Renda fixa mantém vantagem com Selic a 13,75%, mas com ressalvas

São Paulo – A renda fixa segue como opção de investimento atrativa com o Banco Central anunciando nesta quarta-feira (7) a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano, conforme mostra levantamento do buscador de investimentos Yubb.

O estudo indica que o rendimento de baixo risco no título público Tesouro Selic, que acompanha a variação da taxa de juros, é de 4,72% ao ano, considerado o retorno real descontado pela inflação de 5,92% estimada pelos economistas consultados pelo BC no relatório Focus.

“O momento, sem sombra de dúvida, é interessante para o investidor aumentar as posições em títulos públicos ou privados de renda fixa, mas sem necessariamente tirar tudo da renda variável”, afirma Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb.

Tendo o atrativo de oferecerem a isenção do Imposto de Renda aos investidores, os títulos privados com isenção tributária, como as LCAs (Letras de Crédito Agrícola), as LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e as debêntures incentivadas, também se destacam no levantamento, com retornos estimados de 7,04%, 7,43% e 9,10%, respectivamente.

Os títulos emitidos por empresas, acrescenta Pascowitch, exigem um conhecimento maior dos interessados a respeito do risco de crédito relativo à saúde financeira da emissora do papel.

Com um rendimento de 6,17% ao ano, a poupança, investimento mais popular entre os brasileiros, deve entregar um retorno descontada a inflação de 0,24% em 2022, segundos os cálculos do levantamento.

Embora tenha voltado a entregar rentabilidade real positiva após completar dois anos no campo negativo, planejadores financeiros assinalam que o retorno da aplicação é menos da metade do entregue pela Selic.

A remuneração da poupança é de 0,5% ao mês sempre que a Selic estiver acima de 8,5% ao ano. Já quando a taxa básica é de até 8,5%, o rendimento da poupança equivale a 70% da Selic.

Incerteza fiscal pode trazer volatilidade para os títulos de renda fixa Especialistas do mercado financeiro alertam, porém, que variações no retorno ao investidor podem ocorrer conforme a reação do mercado aos recados do Copom (Comitê de Política Monetária) quanto à política fiscal do governo eleito Luiz Inácio Lula Silva (PT). É preciso ter especial atenção aos sinais de inflação.

Na véspera, a PEC da Transição, aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, criou uma despesa de R$ 168 bilhões em despesas acima do teto de gastos. O aumento dos gastos públicos tende a pressionar a inflação e, consequentemente, a expectativa de que os juros voltem a subir no futuro ou, ano menos, demorem para começar a cair.

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, destaca que a manutenção de um conjunto de regras para controlar a expansão fiscal, ou seja, algo que exerça a função do teto de gastos, será fundamental para que “a trajetória desenhada para a política monetária seja materializada”, diz.

Enquanto há incertezas quanto à inflação, ela recomenda uma postura conservadora sobre os investimentos e reforça que variações podem ocorrer mesmo com a manutenção da taxa Selic.

“Os títulos pós-fixados continuam sendo ótimas alternativas, entregando bom retorno e com bastante segurança e liquidez, quando falamos, por exemplo, do Tesouro Selic, e de outros instrumentos, que rendem ao menos 100% do CDI”, diz.

“Quando olhamos para os títulos prefixados e para os híbridos, que misturam prefixados e também são atrelados à inflação, esses tendem a se mover mais diante da decisão do Copom, mesmo em um cenário de manutenção. As curvas de juros futuros se movimentam mais em uma situação de incerteza”, comenta a economista da Rico.

Ela afirma que a preocupação com a política fiscal pode ampliar o retorno dos títulos de renda fixa emitidos após a decisão desta quarta devido à expectativa de aumento dos juros nos curto e médio prazos. Já aqueles títulos emitidos antes e que, portanto, estão nas mãos de investidores podem perder valor devido à marcação a mercado, que é o preço pago pelo papel vendido antes do vencimento.

“Mas vale lembrar que o rendimento contratado será garantido se o título for mantido até o vencimento”, reforça Rachel de Sá.

“A gente recomenda, para o título de inflação prefixado, um vencimento em um prazo médio, de três anos, no máximo, e bem casado com o objetivo do investidor para que ele o segure até o final e receba o rendimento contratado”, aconselha.

Economista-chefe da JGP, Fernando Rocha afirma que, com a indefinição sobre o rumo da política fiscal, o investimento em títulos prefixados acaba se tornando mais arriscado, já que é o mais suscetível à volatilidade do mercado de juros futuros.

Os títulos indexados à inflação, que também sofrem com a volatilidade, mas em menor medida, e os pós-fixados que acompanham a variação da Selic, tendem a ser as alternativas mais seguras até que se tenha uma definição mais clara sobre o arcabouço fiscal, diz Rocha.

Beto Saadia, economista e sócio da BRA BS, também ressalta a necessidade de considerar cenários incertos para a taxa de juros no futuro, mesmo diante da manutenção da Selic em 13,75% ao ano.

“Por mais que que seja consenso o patamar de Selic atual, para 2023, impressiona a discrepância das expectativas para o futuro da política monetária, com Selic esperada entre 8,5% e 14,5%”, diz.

“A dispersão não é resultado da inflação que já mostra sinais de desaceleração, mas, sim, da incerteza quanto à trajetória da política fiscal”, completa.

Rocha, da JGP, afirma que o cenário de o BC retomar o processo de alta dos juros não pode ser descartado. Caso as expectativas de inflação para 2024 comecem a se deslocar para cima ao longo dos próximos meses, o BC pode se ver forçado a promover novos aumentos na taxa Selic, apesar do patamar elevado no qual ela já se encontra, diz o especialista.

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