| Foto: Patricia Maria Alves – Editora
***UMA OCTOGENÁRIA SEMPRE PRONTA PARA SE TRANSFORMAR
Viver 88 anos e ser ainda uma menina. Londrina nunca ficará velha. É incrível como aquela vasta área de terra roxa praticamente inexplorada, no Norte do Paraná, encantou Lord Lovat e os outros membros da Missão Montagu, a ponto da empresa que eles representavam, a inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná, decidisse apostar em lançar um projeto imobiliário que deu vida à Londrina.
A jovem de 88 anos guarda muitas histórias e nada melhor que as pessoas que a conhecem bem as conte. Nesta edição especial de aniversário, a Folha de Londrina se inspirou na febre do álbum de figurinhas da Copa do Mundo para trazer esses relatos, expostos em forma de um álbum.
Assim como na Copa, a FOLHA escalou um time de peso para contar essas histórias. São pessoas de idades e profissões diferentes, mas com um olhar de amor, admiração e gratidão pela cidade onde vivem.
Contam os historiadores que o hábito de colecionar álbuns de figurinhas nasceu na virada
Da mesma forma como colecionar figurinhas é uma paixão, esta edição de aniversário de Londrina preparada pela FOLHA é para colecionadores.
Contam os historiadores que o hábito de colecionar álbuns de figurinhas nasceu na virada do século 19 para o século 20, uma época marcada pelo desenvolvimento de novas tecnologias de impressão de imagens visuais em larga escala.
De repente, de várias partes do mundo, as pessoas começaram a conhecer lugares e personagens que se abriam como cenários fascinantes, mas como figurinhas.
Esta edição da FOLHA em homenagem aos 88 anos de Londrina também é para colecionadores. E ela abre janelas para conhecer (ou reconhecer) algumas figurinhas que você certamente identifica.
Que tal uma “corrida” pela cidade com o empresário de 89 anos que não abre mão desse esporte pelas ruas da área central? Saber como foi a infância do prefeito em tradicional bairro da zona oeste ou enxergar a “cidade dos festivais” pelo olhar de uma artista?
Vamos chegar na Venda dos Pretos, estabelecimento que passa de geração em geração há várias décadas? Você passou recentemente pelo Museu Histórico Pe. Carlos Weiss, certamente “figurinha ouro” deste álbum de Londrina?
Ao mesmo tempo que a FOLHA convida seus leitores a conhecerem esses espaços diversificados do município, o jornal deseja um grande aniversário a Londrina, uma jovem cidade de quase 90 anos, sempre pronta para renascer e com pressa de se reinventar e transformar-se todo o dia em um lugar melhor para viver. (Folha de Londrina)
PATRIMÔNIO DE LONDRINA
Venda dos Pretos guarda décadas de memória
Com um sorriso no rosto, uma memória de dar inveja e a história na ponta da língua, Edit Maria Neves carrega a essência da Venda dos Pretos. Aos 88 anos, é baiana de nascimento e londrinense de corpo e alma. Dona Edit veio com a família para Londrina na década de 1960 e nunca mais quis sair. “Lá a vida era muito sofrida, era difícil pra comida, pra água. Hoje dizem que melhorou, mas eu não acredito”.
De mala e cuia, Edit, a irmã e a mãe vieram em um caminhão com carga de coco, uma viagem que durou seis dias e proporcionou o reencontro com os irmãos que já trabalhavam aqui. “Na época, Londrina só tinha umas casinhas, não era o que é hoje”. O combinado com o motorista era deixá-las na Venda do Alto, na Chácara São José. Era o ponto de referência para o ‘Sítio do Japonês’, na Zona Sul da cidade. Quando chegou, a Rodovia Mabio Gonçalves Palhano ainda era estrada de chão.
Nos primeiros anos, Edit viveu no Patrimônio Regina. Depois de casada, passou um bom tempo no Sítio do Japonês e teve dois dos cinco filhos na casa. O sogro, também baiano, decidiu que queria voltar para a “terrinha”. Os filhos não queriam voltar, assim como ele não queria deixar ninguém para trás. Para evitar que as lembranças da vida difícil de anos atrás voltassem a ser uma realidade, o marido e os cunhados negociaram a Venda do Alto com o “Italiano” que tocava o lugar. O acordo foi feito e ninguém foi embora.
Edit relembra que a venda ficava mais na beirada da rua, mais para frente do que é hoje. Já a casa era grande, só de quarto eram quatro cômodos. Hoje, moram sete famílias no pedacinho de terra atrás da venda, que compartilham o sobrenome Neves e o ‘pé-vermelho’. Assim, a venda deixou o ‘do Alto’ de lado e ficou conhecida como Venda dos Pretos.
Naquela época, a venda era um mercado de ‘secos & molhados’. “Vendia de tudo, por isso chamavam assim”. Agora, a pinga e a cerveja são o carro-chefe, assim como a tubaína e os doces, como canudo de doce de leite, suspiro e paçoca – tanto da caseira quanto daquela que vem embalada em um pacotinho amarelo. Mas o amendoim com peixe é o aperitivo que mais sai. Os bancos de madeira amontoados em um canto aguardam a bagunça boa dos próximos fregueses. A mesa de sinuca, ao centro, nunca fica vazia.
Dos cinco filhos da dona Edit, um mora no céu, dois no Jardim Catuaí e um no Aquilles Sthengel, ambos na Zona Norte de Londrina; a caçula vive com ela, na casa atrás da venda. Já os netos, são nove. “No domingo, de quinze em quinze dias, todo mundo vem aqui e a casa fica lotada”. Quando eles não vêm, o telefone não para de tocar. “Um telefona de manhã, outro meio-dia, depois outro de novo”. Com um orgulho que não cabe no peito, conta do amor e cuidado que uma das netas tem com os animais. “Eu acho que ela vai ser veterinária”.
