SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Carlo Ancelotti conquistou em 2014 o histórico título da Champions League com o Real Madrid. Histórico porque o clube conseguiu, enfim, livrar-se da “maldição da Décima”, uma referência aos 12 anos que separaram a nona conquista do décimo troféu europeu.
No entanto, ainda que a Champions tenha significado um lugar na história merengue para o técnico italiano, ele terminou sua passagem anterior pelo Real com uma espinha atravessada na garganta.
“Mesmo vencendo nove dos últimos dez jogos, era tarde. Já havíamos perdido LaLiga”, disse o treinador, sobre a campanha na temporada 2014/2015 do Campeonato Espanhol. O time terminou a campanha em segundo lugar, dois pontos atrás do rival Barcelona.
Neste sábado (30), com a vitória por 4 a 0 sobre o Espanyol, no Santiago Bernabéu, com dois gols do brasileiro Rodrygo, o Real Madrid conquistou o título de LaLiga. E Carlo Ancelotti já não tem contas pendentes. A taça da liga nacional era a única que faltava a ele no comando dos merengues.
Por isso a decepção pela perda há sete anos, quando seu time deixou a liderança da competição em março, após uma derrota para o Athletic Bilbao, e não conseguiu mais alcançar os rivais catalães.
Na sua primeira passagem pelo clube, entre 2013 e 2015, Ancelotti levou a equipe da capital espanhola às conquistas da Champions, da Copa do Rei, da Supercopa da Europa e do Mundial de Clubes.
Já no início desta nova etapa à frente do Real, sagrou-se campeão da Supercopa da Espanha e agora adiciona à lista a vitória em LaLiga.
“Eis aqui um treinador que não precisa de um conceito sobre o qual justificar as suas decisões. Prefere que elas se justifiquem por si mesmas e então se limita a levantar a sobrancelha e comentar o óbvio. Bom para o Real Madrid, que alcançou os seus maiores êxitos com treinadores desse tipo”, escreveu Alfredo Relaño, colunista do diário esportivo AS, da Espanha.
Apesar do currículo vitorioso construído nas últimas três décadas, Carlo Ancelotti é um técnico cujo estilo de jogo é muito menos discutido que os de seus pares da elite europeia. Também por conta de seu perfil, que aposta na discrição e na boa gestão de grupo. Ex-atleta, entende que são os jogadores os protagonistas e, portanto, que o sucesso pertence principalmente a eles.
Capacidade que faz, por exemplo, com que Vinicius Junior, 21, e Karim Benzema, 34, em momentos diferentes de suas respectivas carreiras, estejam realizando as suas melhores temporadas individuais com a camisa do Real Madrid.
O atacante brasileiro, que havia marcado um total de sete gols nas três temporadas anteriores de LaLiga, anotou 14 na atual campanha, além de 12 assistências. Números que atestam a sua melhora em frente ao gol e na finalização das jogadas.
Seu parceiro de ataque, Benzema, nunca registrou desempenho tão bom como nesta temporada. E Ancelotti tem um carinho especial pelo francês, comandado por ele na outra passagem. Segundo o técnico, a ausência do jogador foi um dos motivos pelos quais a equipe deixou escapar o título espanhol para o Barcelona em 2015.
“Sofremos principalmente com as contusões de Modric e Benzema porque não tínhamos substitutos imediatos para as funções específicas que desempenhavam e para suas qualidades”, afirmou o italiano.
“As pessoas veem Benzema somente como um atacante, mas ele também tem a habilidade de um meio-campista de talento. Ele tem tudo, é um jogador completo e fantástico.”
Se na experiência anterior com Ancelotti precisava abrir espaços para que Cristiano Ronaldo estivesse mais perto do gol, nesta temporada Karim Benzema se mostrou letal na frente dos goleiros adversários, atingindo os melhores números desde que chegou ao clube, em 2009.
Foram 26 gols e 11 assistências até aqui na conquista de LaLiga, além das 14 bolas na rede nas dez partidas que fez pela Champions League -média superior a um gol por jogo no prestigiado torneio.
Na próxima quarta-feira (4), o Real Madrid recebe no Santiago Bernabéu o Manchester City, pelo jogo de volta das semifinais da Champions. Na ida, no Etihad Stadium, o time de Pep Guardiola venceu por 4 a 3. Vitória por dois gols de diferença leva os espanhóis à decisão.
O clube merengue busca o seu 14º título europeu na história. Na décima conquista, Ancelotti estava lá. E já não há mais nenhuma pendência a ser resolvida pelo italiano antes de, quem sabe, levantar, a 15ª taça.