Goleada da diversidade

Três vira, seis acaba. Com uma atuação segura e praticamente sem falhas ofensivas, a Inglaterra estreou com uma sonora goleada diante do Irã, por 6 a 2, no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, no Grupo B da Copa do Mundo, nesta segunda-feira (21).

|  Foto: Fadel Senna/AFP 

Quando a História contar como foi esta movimentada partida com oito gols, no entanto, talvez outros aspectos chamem mais atenção dos estudiosos que o futebol dentro das quatro linhas.

Antes mesmo da partida começar, os dois lados quebraram o rigoroso protocolo da Fifa e se posicionaram contra a intolerância e pela diversidade. 

Do lado inglês, alertado pelas autoridades da Fifa, o capitão e astro do Tottenham Hotspur, Harry Kane, desistiu de usar uma braçadeira com os dizeres One Love, com detalhes coloridos da causa LGBTQIA+, One Love, e substituiu por outra, mais sóbria, onde se lia “No discrimination” (sem discriminação).

Antes do apito inicial os jogadores ingleses se ajoelharam, um protesto contra o racismo e pela igualdade racial, mas que também foi compreendido como uma crítica à intolerância do governo local com a comunidade LGBTQIA+ e contra o veto da braçadeira colorida.

Do lado iraniano, os jogadores se recusaram a cantar o hino nacional, o que foi interpretado como um protesto contra as violentas repressões do governo ao levante feminino provocado pela morte de Mahsa Amini. A jovem teria morrido sob custódia da polícia de costume após ser detida sem o véu islâmico, de uso obrigatório no espaço público.

Sangue africano

Como uma grande celebração pela diversidade em um emirado distante das tradições democráticas, o futebol da Inglaterra foi se impondo com o brilho de jogadores negros. 

O primeiro saiu aos 38 minutos, com um cabeceio do meio campo Jude Bellingham (Borussia Dortmund), de 19 anos. O segundo foi do apoiador Bukayo Saka (Arsenal), 21, que chutou de esquerda dentro da área aos 42. Três minutos depois, Raheem Sterling (Chelsea) aproveitou cruzamento de Kane e ampliou para 3 a 0. 

No segundo tempo, a hegemonia dos europeus persistiu, mantendo mais de 80% de posse de bola durante todo o jogo. 

Saka ampliou aos 16, após jogada individual, aproveitando uma jogada iniciada por Sterling.

Abatido e nervoso com um rendimento muito abaixo do previsto, o Irã teve um lampejo aos 19 minutos do tempo final, quando Gholizadeh (Charleroi-BEL) deu um passe precioso para a finalização de Mehdi Taremi, o badalado atacante do Porto: 4 a 1.

Mas a reação foi logo interrompida, com Marcus Rashford (Manchester United) fazendo 5 a 1 aos 25 do segundo tempo.

Pouco depois, o capitão Kane foi substituído e saiu ovacionado pela torcida, apesar de não fazer nenhum gol. 

Aos 43 minutos, o atacante do Newcastle United, Callum Wilson, invade a área, passa para o meia Jack Grealish (Manchester City), que amplia para 6 a 1.

Aos 57 do segundo tempo, Taremi ainda teve tempo de converter um pênalti e diminuir para 6 a 2. Foi a maior vitória inglesa numa estreia de Mundial.  

Sexta-feira, a Inglaterra retorna a campo contra os Estados Unidos, enquanto os iranianos recebem os galeses.

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