A Venda dos Pretos é feita de madeira, local simples que parece que se perdeu no tempo. Mas a TV transmitindo a Copa do Mundo de 2022 mostra que o tempo passou sim, eles é que decidiram manter as raízes. Na parede, os quadros destacam com orgulho diversas fotos dos visitantes. E ainda tem os recortes de jornal, que já contaram um pouco da história daquela venda. Outro quadro, esse dá o título de patrimônio público de Londrina à Venda dos Pretos, uma honraria oferecida pela Câmara dos Vereadores. Um reconhecimento aos Neves que escolheram ser londrinenses.
Dona Edit se considera sortuda, já que tem a família por perto e um amigo em qualquer canto da cidade que ela resolva ir. A honestidade, o caráter e a ‘palavra dada’ são valores que aprendeu com o pai e passou para os filhos e netos. “Nós somos muito amigos do povo, todo mundo se conhece”.
Londrinense com orgulho, ama a terra que chama de lar. Ter água na torneira e no chuveiro e comida em abundância coloca um sorriso no rosto e a faz viver à vontade. “Lugar igual Londrina eu acho que não tem não, pode querer imitar só”.
O café com leite que toma todas as manhãs sob os olhos atentos dos gatos que cuida e a certeza de que a Venda dos Pretos não pode acabar, já que ela sabe que o lugar que ajudou a fundar não pode ser esquecido com o tempo – e nem pelo tempo. A sobrinha, Maria de Fátima, toca o local hoje, que já não tem o mesmo movimento de antes, mas ainda é lar de fregueses fiéis.
Dona Edit já trabalhou muito, dentro e fora de casa. A dor no joelho faz com que ela se lembre dos tempos sofridos na roça, de trabalho árduo. Mas a aparência jovial e o sorriso fácil não a deixam esquecer do presente. “Eu sou feliz. O que mais eu vou querer?”. (Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA)
UM ESPAÇO DEMOCRÁTICO
A Venda dos Preto, no singular, como muita gente fala, é um estabelecimento histórico, assentado há sete décadas no Patrimônio Espírito Santo, zona Sul de Londrina. Tramelas ainda abrem e fecham janelas da venda, erguida com madeira de peroba. Baiano de Paramirim, João Marques Neves adquiriu o local, misto de mercearia e bar, na década de 1950.
Após sua morte, a Venda dos Preto foi administrada pela filha, Izolina Maria de Jesus. Quem toca o comércio, atualmente, é a filha Fátima, conhecida como “Fia”. De um pouco se vende tudo: doces, salgados, bebidas alcoólicas, refrigerantes, entre outros produtos
Correspondências, retiradas da caixa postal dos Correios, são levadas para o estabelecimento. A freguesia é composta por pessoas de todas as condições financeiras. A Venda dos Preto é, sobretudo, um espaço democrático. (Antonio Mariano Junior/ Especial para a FOLHA)
HEIMTAL, O `SOTAQUE´ALEMÃO DE LONDRINA
Na dúvida, dá uma “googleada”! Heimtal, nome do bairro localizado na zona Norte de Londrina, seria homenagem a uma aldeia russa. Há quem afirme que a origem da palavra é alemã. Ao menos, em Londrina, a pronúncia do ex-patrimônio é a seguinte: “Reimital”. E boa!
O Heimtal foi fundado pelo alemão João Carlos Strass, em 1929. Nasceu colônia, tornou-se patrimônio. Agora, é bairro porque Londrina espichou-se por aquelas bandas. É considerado o primeiro núcleo rural da cidade.
Bairro habitado por 673 habitantes, de acordo com dados do IBGE, de 2010. Construída em madeira, a agora Escola Municipal Rural José de Anchieta, inicialmente ensinava português às crianças alemãs. A Capela São Miguel Arcanjo… linda! Patrimônios erguidos nas décadas de 1930 e 1940. Em tradução livre, Heimtal significa “Vale da Vida”. (Antonio Mariano Junior/ Especial para a FOLHA)
MEMÓRIAS DO PREFEITO, A FELIZ INFÂNCIA NO SHANGRI-LÁ B
Ao passar pela porta que liga a recepção ao gabinete da prefeitura de Londrina, Marcelo Belinati chega cumprimentando a todos com um sorriso tranquilo. A hora do almoço já estava terminando quando ele aceitou o segundo cafezinho. Mas o estômago pedia por um arroz e feijão.
Aos 51 anos, é um livro aberto ao contar um pouco da história da família. Sua mãe, professora aposentada, foi uma guerreira, como ele gosta de dizer. Do pai, não tem muitas lembranças. O português de nascença morreu aos 28 anos em um acidente de carro. Na época, Marcelo tinha apenas oito meses de idade; hoje, cultiva a saudade.
A mãe trabalhou muito para colocar comida na mesa e dar uma infância tranquila para ele e o irmão. As memórias no Jardim Shangri-lá B são felizes e vão segui-lo por qualquer caminho que ele resolva tomar. A Rua Dionísio Kloster Sampaio foi seu lar por 29 anos. “Só saí de lá aos 34 anos, que foi quando casei”. A casa e os vizinhos, diz ele, ainda visita hora ou outra.
