Ser crítico e humanista

O homem crítico e humanista de nosso tempo não deve fugir dos desafios explicativos e nem dos debates. Deve observar analisar, acompanhar os fatos, os depoimentos, as narrativas, mesmo sabendo que muitas delas não cabem respostas. Entender que no seu pensamento há sementes que poderão germinar num solo fértil, repleto de potenciais e que seu compromisso é de despertar potenciais e preservar a vida. O homem crítico tenta irrigar as mentes humanas, na qual, a alta modernidade tende a secar, criar desertos, colocar uma pá de cal sobre o ato do pensar e, os exemplos estão aí, na tentativa de tornar todos os cérebros secos, estéreis, opacos.

Lutar, resistir, despertar, pensar, sempre e não devemos nos contentar com o que existe, devemos buscar sempre melhorar o mundo ao nosso redor, para que se torne um lugar melhor para viver a tudo e a todos que formam a grande teia da vida.

Gonzaguinha, grande compositor e cantor, que com muita sensibilidade, nos deixou um belo legado, principalmente para nossa juventude, que chamava de rapaziada, no seu disco “Sementes do Amanhã” com poesia e paixão expressou a seguinte mensagem, pertinente para pensarmos o tempo que vivemos hoje, dizia: “ontem um menino que brincava me falou, hoje é a semente do amanhã, para não ter medo que esse tempo vai passar. Não se desespere e nem para de sonhar. Nunca se entregue nasça sempre com as manhãs. Deixe a luz do sol brilhar, no céu de seu olhar. Fé na vida fé no homem fé no que virá, nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será.”

Ser sementes do amanhã é o desafio, é sem dúvida uma grande oportunidade para expressar esse potencial que nós seres humanos temos. Mas como avançar se as amarras instrumentais de nosso tempo nos fazem reféns e puxam para trás?

No cotidiano superar a ausência de diálogos, pelo contrário buscar sua ampliação, pois esses se fazem necessário e com eles as decisões concretas no encontro de equilíbrios entre os avanços técnicos científicos, os direitos sociais, humanos e a conservação da natureza. Isso para definir um traçado mínimo de modelos sócio econômicos, cultural, político e ambiental possíveis.

Se o caminho democrático é o meio mais viável para concretizar tais conquistas, então vamos aperfeiçoar o gesto democrático. Não de uma democracia eleitoral e que atenda aos interesses do mercado que comanda a troca de poderes para manter tudo e sempre igual. A democracia amadurece quando rompe esta miopia enganatória da supremacia econômica e amplia a noção e visibilidade social, humana e ambiental.

Pensamos e imaginamos uma narrativa democrática que ultrapasse as convenções em curso, propondo avanços, novos formatos. Neste sentido há necessidade de abandono de uma democracia de baixa intensidade, baixa densidade para conquistar uma democracia de alta intensidade, com densidade participativa, colaborativa e distributiva. Que contemple todo seu território, sua população, sem privilégios de segmentos populacionais e nem tão pouco regionais onde todos são tratados e contemplados no rol de uma cidadania emancipatória.

Mas estas ainda são conquistas ao longo da caminhada. Elas terão que emergir pela abrir fronteiras. Talvez, num primeiro momento, não identificaremos como novas concepções, pois delas nada conhecemos nada sabemos. Se soubermos, elas não são novas, são fatos encobertos pela película do novo. E estas têm força de apresentar-se com realidade ilusória que nos envolve nos atrai, nos contamina, nos engana. Talvez tarde seja, porém ainda a tempo, de superar esta falta de autenticidade, pela aparência do engodo repetitivo de uma derme enfeitiçada apresentando-se como camaleão.

Entendemos que será laboriosa essa reconstrução, pois velhos materiais estão aí postos como os únicos para a edificação. Necessitamos definir, no caminhar, estes novos formatos e dispensar materiais antigos e utilizar outros artefatos e criar e inovar outros tantos. Assim podemos, assim caminhamos, sem um destino definido, porém, com experiências da condição humana que nos conduziu até aqui definidas pela razão, agora acompanhada pela sensibilidade de um coração que sangra que foi e é marca de nossa espécie.

Paulo Bassani é cientista social, escritor e prof. universitário

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