Barcelona, Espanha – Eles são jovens, defendem clubes importantes e nunca viram a seleção brasileira conquistar uma Copa do Mundo. A geração nascida no século 21 chegou ao Catar para mostrar que o futebol sairá do Mundial com novos ídolos. E os primeiros expoentes desta nova era já começaram a aparecer.
Inglaterra e Espanha, as duas seleções que mais gols marcaram no torneio até aqui, foram carregadas por suas jovens estrelas nos jogos de estreia. Jude Bellingham e Bukayo Saka foram fundamentais nos 6 a 2 dos ingleses sobre o Irã; Pedri e Gavi comandaram a seleção espanhola no 7 a 0 diante da Costa Rica.
O quarteto é conhecido de quem acompanha o futebol europeu mais de perto. Mas a Copa do Catar é a primeira oportunidade de se transformarem em estrelas globais. Em um planeta bola que começa a se despedir de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo –ambos disputando seu quinto e último Mundial–, a procura por novas referências já começou.
Jude Bellingham – Inglaterra – 19 anos (29/06/2003)
O primeiro gol da Inglaterra sobre o Irã colocou Jude Bellingham na história das Copas. Ao abrir o placar para a goleada, o meio-campista de 19 anos tornou-se o primeiro jogador nascido no século 21 a marcar no torneio. Ele defende o Borussia Dortmund, da Alemanha, desde 2020, e nunca disputou uma partida da Premier League, o prestigiado campeonato inglês -foi comprado por 25 milhões de euros junto ao Birmingham City.
Mesmo com a pouca idade, Bellingham já encanta pela capacidade de colaborar tanto na defesa quanto no ataque. É o que os ingleses chamam de “box-to-box”, um meio-campista que atua de área a área.
“Ele tem tudo para ser o futuro capitão da Inglaterra. Ele é maduro, inteligente. Ele me faz lembrar de outro grande capitão, Bryan Robson: ele vai marcar gols, mas também sabe defender”, disse Gary Lineker, artilheiro da Copa do Mundo de 1986, e hoje comentarista da BBC.
Bukayo Saka – Inglaterra – 22 anos (05/09/2001)
Outro jovem inglês que se apresenta para o mundo nesta Copa é Saka, 22. O ponta é um dos destaques do Arsenal, surpreendente líder do Campeonato Inglês, e estreou no maior torneio do mundo marcando dois gols. A seu favor, ele tem a velocidade e a capacidade de se adaptar a diferentes funções -chegou a jogar até como lateral esquerdo no clube londrino durante a temporada passada.
Nascido em setembro de 2001, Saka era um bebê quando o Brasil superou a Inglaterra nas quartas de final do Mundial de 2002, no jogo em que se tornou um marco da campanha do penta. O goleiro David Seaman, que levou o histórico gol de falta de Ronaldinho, jogava no Arsenal.
Os gols de Saka diante do Irã tiveram, para o jovem inglês, um sabor ainda mais especial. Em 2021, na final da Eurocopa, ele perdeu um pênalti na disputa que definiu o título em favor da Itália, em pleno estádio de Wembley, casa maior do futebol da Inglaterra. Depois do jogo, Saka foi alvo de uma onda de ofensas racistas em suas redes sociais.
“Ele começou a temporada de forma maravilhosa pelo Arsenal e agora trouxe isso para a seleção. Ele é maravilhoso”, comentou após a estreia na Copa o ex-atacante Micah Richards, atualmente um dos mais respeitados analistas do país. O sucesso de Saka na seleção principal era aguardado com expectativa no país: ele destacou-se em todas as categorias de base, desde o sub-16.
Pedro González, “Pedri” – Espanha – 19 anos (25/11/2002)
O mundo pode ter conhecido Pedri, 19, e Gavi, 18, apenas nesta quarta-feira, mas na Espanha –e, principalmente, em Barcelona, onde atua– a dupla já está na boca dos torcedores há pelo menos dois anos. As alas mais empolgadas da imprensa espanhola não economizam nas comparações e tratam ambos como sucessores de Xavi e Iniesta. Pedri ganhou o Troféu Kopa, dado ao melhor jogador jovem do mundo, em 2021; Gavi levou o prêmio em 2022.
A vitória por 7 a 0 sobre a Costa Rica, na estreia espanhola da Copa, deve catapultar o otimismo com os dois jovens a um nível ainda mais alto. Empolgação à parte, a frieza dos números também joga em favor de ambos.
Em sua primeira temporada no Barcelona (2020/21), Pedri disputou 52 partidas e firmou-se na equipe titular. O desempenho o levou para a Eurocopa, e o garoto aproveitou a chance: Pedri foi o jogador que mais tentou passes no campo adversário em toda a competição (348), com 91,1% de acerto, segundo dados da Uefa. O desempenho convenceu Luis Enrique: Pedri nunca mais saiu do time.
No ambiente do clube, o jovem nascido nas Ilhas Canárias é tratado com o cuidado de um gênio. Nos bastidores do clube, a ideia de construir a renovação do elenco em torno dele é praticamente unânime. “Não há talento maior no mundo do que Pedri. Ele é excelente. A forma como ele gira, o seu timing. É simplesmente fantástico”, disse Xavi, no início deste ano, ao ser perguntado sobre o meio-campista.
Contra a Costa Rica, Pedri não fez gol, mas foi o termômetro do meio-campo, ajudando a manter a posse de bola e ajudando a Espanha a encontrar espaços na defesa rival. A função deste tipo de jogador, que os espanhóis chamam de “interior”, é fundamental no sistema de jogo da seleção.
Pablo Gavira, “Gavi” – Espanha – 17 anos (05/08/2004)
Se Pedri ainda não marcou em Copas, o colega Pablo Gavira, o Gavi, estreou com um golaço, o quinto na goleada espanhola. Aos 18 anos e 110 dias, tornou-se o terceiro jogador mais jovem a balançar as redes em um Mundial, e o mais jovem desde Pelé, em 1958.
Meio-campista com muita qualidade no último passe e em plena evolução na chegada à área, Gavi foi uma das grandes apostas de Luis Enrique na seleção. Ele foi uma das peças da renovação após a Eurocopa, tendo como missão substituir Thiago Alcântara, um dos pilares da equipe. Ele quebrou recordes de precocidade: foi o mais jovem a disputar uma partida e, meses depois, a marcar um gol pela seleção campeã do mundo de 2010.
Até a Copa do Mundo, Gavi talvez fosse conhecido do público menos ligado ao futebol europeu por um fato inusitado: ele não sabia amarrar as chuteiras e jogava com os cadarços soltos. Neste ponto, o garoto também amadureceu: o chute que acabou com um dos gols mais bonitos da Copa até agora foi dado com as chuteiras bem amarradas.
E OS BRASILEIROS?
Uma Copa do Mundo com destaque dos jovens nascidos no século 21 pode ser boa notícia para a seleção brasileira, que estreia nesta quinta-feira (24), às 16h (de Brasília), contra a Sérvia. O grupo de 26 jogadores que Tite levou ao Qatar tem dois representantes nascidos a partir de 1º de janeiro de 2001: Rodrygo e Gabriel Martinelli.
Os dois pontas devem começar o duelo no banco de reservas, mas são parte de uma renovação ainda mais ampla, que inclui Vinicius Júnior e Antony, nascidos no ano 2000. Nenhum deles tem lembrança do último título mundial da seleção brasileira.
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