Sentado no sofá do seu gabinete, ele parece relembrar das ruas do pequeno bairro, que fica entre o Jardim do Sol e a BR-369. Conta sobre as partidas de ‘bets’ e dos jogos pelo time do Buracão, lá no Centro Social Urbano. Das memórias que fazem os olhos brilharem, cita o cachorro-quente que comia todo o fim de ano, quando o clima natalino tomava conta do Calçadão de Londrina e o comércio funcionava até tarde da noite. “Eu tenho muitas memórias da infância”.
Foi através dos tios que tomou gosto pela medicina; o gosto por gente já vem de muito antes, desde o berço. Aos 18 anos, era calouro de medicina na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Incontáveis vezes atravessou o Calçadão da UEL de ponta a ponta para ir ao Centro de Ciências Humanas. Os lanches na cantina e as passadinhas na biblioteca. “A UEL é minha casa e é um dos patrimônios dessa cidade”. E claro, as festas, que vendiam cerveja barata e davam espaço para a música local.
O 305, 307 e 315 eram seu transporte, já que a família não tinha carro na época. “Vocês que são novos nem sabem o que é uma cartela de passes. Tinha roxa, verde, rosa”. Passava mais tempo na universidade e no HU (Hospital Universitário) do que na própria casa.
E então se aventurou no direito. Mas aí, conta ele, a realidade era diferente. Aos 33 anos, decidiu que queria ter conhecimento jurídico para entrar na vida pública. Concluiu o curso enquanto já era vereador. E então não parou mais: veio o segundo mandato; foi eleito deputado federal; prefeito de Londrina, depois reeleito com quase 70% dos votos no primeiro turno.
No gabinete está a edição da Folha de Londrina que fala da sua conquista. Ela fica emoldurada e aos olhos de quem quiser ver. Um retrato com a foto da família também é destaque. É em Londrina que deseja que os filhos cresçam.
Marcelo Belinati não segue uma receita. Também não tem uma fórmula mágica. Mas garante que não há cidade no Brasil igual a Londrina. Para ele, a política é uma maneira de transformar a vida das pessoas para melhor, seja fazendo a cobertura de um ponto de ônibus ou asfaltando uma rua. “É isso que marca a memória das pessoas”.
Com um sorriso orgulhoso, conta da regularização fundiária do Jardim Rosa Branca, bairro próximo à Rodoviária que quase ninguém conhece. “Uma senhora me agradeceu porque ela ia poder comprar no crediário, já que agora tinha endereço”.
Como prefeito, quer fazer com que o londrinense sinta cada vez mais orgulho em dizer que é londrinense. “Londrina é o meu lar. É onde eu me sinto acolhido, protegido”.
Do menino que andava de bicicleta por Londrina e agora conhece cada palmo dessa cidade, o desejo é de um futuro com mais mudanças, com mais melhorias, com mais obras. “Porque é isso que marca e transforma a vida das pessoas”. (Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA)
`QUE OUTRA CIDADE TEM ESSE TANTO DE FESTIVAL?´
Com a felicidade e o nervosismo de uma estreante, Jackeline Seglin entra no Cine Teatro Ouro Verde. Olhando do palco, ela imagina os bancos da plateia repletos de espectadores atentos. Amantes da cultura, do teatro à música.
Jackeline nasceu em Itapeva, cidade no interior de São Paulo, e veio para Londrina em 1989 “para nunca mais sair”. A beleza do céu de Londrina, diz ela, não tem explicação. “A luz que essa cidade exala não tem igual”. A ansiedade para saber o resultado do vestibular para jornalismo a fez ficar grudada no telefone, esperando a ligação dos amigos que já moravam aqui.
Com a aprovação, arrumou as malas e se aventurou na cidade que, para ela, transmite luz. Relembra da primeira casa, na Rua Pará, e dos vários pensionatos na ruas Goiás e Sergipe. “Eu vim para cá porque amei a cidade e a cultura me pegou de jeito”.
A universidade, que parecia uma cidade dentro da cidade, a encantou. No segundo ano de Londrina e de curso, entrou em um grupo de teatro, o Boca de Baco, que ainda performa nos palcos da cidade.
No grupo, conheceu o amor: o amor cada vez maior pela cultura e o amor da sua vida e parceiro de jornada. Jackeline e Luciano Bitencourt estão juntos há mais de 30 anos, assim como o grupo.
Expansiva nos gestos, talvez uma influência do teatro, relembra que o gosto pela cultura começou no ensino, mas só encontrou espaço para se desenvolver em Londrina. “Na faculdade, a gente apresentava os seminários em forma de teatro”.
Mas o sorriso fica maior ao falar do Festival Internacional de Londrina, o Filo. Em seu primeiro, em 1990, assistiu quase todos os espetáculos.
As memórias, no Ouro Verde, vêm desde aquela época. “Aqui foi a minha primeira casa de espetáculos”. Depois de provar o gostinho do Filo, nunca mais quis largar.
Das memórias na UEL, lembra dos amigos e das conversas. De ir à Lido, uma livraria de rua que ficava na Piauí. Do Bar do Jota, na Rua João Cândido; do Bar Valentino, quando ainda estava localizado no final da avenida Bandeirantes; ou do Bar da Gabi, na Rua Pernambuco, onde os amigos faziam bicos para pagar as cervejas.
Ter experimentado o melhor que a cultura de Londrina tem a oferecer direcionou a sua vida. Ao concluir o curso, entrou para a Folha de Londrina para trabalhar na editoria de cultura. A Folha foi sua casa por 12 anos. “Eu entrei no jornalismo porque eu gostava de escrever e sempre consegui fazer com que ele caminhasse junto à cultura”.
