria útil para a sociedade da França que a seleção francesa vença, já que é um time multiétnico, composto por filhos e netos de imigrantes, tantas vezes discriminados. O racismo, nestes tempos de florescimento dos primitivos nacionalismos e da extrema-direita na Europa, está crescendo. Por isso, para calar a boca dos racistas, também seria útil uma vitória dos imigrantes dos “bleus”.Em resumo: uma vitória será útil para qualquer das duas sociedades.

*O londrinense Ariel Palacios, que mora em Buenos Aires desde 1995, onde é correspondente de meios de comunicação brasileiros.

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