Solos: manejo, inovação e sustentabilidade

Recentemente, comemorando o Dia Mundial do Solo (05 de dezembro), circulou uma frase nas redes sociais dizendo “… a despeito de todas as nossas conquistas, nós devemos nossa existência a uns 15 centímetros de solo e ao fato de que chove…”

Fora da área rural, em nossa sociedade cada vez mais urbanizada, poucas pessoas se dão conta que nossas vidas dependem essencialmente do solo. E, nas áreas rurais, infelizmente ainda existem alguns que tratam mal esse ativo essencial à agricultura.

Por outro lado, podemos comemorar o fato de que o Brasil aplica cada vez mais as técnicas de plantio direto, uma inovação cuja introdução ocorreu no Paraná, na década de 1970, e vem sendo aperfeiçoada desde então.

A vantagem mais visível do plantio direto é a preservação desses “15 centímetros de solo” essenciais à nossa sobrevivência, mas a tecnologia, quando adequadamente aplicada, vai muito além disso.

O bom manejo do solo, associado ao plantio direto, recomenda outras técnicas tais como rotação de culturas, adubação verde, incorporação de matéria orgânica etc. Ou seja, preconiza o respeito à preservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, de forma a garantir sustentabilidade a longo prazo, sem exaurir os nutrientes naturalmente disponíveis.

Tendo em vista a ênfase que costumamos dar às “inovações de produto”, como agroquímicos e equipamentos mecânicos, muitas vezes esquecemos das “inovações de processo” como o plantio direto e rotações de culturas.

Neste caso, de “inovações de processo”, é importante destacar a relevância do papel das instituições públicas de pesquisa. Devido ao fato de que é muito difícil “proteger” em termos de patentes ou propriedade industrial, as “inovações de processo”, o interesse da iniciativa privada pelas mesmas é quase inexistente. Por outro lado, como dependem, para sua correta aplicação, da disseminação de conhecimento, torna-se necessário um bom investimento em difusão de tecnologia por parte do setor público e associações de produtores.

Ao mencionar essa necessidade de disseminação do conhecimento, não podemos nos esquecer que esse conhecimento tem de ser “produzido” e aprofundado. A definição e aperfeiçoamento das melhores técnicas de manejo de solos e a identificação de que plantas ou insumos biológicos devem ser incorporados, pressupõe um profundo conhecimento das características físicas, químicas e biológicas dos solos. E esse plural é essencial: a variabilidade dessas características é enorme pois depende em grande parte das condições ambientais específicas de cada região.

Em resumo, se pretendemos garantir a sobrevivência da humanidade com base nos “15 centímetros de solo” de que dispomos, especialmente nesta época de expectativa de mudanças climáticas, vamos ter de investir muito na produção de conhecimentos detalhados sobre o solo e suas interações com as plantas. E, aprofundando esse conhecimento, transformá-lo em inovações aplicáveis pelos agricultores.

Paulo Sendin, engenheiro agrônomo, membro da Governança AgroValley

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