Mas o convite mais especial veio quando foi chamada para integrar a equipe do Filo. Talvez fossem os sonhos tomando forma no plano tangível. Hoje, é coordenadora de comunicação do Filo e ainda não perde os espetáculos. Talvez julho seja seu mês preferido. Os momentos mais lindos viveu nos palcos – e nas plateias – de Londrina. “Que outra cidade tem esse tanto de festival?”.
Com o Boca de Baco, a primeira apresentação foi Amores de Moraes, no Teatro Zaqueu de Melo. De um grupo formado por bancários e um punhado de estudantes de comunicação, hoje engloba professores, jornalistas, juízes e designers. Gente de todo tipo e de toda área. “Cultura comunica, transforma e abre para o diálogo. Isso encanta”.
Estar ‘Olhos nos Olhos’ com a plateia depois da pandemia. “São nossas histórias, mas que a plateia também compartilha”. Jackeline abre o sorriso ao falar da expectativa de retomada da cultura. Os tempos difíceis vão se tornando apenas sombras. “Londrina é uma cidade que gosta e consome cultura. Essa força vive aqui na cidade”. (Jéssica Sabbadini/ Especial para a FOLHA )
Graças à atuação dela, as artes cênicas de Londrina reverberam no mundo todo. Nitis Jacon desenhou-se nos palcos, em especial o do Teatro Ouro Verde. Criadora, moldou muitas criaturas com seu sopro artístico.
Fundou, nos anos de 1970, o grupo Proteu. Formatado dois anos antes, quando estudantes de Londrina organizavam a primeira edição do Festival Universitário da cidade. Convite feito, aceitou. Nitis idealizou o Festival Internacional de Londrina, o FILO.
A ditadura militar! Ela e o marido, Aberlado Araújo se conheceram na faculdade de Medicina. O casal “comunista” mudou-se para a Inglaterra. Por lá ficou um ano e meio.
Quando ambos voltaram, Abelardo sentiu no corpo os horrores dos Anos de Chumbo. Ele mais ela, após espantos e espasmos, fixaram residência em Arapongas, norte do Paraná.
Além de artista, Nitis Jacon graduou-se como médica psiquiátrica. Abelardo Araújo, clínico geral, morreu em 2012. Aos 87 anos de idade, ela recolheu-se em sua casa.
Nitis Jacon é sagrada. (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA)
TEATRO OURO VERDE: A CULTURA EXIGE RESPEITO
Vídeos e textos nas redes sociais informavam: o Ouro Verde ardia em chamas. Naquela tarde do dia 12 de fevereiro de 2012, muitos e tantas choraram vendo a fumaça escura e densa e perversa. Um curto-circuito incendiou o Teatro de Londrina.
As obras de reconstrução do Ouro Verde se arrastaram por cinco anos. Em 30 de junho de 2017, o nosso Teatro, antigo Cineteatro, recebia novamente plateia e aplausos. O espaço cultural completa 70 anos de existência, contabilizando o tempo de restauração, no dia 25 de dezembro de 2012.
Projetado pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, o Ouro Verde pertence à Universidade Estadual de Londrina. Palco sagrado! Ocupado por artistas locais, nacionais e internacionais.
É preciso pedir licença para entrar naquele território – a plateia, inclusive. A Cultura exige respeito! (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA)
NA TORCIDA PELO RENASCIMENTO DO MORINGÃO
Se não houver novo adiamento, as obras de reforma do Ginásio de Esportes Moringão serão concluídas em janeiro de 2023. Terceiro aditivo concedido pelo município à empresa responsável pela renovação do local, que leva, oficialmente, o nome do Professor Darcy Cortez. O ginásio poliesportivo está fechado desde 2019.
Em outubro deste ano, o Moringão completou 50 anos de existência. O nome popular refere-se a um termo muito utilizado pelo ex-prefeito Dalton Paranaguá: “moringa fresca”. O ginásio foi construído em sua gestão.
Além de eventos esportivos, a “grande moringa” abrigou formaturas e shows com grandes nomes da MPB. Na torcida pelo renascimento do Moringão. (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA )
CENTRO HISTÓRICO DE LONDRINA
A FÉ DA MADEIRA AO AÇO
No princípio, a fé católica estalava na edificação de madeira. Isso em 1929. Cinco anos, após o povoamento da região de Londrina, o bispado de Jacarezinho, fundou a Paróquia de Londrina. A primeira missa campal foi celebrada em 9 de março, com um altar assentado sob uma capela de Palmito.
Projetada pelo engenheiro Willie Davids, a amadeirada matriz de Londrina foi inaugurada em agosta de 1934, com as bênçãos do padre Erasmo Raabe, representante do Bispo de Jacarezinho
Junho de 1968. As madeiras da Igreja Matriz foram substituídas por pedras, cimento, aço e alumínio. A Catedral de Londrina ganhou formato de chalé. Fieis fazem o sinal da cruz. Homens ainda tiram o chapéu ao passarem diante daquele templo.
Deus é mais!
A CONCHA ACÚSTICA ARMAZENA SONS
O ex-prefeito Antônio Fernandes Sobrinho, em visita a um município do Espírito Santos, gostou muito de um coreto “diferente”. Solicitou que se erguesse algo similar àquele espaço, em Londrina.
Com traços arquitetônicos moderníssimos (ainda), a Concha Acústica veio à tona no dia 1º de maio de 1957. Desde então, o espaço abriga, principalmente, eventos artísticos.
Acolhe também manifestações em tempos de cólera. As velas acesas, sobre as arquibancadas, para relembrar os mortos pela Covid-19, em 2021… perdemos tantos.
A passagem de som de Itamar Assumpção e Cida Moreira, entre tantos, numa tarde de sol. Show à noite. Ovos chocados e atirados pelas janelas dos edifícios, que ladeiam a Concha Acústica. Em artistas.
