Os óculos usados em treinos pelos goleiros da Suíça melhora a visão de jogo dos atletas estimulando os reflexos rápidos, afirma o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier de Campinas (SP). “A agilidade no campo de futebol e outras atividades está associada à visão periférica que nos faz acreditar que enxergamos mais do que o cérebro processa” pontua.
Normalmente, explica, nosso cérebro descarta 80% das informações visuais que recebemos porque enxergamos com nitidez através de uma pequena porção central da retina, a mácula, que tem em torno de 1,5 milímetro. Significa que só enxergamos com precisão o que está literalmente na frente de nossos olhos. “Esta é a razão do reconhecimento instantâneo das imagens estáticas e da demora de 0,5 a 0,6 segundos das imagens em movimento.”
FORÇAR PARA FORTALECER
O oftalmologista explica que no campo de futebol e em outras atividades esta visão central é fundamental para o bom desempenho, mas a agilidade está associada à visão periférica que nos faz acreditar que enxergamos mais do que o cérebro processa. Este é o “pulo do gato” da tecnologia aplicada às lentes usadas pelos goleiros suíços. “Estes óculos são produzidos com lentes de cristal líquido que são estroboscópicas, ou seja, a transparência oscila, eliminando as imagens por milésimos de segundos”, pontua.
“O princípio desta tecnologia, usada por várias empresas, é o mesmo da musculação, ou seja, forçar para fortalecer”, explica o especialista. “A intermitência das imagens nas lentes constrói novas conexões neurais entre o olho e cérebro que forçam o cérebro a processar com mais agilidade e detalhes as imagens periféricas, além de melhorar o equilíbrio, aumentar a rapidez dos movimentos inclusive dos olhos e o tempo de reação” afirma.
Queiroz Neto ressalta que as jogadas de craques que muitas vezes nos surpreendem tem a ver com a capacidade de perceber tudo o que acontece ao redor, num piscar de olhos. No futebol, isso é conhecido como visão de jogo. Na oftalmologia como visão periférica. As lentes estroboscópicas oferecem 180 graus de visão periférica e isso está diretamente relacionado à melhor performance dos atletas.
AGREGAR MAIS HABILIDADES
O oftalmologista ressalta que a visão é o mais dominante dos sentidos. Responde por 85% de nossa interação com o meio ambiente e é decisiva nas competições esportivas. Outras habilidades visuais que fazem diferença em campo são a flexibilidade de foco, percepção de profundidade, acuidade dinâmica, boa mira, coordenação mão-pé, olho-pé.
“Por isso, nos EUA e Europa as equipes técnicas estão sempre em busca de novas tecnologias para treinar os olhos. Estes foram os casos do uso de diferentes aplicativos por vários países e até da prática de arco e flexa pela seleção da Alemanha quando jogou contra o Brasil. “Por aqui a aposta sempre foi o talento, mas o incremento da tecnologia para treinar a visão pode agregar mais habilidades ao talento dos atletas“, pondera.
OUTRAS APLICAÇÕES
Queiroz Neto ressalta que as lentes estroboscópicas também poder usadas no tratamento de ambliopia ou ‘olho preguiçoso” maior causa de cegueira monocular entre crianças. “A doença é decorrente do desenvolvimento assimétrico entre os olhos que ocorre até a idade de 8 anos” afirma.
O tratamento é feito com a oclusão do olho de melhor visão para estimular o olho mais fraco.” As lentes estroboscópicas têm sido associadas ao oclusor porque podem reduzir o tempo de tratamento das crianças”, explica.
“Alguns estudos também apontam estas lentes como terapia coadjuvante no tratamento de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção) porque ao forçar novas conexões neurais entre o olho e o cérebro melhoram a capacidade de concentração que é reduzida nos portadores deste transtorno”, pontua.
CONTRAINDICAÇÕES
O oftalmologista destaca que os óculos estroboscópicos não substituem os óculos de grau porque não têm a função de corrigir a refração. Embora o fabricante recomende para idosos, Queiroz Neto ressalta que pode agravar a fotofobia naqueles que têm catarata ou astigmatismo.
Em todas as faixas etárias também são contraindicados nos casos de epilepsia porque podem desencadear crises. “O ideal é que o uso seja indicado e supervisionado por um oftalmologista’, conclui. (Com informações da assessoria)
****
Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção ‘A cidade fala’. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.