Eleito Jovem Líder Global 2014 pelo Fórum Econômico Mundial, o japonês Ken Endo fundou no mesmo ano a Xiborg Inc., empresa do segmento de lâminas de carbono para membros inferiores. Endo conta que criou a empresa para ajudar um amigo que havia sido amputado. Com curadoria do jornalista Marcelo Duarte, a exposição Tecnologia em Movimento por Xiborg, na Japan House, em São Paulo, mostra a evolução do trabalho do engenheiro na educação, esportes, engenharia e causas sociais.
O esporte paralímpico, uma das áreas exploradas na exposição, vem ganhando visibilidade ano após ano. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, realizados em 2021, o Brasil registrou sua melhor campanha, conquistando 72 medalhas e terminando em sétima posição no ranking geral. O atletismo e a natação as modalidades com mais vitórias. Para Endo, a evolução dos equipamentos poderá levar o atleta paralímpico a um outro patamar: “Em um futuro próximo, o paratleta vai ultrapassar o campeão olímpico, mais especificamente no salto em distância e na corrida de 400 metros”.
O que veio primeiro para você, a tecnologia ou o desejo de ajudar os atletas com inclusão?
Eu acho que é o desempenho do atleta. Treinamento, treinador, comunicação, nutrição, etc., bem como tecnologia, fazem parte disso. Como engenheiro, acho importante incluir o atleta como membro da equipe de desenvolvimento, porque fisicamente não posso usar uma prótese. O que posso fazer é fazer uma lâmina teórica e logicamente razoável do ponto de vista da ciência. Mas não é o suficiente.
Como a tecnologia de lâminas para esportes pode evoluir a curto ou médio prazo?
É quase certo que leva o desempenho do paratleta para o próximo nível. Em um futuro próximo, o paratleta ultrapassaria o campeão olímpico, mais especificamente salto em distância e corrida em distância de 400 metros. Isso tornará nuclear a fronteira entre esportes e paradesportos, o que torna nuclear também a fronteira entre normais e amputados. Extremamente, a definição de “normal” será absurda, pois qualquer função perdida será compensada pela tecnologia.
O atleta paralímpico japonês Keita Sato, com lâminas de corrida da Xiborg –Xiborg Inc/Divulgação
Você vê um momento no esporte em que os para-atletas poderão competir com atletas que não usam lâminas?
Não acho uma boa ideia os blade runners (como são chamados os corredores que competem com as lâminas inspiradas nas patas do guepardo) competirem com atletas “normais”, porque correr com uma lâmina e correr sobre as pernas são locomoções diferentes em termos de biomecânica. É como comparar corrida e ciclismo.
De que maneira você acha que a população em geral pode ser atendida e ajudada no futuro com a experiência de próteses e órteses em competições como as Paralímpicas?
Nos esportes, sempre quem tem dinheiro ganha o jogo, infelizmente. E essa tendência é mais forte no paradesporto, porque ferramentas como próteses, cadeiras de rodas, etc são caras, e às vezes o esporte é difícil para pessoas com deficiência, especialmente em países em desenvolvimento.
Mas não existe, como na Fórmula 1, o conceito de que a as soluções tecnológicas usadas nos carros de corrida podem ser empregadas depois na indústria?
Existe um novo ecossistema alternativo para o desenvolvimento de tecnologia assistiva nas Paralimpíadas. Historicamente, as tecnologias assistivas como próteses, órteses, cadeiras de rodas, etc. foram inovadas após grandes guerras, das quais ninguém gosta. Portanto, as Paraolimpíadas podem ser uma vitrine de novas tecnologias como a F-1 e, em seguida, a tecnologia automotiva é implantada nas pessoas. Por isso as Paralimpíadas são muito importantes em termos de ODS e DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão).
O que torna a Xiborg diferente de outras empresas como ela?
Não acho que Xiborg não seja apenas um fabricante de lâminas, pois não vendemos muito lâminas. Eu diria que o Xiborg é uma equipe de F-1 do paradesporto. Desenvolvemos novas tecnologias para atletas com apoio de nossos patrocinadores. Então, tentamos disponibilizá-lo para amputados de forma que qualquer amputado possa desfrutar de correr “normalmente”. Xiborg é uma startup inovadora que tenta criar um novo ecossistema de paradesportos.
Como vê o futuro para esta indústria?
Eu imagino que algumas competições nas Paraolimpíadas serão mais competitivas e se tornarão um dos grandes eventos esportivos em que muitas pessoas estão entusiasmadas. E tenho certeza de que o blade runner acabará por derrotar o campeão olímpico.