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MEMORIAL DOS PIONEIROS, A NOSSA `ANCESTRALIDADE´
Dezessete totens com obras do artista plástico Paulo Mentem e nomes de 3,5 mil pioneiros e pioneiras de Londrina. Encrustado sobre os paralelepípedos, no Centro Histórico de Londrina, o admirável Memorial dos Pioneiros.
O descerramento dos totens foi no dia 1º de Maio de 2007. No embalo das comemorações dos 50 anos da Concha Acústica. Uma festança, com a timbragem cabocla da cantora Inezita Barroso.
Houve intervenções alusivas ao ambiente de 1957: pipoqueiros, vendedores de algodão doce, fotógrafos lambe-lambe e alunos da Escola Municipal de Teatro vestidos com trajes da época.
Foi bonita a festa!
ART DÉCO CONTORNA A SEDE CENTRAL DOS CORREIOS
Imponente a agência central da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Situada na convergência da Avenida Rio de Janeiro com a Rua Maestro Egídio Camargo do Amaral, área central de Londrina, o prédio foi inaugurado em julho de 1949.
Uma edificação com mais de sete décadas. Erguida em estilo Art Déco, com projeto do engenheiro Julio Botto, o prédio contém elementos a serem destacados.
Por exemplo: “a marcação das entradas, os frisos superiores e verticais, além das molduras e esquadrias geometrizadas”, palavras do historiador Antônio Castelnou.
Quem nunca lambeu um selo e colou no envelope, que explique tais observações.
MUSEU PE. CARLOS WEISS E O TREM DA HISTÓRIA
Suntuoso pela própria natureza, o Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss instalou-se há 36 anos no prédio da antiga estação ferroviária. O trem de passageiros e de carga cumpriu sua sina, entre 1950 e 1982. Os trilhos, que apartavam a cidade ao meio, no sentido norte/sul, foram arrancados.
Com traços arquitetônicos de origem inglesa, a estação de trem abriga o Museu Histórico. Que, até dezembro de 1986, desenvolvia suas atividades nos porões do Colégio Hugo Dimas O acervo é composto por 1,3 milhão de itens, entre imagens e som, periódicos e documentos e objetos em exposição.
Biblioteca Infantil contém 11 mil itens
Denominação oficial: Biblioteca Especializada Infantil. Há quem se refira ao espaço com o nome do escritor Monteiro Lobato. Em atividade desde 1984, a biblioteca, inicialmente, ocupava um prédio anexo ao da Biblioteca Pública Municipal.
Com a restauração da antiga Casa da Criança, em 2016, atual Secretaria Municipal de Londrina, a Biblioteca Infantil levou para o local um acervo de 11 mil itens. Os livros (didáticos, enciclopédias e até mesmo gibis) destinam-se às crianças e adolescentes.
Além do acervo bibliográfico, a Biblioteca Especializada Infantil realiza regularmente atividades voltadas ao público infanto-juvenil.
LONDRINA É LAR
Os olhos atentos e as mãos ágeis ajeitam os últimos detalhes da decoração de Natal. Dúzias de caixas embaladas em um bonito papel vermelho enfeitam uma das lojas mais antigas de Londrina: a Móveis Brasília da Duque de Caxias, no centro da cidade. Aos 89 anos, Francisco Ontivero vai à loja quase todos os dias. Seja para ver o movimento, para jogar conversa fora com funcionários e clientes ou para relembrar das raízes.
Seu Francisco nasceu em Cândido Mota, no interior de São Paulo, mas nunca se considerou paulista. Os pais, só com o dinheiro da passagem, embarcaram rumo a Londrina em janeiro de 1934 com a promessa de terra barata e solo fértil. Francisco chegou com seis meses de vida acompanhado da mãe, avó e irmã na carroceria de uma caminhonete. O pai veio com a carroça da família, que era guiada pelo Perigoso e pelo Gaúcho.
Mas Londrina ainda não era Londrina. A cidade dava os primeiros passos para ser o que é hoje. Só ganhou status de cidade meses depois, em dezembro daquele ano. “Eu posso dizer que sou mais velho que Londrina”. Dos nove irmãos do Seu Francisco, oito nasceram aqui.
O pai comprou um lote parcelado de cinco alqueires. Um cantinho para viver com a família. O terreno acordado com a Companhia de Terras Norte do Paraná ficava na zona leste de Londrina, onde hoje integra o Jardim Santos Dumont e o Boa Vista. Ali, plantaram café e frutas dos mais variados tipos, que ajudaram a pagar aquele pedacinho de terra roxa.
Seu Francisco frequentou o Colégio Estadual Hugo Simas, na Rua Pio XII, e um outro colégio, que ficava onde hoje é o Colégio Estadual Marcelino Champagnat, na Rua São Salvador. Desse tempo, lembra do sapato e da roupa nova que ganhava quando ia desfilar no Dia da Independência. “No resto do ano a gente vivia descalço”.
Até os 15 anos, trabalhou duro na roça; mas então a família vendeu o sítio e saltou para a ‘cidade’. A casa na Rua Brasil foi construída com a peroba rosa que o pai cortou e trouxe do sítio. Seu primeiro emprego na cidade foi como office boy do Banco Comercial do Paraná, que ficava no Calçadão. Lá, conheceu Áurea, sua primeira, única e eterna namorada. Em 2018 ela faleceu, mas ainda vive nas lembranças diárias e nos pequenos detalhes da vida.
