Silêncio no deserto

Para os amantes do jogo, acostumados a imensas alegrias e derrotas desmoralizantes, a sensação de perda proporcionada por uma eliminação da Copa do Mundo é algo incomparável. Uma digestão com duchas de ácido urrando nas entranhas. Fim do mundo? Quase.

Brazil’s forward #10 Neymar is consoled by teammates after they lost the Qatar 2022 World Cup quarter-final football match between Croatia and Brazil at Education City Stadium in Al-Rayyan, west of Doha, on December 9, 2022. (Photo by NELSON ALMEIDA / AFP) |  Foto: NELSON ALMEIDA/AFP 

Como Telê Santana, Tite deixa a Seleção após duas experiências fracassadas em Mundiais, sendo a última numa decisão por tiros livres contra um adversário da elite europeia.

Como estamos no Brasil, um país que se recusa a dividir responsabilidades por derrotas coletivas, o técnico da Seleção encerra seu ciclo de seis anos reprovado.

Todos os pequenos erros, todos os pecados banais e todos os parafusos mal apertados da estrutura colapsada se tornarão argumentos irrefutáveis da sua culpa, sua máxima culpa.

Se no calor de um revés tão doloroso é preciso dizer algumas coisas, a mais importante delas é que o treinador preparou bem a equipe para seu maior desafio. E que equipes bem preparadas por vezes também erram quando isso é absolutamente proibido.

Contra a Croácia, do espetacular goleiro Livakovic, o ataque brasileiro chutou 11 vezes na direção do gol, enquanto o sistema defensivo permitiu apenas um chute na direção de Alisson, exatamente o letal.

Após um primeiro tempo instável e preocupante, o Escrete foi dominante fisicamente sem a bola e com a bola passou a “amassar” o adversário. A questão não era se o Brasil faria o gol e sim quando o Brasil faria o gol. Isso aconteceu no fim do primeiro tempo da prorrogação, numa jogada solo de Neymar.

Os minutos seguintes foram de sonhos e planos para os pentacampeões. Neymar começava a escrever sua redenção, a defesa era inexpugnável, o coletivo, raçudo e solidário, Tite, maduro para nos conduzir ao hexa. Havia confiança, tamanha que nos levou ao ataque desnecessariamente.

E veio o castigo. Tudo ruiu numa trama fria e refinada, que saiu dos pés do admirável Modric, passando por Vlasic e Orsic, Petkovic arrematou com desespero, a bola resvalou em Marquinhos, zerando as chances de defesa do goleiro do Liverpool.

Um enorme jogo de futebol, em que ao acabar com placar igual após 120 minutos já havia um vencedor e um derrotado.

O desempate pelos pênaltis foi uma mera formalidade. Como não havia os superpoderes de Taffarel em ação, não havia milagres para acontecer. O time devastado por um gol já chorava por dentro no silêncio do deserto quando Marquinhos acertou a trave e cancelou o Natal do Hexa.

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