Mais de 770 estudantes da UEL serão afetados por corte de bolsas

Mais de 770 estudantes dos cursos de mestrado e doutorado da UEL (Universidade Estadual de Londrina) serão afetados com a suspensão do pagamento de bolsas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A informação chegou ao conhecimento dos bolsistas na noite de terça-feira (6) e o órgão justificou a medida alegando contingenciamentos impostos pelo Ministério da Economia e pelo Decreto n° 11.269/2022, que fez com que mais de 200 mil bolsas de pós-graduação deixassem de ser honradas, cujo depósito deveria ocorrer neste dia 7 de dezembro.  

Luan Carlos Nallin, 27, do primeiro ano do doutorado de Sociologia, que recebia R$ 2,2 mil, disse que a situação é dramática. “Isso gera problemas emocionais. A bolsa exige dedicação exclusiva, ou seja, você não pode trabalhar com carteira assinada em qualquer outro espaço. Essa dedicação exclusiva é para trabalhar na universidade, o que significa que a gente tem atribuições dentro do programa, além de cumprir os créditos em disciplinas”, destacou.

Ele ficou sabendo da suspensão da bolsa um dia antes da data em que ocorreria o pagamento. “A gente precisa pagar aluguel e se alimentar com essa bolsa e o principal fundamento dela é que a gente possa se dedicar às nossas pesquisas, que precisam necessariamente de teoria e prática. A literatura científica não é barata. Há muitos livros de literatura internacional que a gente precisa  e não consegue online.”

Ele disse que ainda tem o privilégio de ter a família próxima, em Ibiporã, e pode recorrer a ela para conseguir alimentação. “Mas tenho colegas que estão em outros estados sem saber como vão se manter. Há também colegas que estão no exterior. Aí a situação fica pior ainda.”

Karime Peres Vilela, 27, é a única aluna bolsista do Mestrado em Comunicação Social na UEL e também foi afetada pelo corte. “Isso já é uma defasagem gigante, porque em anos anteriores pelo menos metade da turma de 20 alunos era bolsista. Eu sou a única do programa em 2021 e quem iniciou o mestrado em 2022 não teve nem essa oportunidade, porque não houve oferta de processo seletivo para bolsa.”

Vilela, que recebia R$ 1,5 mil, não sabe como vai pagar o aluguel e outras despesas, como alimentação e transporte. “Ser bolsista possibilitou fazer muitas coisas, como as minhas leituras. Eu estudo gênero no âmbito da economia política e a bolsa permitiu que eu estivesse presente em espaços onde enriqueceram a minha pesquisa.”

Ela afirmou que o desmonte da educação tem contribuído para destruir a criticidade e priva os pesquisadores de frequentar certos espaços. “Está difícil ser pesquisador no Brasil.” Vilela é de Viradouro, município do interior de São Paulo e relata que os professores sempre apoiaram a sua caminhada. “Eles entendiam as minhas especificidades enquanto estudante que veio da escola pública durante a minha vida inteira.” Ela relata que foi uma criança e uma adolescente que precisou do Bolsa Família para continuar estudando e a bolsa do mestrado permitiu que ela continuasse “fazendo o que sempre gostou desde criança: estudar”.

A pró-reitora de ProPPG (Pesquisa e Pós-Graduação) da UEL, Silvia Meletti, informou que participou de uma reunião na tarde de quarta-feira (7) para informar a situação para todos os coordenadores de curso. “Essa situação estourou ontem (terça-feira, dia 6), no final da tarde, então a gente está pensando incessantemente em algumas medidas, mas ainda estamos estudando as medidas que são possíveis da gente adotar.”

Ela ressaltou que tem participado de reuniões em fóruns de pró-reitores e também está em contato permanente com outras entidades representativas que estão atuando diretamente em Brasília para tentar reverter essa situação. “A única solução possível é a revogação desse decreto”, declarou. Ela relatou que os estudantes estão se mobilizando para realizar uma paralisação até que as bolsas sejam pagas. 

O professor Cléber Lopes, coordenador do programa de pós-graduação dos programas de mestrado e doutorado de Sociologia da UEL, afirmou que é docente há dez anos da universidade e nunca viu um bloqueio desse tipo. “A gente já viu ameaça desse tipo de bloqueio, mas que foi rapidamente revertida. Uma situação de insegurança dessa a gente nunca viu. Estamos vendo uma situação de desestruturação por completo das políticas públicas para a pós-graduação. A nossa relação com a Capes tem sido cada vez mais difícil, com prazos muito curtos para gente captar ou distribuir recursos e as informações para isso são pouco precisas, com mudanças constantes nas regras de avaliação da pós-graduação, com judicialização desse processo. Isso tem criado muita dificuldade para quem está na ponta operando o sistema de ciência tecnologia.”

Ele afirmou que os recursos, que antes eram repassados para as universidades, agora vão diretamente para os coordenadores. “Nos últimos quatro anos, a gente foi assumindo crescentemente funções de gestão de recursos, vinculados diretamente ao nosso CPF.”

Segundo ele, a situação é mais dramática para quem faz pós-graduação no exterior. Uma das alunas dele, que faz pós-graduação na Bélgica, relatou que esperou o pagamento no dia 6 para pagar o aluguel referente a  janeiro e fevereiro, que por lá deve ser feito antecipadamente, o que não aconteceu. 

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