Em 1963, montou uma loja de estofados com os irmãos: a Comércio e Indústria Model, na Rua Brasil; Já em 1967, abriu a primeira loja do Móveis Brasília, que fica no mesmo lugar até hoje, a Avenida Duque de Caxias. O menino que vendia frutas em um carrinho para ajudar a família cresceu, tanto no tamanho quanto no trabalho. Hoje, são quase 700 funcionários.
“As lojas já funcionam há 55 anos”. Com orgulho, Seu Francisco é londrinense pé-vermelho. Não de nascença, mas de vida. O caminho até aqui foi de muito trabalho, de esforço e de escolhas. O caminho para o sucesso ele afirma não saber, mas garante que gerar empregos é importante, assim como conquistar a confiança da clientela. “Vendemos até hoje no carnê, então vai passando de geração em geração esse costume”. Em Londrina, a Móveis Brasília foi uma das primeiras lojas a vender fogão e ferro elétrico.
Os indícios de uma modernidade futura.
Quando você recebe algo, é uma obrigação retribuir. E Seu Francisco faz isso como ninguém. Já foi voluntário em albergue, presidente do Centro de Convivência Pestalozzi, no Jardim Perobal, e é presidente há sete anos do Hospital do Câncer de Londrina. “Mas de trabalho voluntário no HCL já são 21 anos”. Ajudar o outro é essencial, seja com um café quente em uma manhã fria ou com um abraço de conforto.
A saúde e a vitalidade de Seu Francisco fazem inveja a qualquer um. Para isso, ele garante, o segredo é o exercício. “Eu corro desde os 45 anos”. Ao longo do tempo, participou de mais de 200 competições. De meias-maratonas às corridas de rua, nunca parou com o hábito, que hoje é paixão. Percorrendo o Zerão, subindo a Rua Adhemar Pereira de Barros, descendo a Avenida das Torres até a barragem do Lago Igapó, subindo a Avenida Higienópolis e finalizando no Zerão. Esse é um dos trajetos preferidos dele.
“Londrina para mim é tudo. Eu fiz a minha vida aqui”. À Londrina, Seu Francisco só tem a agradecer todo o carinho e o amor que vêm da comunidade. Quando menino, se perdeu em meio a mata londrinense da década de 40 e andou por horas a fio; hoje, andar por Londrina virou costume. Mas agora ele sabe muito bem o caminho, afinal de contas, Londrina é a sua casa.
GERAÇÕES SE ENCONTRAM NA UEL
Natural do município de Pedregulho, no estado de São Paulo, o médico Ascencio Garcia Lopes, de 94 anos, adotou o norte do Paraná quando tinha 12 anos. Estudou medicina em Curitiba e fez sua pós-graduação no Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), especializando-se em neurocirurgia, tendo seu primeiro consultório no edifício que levava seu nome, na avenida Souza Naves.
Já em 1966 atuou como presidente da Associação Médica de Londrina, onde buscou atender ao pedido da cidade, que era a criação de uma faculdade de medicina para os jovens de Londrina. Junto com o então governador Ney Braga e o prefeito Hosken de Novaes, Lopes criou a Faculdade de Medicina do Norte do Paraná em 1967.
Lopes foi escolhido como o primeiro diretor e além de medicina, criou o curso de odontologia. Da fusão dessas faculdades, em 28 de Janeiro de 1970, nasceu a UEL (Universidade Estadual de Londrina), tendo 13 cursos de graduação, entre eles estão história, geografia, ciências (1º grau), direito, odontologia, medicina, farmácia, ciências biomédicas, ciências econômicas e administração.
Ascencio Garcia Lopes se tornou o primeiro reitor da universidade. “A UEL é uma escola de primeira categoria”, fala o professor, com tanto orgulho da instituição quanto um pai fala de sua filha. “Eu era professor de medicina e resolvemos, na comissão, vamos criar a UEL e criamos”, explica.
O professor lembra de quando tentaram “abortar a UEL”. Quando viu que queriam cortar as atividades da universidade, foi até Brasília para falar com o ministro da Justiça, que o atendeu, mandou que ele voltasse para Londrina e que tudo seria resolvido. No dia seguinte, as pessoas que haviam ameaçado “abortar” a universidade haviam sido demitidas do ministério.
Os fundadores da universidade a criaram para trazer uma graduação adequada para os jovens de Londrina e região, para facilitar a vida desses jovens, principalmente os que não teriam condições de fazer faculdade em outras cidades. Depois de criarem a UEL, também “nasceu” o HU (Hospital Universitário de Londrina).
O hospital surgiu do momento em que “os filhos de Londrina que queriam o curso de medicina, constituíram um corpo de primeira categoria, que formava médicos para Londrina e para o norte do Paraná”.
A esposa de Ascencio, Sueli de Oliveira Lopes, estudou economia na época em que a universidade era paga. A somatória dos primeiros pagamentos deu para construir um dos prédios do CEFE (Centro de Educação Física e Esporte). Em valores de hoje, segundo Oliveira, a mensalidade seria uns R$80 reais. “Por conta do volume de alunos, da quantidade, dava para construir o prédio”, conta o casal. Com o passar dos anos foram implementados novos cursos, tendo como o de nutrição o mais recente, fazendo parte do catálogo a partir de 2020.
2022
A UEL contou tanto com eleições para reitor, que elegeu Marta Favaro, do CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), como também as eleições dos representantes de cada centro, sendo que ambas foram feitas de forma on-line.
A atual reitora chegou em Londrina em 1998 como professora temporária da instituição. Em 2002 voltou a trabalhar novamente na UEL como professora concursada de história da educação. ” A UEL muda a perspectiva de vida da gente, pelo menos mudou a minha, porque quando eu era professora da rede básica e passava na frente da universidade, eu tinha um desejo de trabalhar aqui e vim”, afirma.
