A artista, cineasta, professora e ativista indígena Glicéria Tupinambá teceu uma nova peça com a força ancestral do povo de sua terra de origem na Bahia, a aldeia Tupinambá de Olivença, na Serra do Padeiro, em 2021. Indumentária tradicional do povo Tupinambá foi produzida por ela, inspirada nos originais do século XVI, que foram levados pelos colonizadores para museus da Europa permanecendo inacessíveis para a maioria dos brasileiros. A própria artista somente viu um deles em 2016 por fotografia.
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Nesta terça-feira (6), às 11 h, a exposição “Um Século de Agora” será completada por mais uma obra, o manto Assojaba Tupinambá. Entre cânticos, a indumentária tradicional daquele povo será colocada em seu lugar na mostra pelas mãos de Glicéria Jesus da Silva, também conhecida como Célia Tupinambá. Foi ela quem, em 2021, teceu a peça com cordão encerado com cera de abelha jataí e variedade de penas de pássaros do bioma Mata Atlântica, pássaro da região amazônica como araras, azuis e vermelhas.
De acordo com Glicéria, o manto é cura, assim como a cerâmica, as flautas e o canto do seu povo Tupinambá da Serra do Padeiro. Ela conta que tudo faz parte de um processo de pertencimento que se fortalece. Elaborado em 2021, mais do que uma peça finalizada, ele é uma instalação que demonstra o processo do seu feitio.
“O manto se faz, ele é uma personalidade. Entendi o que estava guardado pelas anciãs da nossa comunidade, os artefatos de uma arte milenar trazida pelo cosmo, como um ritual que está se concretizando, se formando”, conta Glicéria. “Resolvi mostrar isso para que as pessoas conheçam a complexidade do manto para além do capuz, da malha e das camadas de penas que o compõem, com uma estrutura que representa a transformação e resistência do nosso povo em todas as etapas que vivemos”, explica.
A artista defende o resgate, a volta ao início de uma identidade cada vez mais ameaçada. Representante de seu povo junto à Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), ela só teve o primeiro contato com o manto em 2006, por fotografias. Isso porque a indumentária emplumada tradicional dos Tupinambás, encontrada pelos colonizadores no século XVI, foi levada para museus da Europa e ficou inacessível à maioria dos brasileiros. Decidida a revitalizar esse símbolo de memória e resistência, Glicéria resolveu confeccionar uma réplica, que hoje faz parte da coleção “Os Primeiros Brasileiros”, do Museu Nacional (RJ). A peça não foi atingida pelo incêndio que destruiu grande parte do acervo da instituição em 2018 porque, naquele momento, estava no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília.
Manto indígena confeccionado pela artista e ativista indígena Glicéria Tupinambá | Foto: Itaú Cultural/ Divulgação
SOBRE A ARTISTA
Atualmente com 39 anos, Glicéria, ou Célia Tupinambá, participa intensamente da vida política e religiosa dos Tupinambá, envolvendo-se, sobretudo, em questões relacionadas à educação, organização produtiva da aldeia, serviços sociais e aos direitos das mulheres. Ela lecionou por cerca de 20 anos como, professora no Colégio Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (CEITSP) e cursa a Licenciatura Intercultural Indígena no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). Foi presidente da Associação dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP), sendo responsável pela aprovação e gestão de projetos voltados ao fortalecimento da aldeia. Atuou na Articulação dos Povos e Organização Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e foi membro da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI). Ainda, representa seu povo junto à Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres). Realizou em 2015, o documentário “Voz Das Mulheres Indígenas” (17min.), que reúne depoimentos de mulheres indígenas da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas acerca de suas trajetórias no movimento indígena. Disponível em: YouTube
Desde então, continua trabalhando na área audiovisual, realizando vídeos com o grupo jovem da comunidade. Em 2010, após uma audiência em Brasília, em que denunciou ações violentas da Polícia Federal contra seu povo, foi presa, junto a seu bebê de colo, episódio que suscitou veementes críticas de entidades do Brasil e exterior. Desde então, é assistida pelo Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
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A EXPOSIÇÃO
Três curadoras assinam a exposição “Um Século de Agora”, que permanece em cartaz no Itaú Cultural até 2 de abril de 2023. A sergipana Júlia Rebouças, a baiana Luciara Ribeiro e a matogrossense Naine Terena de Jesus foram chamadas pela instituição para curar esta mostra, que se insere nas discussões de 2022 sobre a Semana de Arte Moderna. Para puxar este legado em uma releitura que desemboca na prática artística na atualidade no país, elas pesquisaram o que está sendo produzido em algumas regiões do território nacional, a partir de uma multiplicidade de idades, geografias e vivências sociais e políticas.
Idealizada e realizada pelo Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural, com expografia da arquiteta Isa Gebara, Um século de agora procura abrir terreno para ideias que atravessam a experiência de viver o ano de 22 do século XXI. Nos três andares do espaço expositivo da instituição, a mostra apresenta mais de 70 obras em variados suportes, assinadas por 25 artistas e coletivos de 11 estados brasileiros, cuja produção artística converge na construção de “agoras” e compõe um mosaico da cultura brasileira.
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PERDER A IMAGEM
No sábado (10), às 15h, será inaugurada “Perder a Imagem”, instalação sonora criada por Tiganá Santana com inspiração no pensamento da pesquisadora e estudiosa das formações dos quilombos Beatriz Nascimento (1942-1995), que completaria 80 anos em 2022 – grande parte dedicados à luta antirracista e ao movimento negro organizado nos anos 1970 e 1980. É uma experiência imersiva e sensorial que se estende pelo piso térreo do Itaú Cultural. Ela será visitada em pequenos grupos de até 15 pessoas, pelo tempo da composição – 20 minutos de música instrumental e a voz sussurrada de Tiganá, com participação especial de Juçara Marçal. Durante o percurso pelo espaço, composto de fibra de coco e com espelho d’água por onde também se pode caminhar, o público é envolto pela música que sai do chão, paredes e teto.
(Com assessoria de imprensa)
SERVIÇO
Cantos para o Manto Tupinambá na exposição “Um Século de Agora”, com Glicéria Tupinambá
Quando: Terça-feira (6), às 11h
Onde: Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, próxima à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a domingo, das 10h às 18h
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Perder a Imagem
Instalação sonora de Tiganá Santana
Grupos de, no máximo, 15 pessoas em visitas de 20 minutos
Terça-feira a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados das 11h às 19h
Entrada gratuita
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108, com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas
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