RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A guerra no Leste Europeu deve ter impactos no mercado global de minério de ferro, com impactos nos preços das commodities, disse nesta sexta-feira (25) a diretoria da Vale, em conferência com analistas para detalhar o lucro recorde de 2021.
A Rússia e Ucrânia são produtores relevantes de pelotas de minério, que são aglomerados de minério usados na produção de aço. Juntos, os dois países concentram cerca de 30% da oferta desse produto ao setor siderúrgico.
“A grande questão é o tempo que vai demorar essa tensão”, disse o vice-presidente de Ferrosos da Vale, Marcello Spinelli. “O impacto primário é muito mais voltado a plantas do leste europeu, porque países ocidentais têm alternativa.”
Ele afirmou que a guerra ocorre em um cenário de mercado apertado, o que pode pressionar ainda mais os preços. “Num primeiro momento, o impacto vai ser na produção e os preços de pelotas devem reagir”, continuou.
A Rússia produz cerca de dez milhões de toneladas por ano e a Ucrânia, cerca de 15 milhões, a maior parte dessa produção voltada para a siderurgia. O mercado global é de 120 milhões de toneladas, das quais 80 milhões são usadas em altos-fornos siderúrgicos.
Spinelli contou que a Vale tem recebido telefonemas de clientes europeus em busca de alternativas de suprimento, mas não deu maiores detalhes sobre negociações.
No encontro com analistas, o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo disse que, embora não haja ainda restrições no mercado, o início do conflito gerou “impacto especulativo” no preço do níquel, que já vinha subindo antes da crise.
A Rússia é o maior produtor global desse mineral. “O preço [do níquel] vinha reagindo antes da tensão política por questões de oferta e demanda”, afirmou. “É óbvio que houve aceleração após o conflito. Tem um impacto ainda especulativo, não há nenhuma sanção.”
O vice-presidente de Ferrosos da Vale destacou ainda que os combustíveis, que também vêm sendo impactados pela guerra, são um componente de custo importante na mineração.
Nesta quinta (25), a cotação do petróleo Brent, referência internacional de preços negociada em Londres, bateu a marca de US$ 105 (R$ 540, pela cotação atual) por barril pela primeira vez desde 2014. Ao fim do pregão, o preço recuou para US$ 99,08 (R$ 510).
Segundo executivo, cada US$ 10 (R$ 51) de alta na cotação representam US$ 0,21 (R$ 1) no custo de produção e US$ 0,09 (R$ 0,4) no frete de uma tonelada de minério de ferro.
Na quinta (24), a Vale anunciou o maior lucro anual já registrado por uma companhia aberta no Brasil, de R$ 121,2 bilhões, ultrapassando os R$ 106,6 bilhões anunciados pela Petrobras nesta quarta-feira (23), que detinha o recorde até então, de acordo com a Economática.
O desempenho foi impulsionado pelos preços recordes do minério, que chegou a superar a casa dos U$ 200 por tonelada no fim do primeiro semestre. Na média, a empresa vendeu minério de ferro pelo preço médio de US$ 104,5 por tonelada (R$ 538), 30,8% acima do verificado em 2020.
Com o resultado, a Vale propõs o pagamento de US$ 3,5 bilhões (R$ 18 bilhões) em dividendos a seus acionistas. A empresa já havia distribuído em 2021 US$ 7,4 bilhões (R$ 37 bilhões), como remuneração pelo desempenho do primeiro semestre.