Enquanto trabalhava no Departamento de Educação, teve a possibilidade de conhecer diferentes espaços, podendo atuar como coordenadora e vice-coordenadora do colegiado no curso de pedagogia, isso a auxiliou a perceber o quanto a universidade é grandiosa.
Por ser uma peça fundamental no crescimento da cidade, devido ao fato de contar atualmente com 53 cursos de graduação, cursos de pós-graduação, além dos atendimentos oferecidos para a comunidade como os ofertados pelo HU.
“É muito significativo ter a possibilidade de, na história, encontrar aquele que participou pela primeira vez como a representação oficial da instituição na organização da instituição, quando nos tornamos universidade”, diz Favaro sobre seu encontro com Lopes. [Ana Luiza Barreto*/Estagiária/ (Com a supervisão de Patrícia Maria Alves, editora) ]
UEL, UEL, UEL, OH UEL
Números: 52 cursos de graduação (bacharelados e licenciaturas) e 191 cursos de pós-graduação (residências, especializações, mestrados e doutorados); ao menos 25 mil estudantes, professores e servidores. Tudo isso de acordo com o site da minha, da sua, da nossa Universidade Estadual de Londrina.
Londrina e o restante do mundo reconhecem a importância da UEL, como patrimônio educacional sedimentado em nossas terras vermelhas. Até quem não teve – ou não quis, motivos vários – acesso acadêmico sabe sobre o mais da cinquentenária UEL.
Fundada em 1970, a universidade obteve reconhecimento um ano depois. Nasceu da junção das faculdades em atividade, até então, em Londrina. Deu no que deu! É a primeira instituição superior estadual do Paraná, a quarta estadual do Brasil, confirma o Índice Geral dos Cursos (IGC), do Ministério da Educação (MEC).
TODA A TECNOLOGIA DA UTFPR/LONDRINA
O campus Londrina da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) iniciou suas atividades em 12 de fevereiro de 2007. Desenvolveu, primeiramente, suas atribuições acadêmicas com o curso de Tecnologia em Alimentos, num prédio cedido, provisoriamente, pela prefeitura.
A instituição avolumou-se. Atualmente a sede definitiva situa-se na Estrada dos Pioneiros, zona Leste da cidade. Ocupa uma área física de cerca de 110mil m², dos quais 24.101,76 m² de área construída.
São oferecidos sete cursos de graduação: engenharia ambiental, engenharia de materiais, engenharia mecânica, engenharia de produção, engenharia química, licenciatura em química e tecnologia em alimentos. Acolhe 3.319 alunos de várias partes do Paraná e de outros estados matriculados nos cursos regulares (graduação e mestrados). (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA)
A LONDRINA DOS CONTRASTES
Pé-vermelho demais para ser carioca da gema, Lua Gomes fincou raízes em terras londrinenses. Mulher preta pouco retinta, nasceu na favela Beira-Mar, no Rio de Janeiro, e veio para Londrina em 2003 para ficar. Por coincidências da vida, o pai mineiro e a mãe capixaba se conheceram no Lago Igapó. O encanto com a cidade foi instantâneo e o desejo de voltar sempre esteve vivo nas lembranças.
O vento forte da manhã ensolarada de sábado, que bagunça o cabelo e a obriga a segurar a barra do vestido, não atrapalhou o bom humor e a leveza da Lua. Ela relembra a infância, vivendo na Rua Cará-Cará, no Maria Cecília, e no Itapoã, ambos na Zona Norte. “A região norte é a minha casa, sempre foi a minha casa”. Entre um pulo e outro no Rio de Janeiro, foi em Londrina que teve o primeiro trabalho formal, a experiência na graduação e a felicidade de ser mãe de três meninas. “Eu não nasci em Londrina, mas pude ramificar aqui”.
A grama verde recém-cortada na pracinha do Vista Bela contrasta com o par de brincos rosa que usa. A personalidade vive nos pequenos detalhes. Como se fosse ontem, conta da primeira vez em que ‘tomou as dores’ do outro. Com 11 anos, quando frequentava o Colégio Estadual Professora Olympia Morais Tormenta, no Conjunto Habitacional João Paz, participou de uma gincana para arrecadar alimentos. Nesse momento, percebeu que a fome morava ao lado, que atingia colegas de classe e amigos do bairro. E como a fruta nunca cai longe do pé, seguiu os passos da avó, que era uma liderança comunitária no Rio de Janeiro.
O Vista Bela é seu lar desde 2012, mas teve que lutar muito por ele. Um bairro lotado de condomínios, mas sem escolas, sem creches ou postos de saúde, à margem da sociedade em uma das bordas de Londrina. “Uma área periférica que divide a Zona Norte e a Zona Leste”. A briga foi grande e a conquista foi lenta. Anos mais tarde, já com o bairro um pouco mais estruturado, a informação ainda era um privilégio para poucos. Cursando ciências sociais, reparou que a maioria dos estudantes descia antes do Terminal Oeste. No Vista Bela, desembarcavam os trabalhadores. “Eu não tinha meus pares na universidade”.
A vontade de mudar a realidade, mesmo que de uma só pessoa, fez com que ela organizasse um curso pré-vestibular comunitário em 2018 na escola do bairro. Aos trancos e barrancos, dava aulas sete dias na semana. “Tinha gente que só podia vir no sábado à tarde ou no domingo de manhã, então eu tinha que estar lá”. Dos 21 alunos que começaram, nove terminaram e sete ingressaram na universidade naquele ano. “A favela não vence quando apenas uma pessoa vence, todo mundo precisa vencer junto”. Uma das aprovadas agora retribui o que um dia recebeu. Ela volta ao cursinho como professora.
