Nós da Secretaria Municipal de Cultura acompanhamos com extrema apreensão o trâmite das emendas apresentadas ao Orçamento e que retiram da Cultura 2 milhões de reais, um golpe de morte à vida cultural de uma cidade que vibra com seus artistas, trabalhadores e trabalhadoras da cultura. Uma cidade que aprendeu a ver no trabalho de nossos realizadores a expressão de um povo original e admirado em todo o Brasil pela qualidade de suas criações e pelo seu modelo inovador de política cultural.
Em 2023, o nosso Programa Municipal de incentivo à Cultura (PROMIC) estará completando 20 anos de existência, e terá viabilizado até lá algo em torno de 2.000 projetos culturais que falam diretamente ao coração, à alma e à vida cotidiana de todos os londrinenses que se beneficiam direta e indiretamente dos fazeres culturais.
Nos últimos anos, vivemos na cultura um período extremamente duro – pois à fatalidade de uma pandemia que desorganizou todo o setor de shows e eventos somou-se o desmonte do Ministério da Cultura, em nível federal, e da Secretaria de Cultura do Paraná. O Ministério está sendo revivido, da mesma forma que a secretaria estadual. O Paraná deve receber em 2023 perto de 300 milhões de reais na área da cultura através das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Londrina poderá dobrar os investimentos em incentivo oriundos dos governos federal e estadual nos dois próximos anos.
Vivemos um momento de retomadas e o reaparelhamento de quadros e estrutura da secretaria é uma necessidade estratégica para fazer frente aos novos tempos. Por isso, as propostas de redução do Orçamento da Cultura causam perplexidade entre nós. Precisamos de mais, não de menos. Porque fazemos muito.
Lançado há dois anos pelo prefeito Marcelo Belinati, nosso programa Fabrica da Cultura já mobiliza mais de 50 projetos desenvolvidos em nada menos do que 49 pontos da cidade. Nossos fazedores e fazedoras de cultura estão nas escolas, nos centros de convivência, nas praças e ruas, nos salões paroquiais e nos centros de idosos, e também nas nossas 10 vilas culturais, além dos teatros, tablados, lonas, fundos de vales, feiras.
Nossos programas visam a cultura não como benesses a artistas (tratados injustamente como “marmanjos”) como se quer fazer crer. Nossos investimentos visam garantir à população um direito fundamental e constitucional: o acesso à cultura. São os recursos dos investimentos do PROMIC que irrigam esse vasto jardim sem aflições.
PROMIC é solidariedade – porque trabalha com crianças e idosos, mulheres e jovens, moradores de rua, mulheres e crianças em situação de violência. PROMIC é fé – porque atende todos os credos, todas as crenças. PROMIC é alegria, porque leva a brincadeira a todos os cantos da cidade com o circo. PROMIC é partilha e amor, porque leva o consolo às crianças nos hospitais. PROMIC é saúde física e mental, com os seus jogos de capoeira, suas rodas onde se aprende a luta, a dança, o canto e as histórias do povo. PROMIC é memória, PROMIC é trabalho e renda. PROMIC é uma escola que ensina dançar, escrever, atuar, pintar e bordar, ensina a viver. E forma formadores.
PROMIC é o grafite nos viadutos, são as batalhas de rima do hip hop, a dança de rua. PROMIC é cidade viva, com seus shows, peças, exposições, palestras, conferências. PROMIC é o FILO, o Festival de Música, O Londrix, O Festival de Dança, o Encontro de Contadores de História, o Festival da Kinoarte, o Festival de Circo e de Hip Hop. Londrina, Cidade dos Festivais.
É por isso que nos dirigimos aos nossos vereadores. Com humildade e senso de dever que todo o tempo nos desafiam a melhorar, a seguir em frente, a fazer cada vez mais para que a vida das pessoas melhore. A cultura carrega a tocha da liberdade, da coragem, do despojamento, da consciência social, da igualdade e do papel histórico da diversidade. Cultura é Nação. Cultura é Futuro. Estejam conosco, lutando por ela. Londrina merece.
Bernardo Pellegrini é jornalista, compositor e secretário de Cultura de Londrina