Lideranças veem pouca influência das federações na eleição estadual

A possibilidade de criação de federações partidárias, estabelecida pela reforma eleitoral do ano passado, deverá ter pouca influência na eleição deste ano para o governo do Paraná, avaliam lideranças que estarão no centro das principais campanhas. Partidos interessados em formar federações deverão formalizar a união até o dia 31 de maio para concorrerem já nas eleições de outubro. As uniões deverão durar pelo prazo mínimo de quatro anos.

entrevista do ex governador do parana roberto requiao – foto: roberto custodio – folha de londrina – 25/11/2021 |  Foto: Roberto Custódio/25-11-2021 

No Paraná, o governador Ratinho Junior tentará a reeleição pelo PSD, cujo presidente nacional, Gilberto Kassab, vem prometendo lançar candidato próprio à Presidência da República. O principal adversário de Ratinho deverá ser o ex-governador Roberto Requião, atualmente sem partido (ele deixou o MDB em agosto do ano passado). Requião apoia a possibilidade de criação de federações, mas diz que seu grande objetivo é formar uma frente ampla de oposição ao atual governo, independentemente de partidos.

Promulgada em setembro do ano passado, a lei 14.208 estabelece que as federações serão nacionais e válidas por quatro anos. Os partidos terão candidatos únicos aos cargos majoritários (presidente, senador, governador e prefeito) e listas únicas para as eleições proporcionais (vereadores e deputados estaduais e federais) – como foi até a eleição de 2016, já que as coligações proporcionais foram extintas em 2017. Os candidatos mais votados dentro de cada lista ficam com as cadeiras correspondentes a cada federação ou partido, a partir da votação geral.

No plano nacional o PT vem negociando a formação de uma federação com partidos como PCdoB, PSOL, Rede e PSB – uma das siglas que poderão acolher Requião. A entrada do PSB geraria uma crise entre deputados estaduais do Paraná, que já declararam apoio à reeleição de Ratinho Junior, como mostrou reportagem da FOLHA. O governador apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018 e recentemente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou apoio antecipado a uma possível candidatura de Requião ao governo neste ano.

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FRENTE AMPLA

Requião diz que a escolha de seu futuro partido será coletiva e que levará em conta a posição de apoiadores de outras legendas que deverão participar de sua campanha. “A federação também pesa. Mas vou decidir com o pessoal que está comigo. São amigos do PT, do PCdoB, do PSB, da Rede”, afirma o ex-governador, que diz ter como prioridade articular uma frente de oposição ao atual governo. “Fui três vezes governador, tenho uma marca própria, independentemente do partido”, diz.

O ex-governador não descarta o ingresso no PSB, mesmo após as negativas do presidente estadual da sigla, Severino Araújo. “O PSB era contra mim, agora está colado no Ratinho. Recebi o convite do PSB nacional e não estou acompanhando de perto (as negociações para a formação de uma federação). Acho que eles todos vão sair do PSB”, diz Requião, que vê com bons olhos as federações. “Dificulta para o mercado político”. 

QUADRO 

|  Foto: Dálie Felberg /Alep 

Ex-secretário de Ratinho Junior e pré-candidato ao Senado neste ano, o deputado estadual Guto Silva (PSD) avalia que a possibilidade de federações participarem da eleição ao governo terá pouca influência, mas também prevê uma mudança na formação da Assembleia caso os quatro deputados estaduais do partido (Luiz Claudio Romanelli, Artagão Junior, Alexandre Curi e Tiago Amaral) deixem a sigla. 

“Diante do quadro, não acredito que haverá grande mudança no cenário eleitoral do Paraná, são partidos que em sua essência não estão alinhados com o governador Ratinho Júnior”, afirma Guto Silva em relação às legendas com discussões mais avançadas para formar uma federação, a maioria de esquerda ou centro-esquerda. A tendência é que Ratinho tente repetir uma coligação que o levou à vitória na eleição de 2018, que tinha oito partidos além do PSD: PSC, PV, PR, PRB, PHS, PPS, Podemos e Avante. “A grande dúvida será a questão do PSB, pois alguns deputados estão se movimentando para sair. Essa será a grande alteração caso a federação se configura”. 

AVANÇO

O cientista político Emerson Urizzi Cervi, do Departamento de Ciência Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná), destaca que a situação do PSB no Paraná é diferente do restante do país, onde os diretórios regionais vêm resistindo à criação de uma federação por terem a intenção de lançar candidatos próprios. “O PSB do Paraná não quer lançar candidato próprio, quer apoiar a reeleição do Ratinho, que por sua vez apoia o Bolsonaro. A federação com PT e PSB obrigaria o PSB do Paraná a oferecer um palanque para o Lula no estado, e isso eles não querem”. 

Para Cervi, as federações representam um avanço em relação às coligações. “As coligações sempre foram criticadas por serem muito voláteis e movidas por outros interesses. As federações superam isso e as relações são mais constantes”, avalia. “Ninguém sabe se o Congresso fará uma nova mudança em 2023, mas no momento a aposta é que as federações, ao entrarem em funcionamento, deem uma característica mais organizada para as relações entre os partidos”.

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