Na pandemia, o cursinho teve que parar, mas o ativismo não. Criou o Conexões Londrina, que é genuinamente londrinense. Em parceria com a Cufa (Central Única das Favelas), o projeto garantiu comida na mesa e o mínimo de dignidade para a parcela mais pobre da cidade. De novo, a população das bordas.
Lua teve que interromper alguns sonhos para permitir que outros pudessem nascer. “Eu costumo dizer que já fui quebrada e remodelada várias vezes”. Mulher preta que defende e briga pelas cotas, mas entende que muitas das lutas são silenciosas. “Eu não sou a preta de estimação de ninguém e também não represento todo mundo. Muitos aqui não sabem quem eu sou”.
A Londrina do presente é uma cidade vanguardista, mas que ainda mantém um ar intimista. “Por onde você anda encontra um conhecido”. Já a do futuro, cada vez mais progressista, que se preocupa com as minorias. Com o preto. Com o pobre. Com as mulheres. Que tenha olhos para quem vive no centro e nas bordas.
Que o conceito de cidade inteligente chegue aonde ele precisa chegar. Em Londrina, as nuances e os contrastes são muitos. “Da ponte pra cá, tudo é diferente”. Para Lua, sair de Londrina não está nos planos. Mas o caminho ainda é longo e a mudança precisa começar agora. Os olhares devem chegar até as pontas. (Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA)
SAUL ELKIND NUNCA PÔS OS PÉS EM LONDRINA
Sabe o Saul Elkind? O que dá nome à principal avenida da zona Norte de Londrina. Então, ele nunca pôs os pés aqui. Nasceu na Ucrânia, em 1890. Morreu em 1975, no Rio de Janeiro. Lutou na primeira Guerra Mundial. Chegou ao Brasil em 1919, por conta da revolução comunista em seu país.
A história é a seguinte. Com o surgimento dos Cinco Conjuntos, na década de 1970, o então prefeito Antônio Belinati queria homenagear David Elkind, ex-diretor-geral do DNER, na década de 1980. Foi ele o responsável pelo entorno urbano do agora Terminal Rodoviário de Londrina.
David pediu para reverenciar o pai. A avenida Saul Elkind estende-se por 14 quilômetros. Aos domingos, por lá, instala-se uma das mais tradicionais feiras livres da cidade. Os Cinco Conjuntos multiplicaram-se. O Saul tornou-se a Saul, A AVENIDA! (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA )
Londrina, 10 de dezembro de 1959. Uma quinta-feira de sol a estalar metáforas. Às 11 horas, aproximadamente, o principal cartão postal de Londrina era inaugurado: o Lago Igapó. A data celebrava o Jubileu de Prata da cidade.
Composto pelos lagos 1,2,3 e 4, o complexo Igapó tem pouco mais de cinco quilômetros de extensão. Foi idealizado pelo prefeito Antonio Fernandes Sobrinho. Que vislumbrou um lago artificial para atenuar a “aridez”, e também contribuir para o desenvolvimento urbano de Londrina.
Coube ao engenheiro Amílcar Neves Ribas, então secretário municipal de Obras, a concepção e execução da obra. O projeto estrutural da barragem foi concebido pelo engenheiro civil José Augusto de Queiroz.
Lindo de se ver.
Estádio do Café, um gol de placa
Nome oficial do Estádio do Café: Jacy Scaff, ex-dirigente do Londrina Esporte Clube. Construído às pressas, entre 1974 e 1976. O Estádio do Café tem o formato de ferradura, com conceito olímpico.
O LEC faria sua estreia no Campeonato Brasileiro de Futebol. No dia 22 de agosto de 1976, o Estádio do Café foi inaugurado num jogo entre Londrina e Flamengo.
Cerca de 50 mil torcedores assistiram ao empate de 1 a 1. Paraná, do Londrina, abriu o placar. O estádio, localizado na zona Norte da cidade, tem capacidade para abrigar 36 mil torcedores. Como coube tanta gente na estreia… sei lá.
Também bateram um bolão no Café, “atacantes” como Xuxa e o grupo Menudo.
PEDREIRA DA ZONA SUL: reivindicação
Pedreira da zona sul.
Dimensões impressionantes: um paredão com 40 metros de altura fincado numa área de três mil metros quadrados contornados pela natureza. Trata-se da Pedreira da Zona Sul, situada na baixada do Vale do Ribeirão Cafezal, Antiga Pedreira dos Padres.
Chispem os dedos polegar e médio muitas e muitas vezes. Há tempos e tempos, moradores do entorno, em especial os residentes na região das Chácaras São Miguel, anseiam por uma transformação no local.
Olha que bacana a reivindicação! Os habitantes daquelas bandas creem que a pedreira da Zona Sul tem potencial turístico. O local teria vocação para atividades como rapel, além de acolher shows e eventos.
A Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba…Que beleza! Precisa ver!! (Antonio Mariano Junior/Especial para a FOLHA)
Londrina, 88 anos – Edição de Colecionador
Textos – Ana Luiza Barreto/ Antonio Mariano Jr./Jéssica Sabbadini
Fotografia – Arquivo Pessoal/ Arquivo Folha – Vários autores
Coordenação de reportagem e textos – Adriana De Cunto (chefe de redação)/ Patrícia Maria Alves (editora)
Arte e Design – Rafaela Molter/ Patrícia Maria Alves/ Ana Luiza Barreto/ Gustavo Padial
Edição de Vídeos – Larissa Alvanhan
| Foto: Patricia Maria Alves – Editora