SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto brasileiros trocam a Bolsa de Valores por aplicações em renda fixa, estrangeiros buscam lucros com ações de algumas das principais empresas do Brasil, mostra uma análise da XP sobre dados recentes do mercado acionário do país. Valorização das commodities, taxa de juros em alta e uma tendência de correção das principais bolsas globais são os motores desse carrossel.
O saldo dos aportes de estrangeiros no mercado de ações do país neste ano é de aproximadamente R$ 47,3 bilhões, segundo dados da B3, a Bolsa do Brasil. O resultado é 74% maior do que o volume acumulado de janeiro e fevereiro do ano passado, que foi de R$ 27,2 bilhões
Fundos de investimentos brasileiros, porém, diminuíram suas posições em ações em R$ 3,7 bilhões em dezembro, último dado disponível. A saída havia sido maior em novembro (R$ 20,5 bilhões) e, principalmente, em outubro, quando houve um fluxo negativo de R$ 57,1 bilhões.
Jennie Li, estrategista de ações da XP, atribui ao conturbado cenário econômico mundial essa rotação de estrangeiros e brasileiros na Bolsa. Enquanto bancos centrais em todo o mundo ajustam suas taxas de juros para enfrentar uma inflação global gerada pela desorganização das cadeias de suprimentos durante a pandemia, investidores trocam ativos em suas carteiras em uma tentativa de amenizar prejuízos e lucrar com oportunidades.
“Estamos vendo muitos resgates [na Bolsa, realizados por meio de fundos de investimento], principalmente no varejo, que provavelmente são de investidores locais tentando se proteger após um desempenho difícil da Bolsa em 2021”, comenta a analista. O Ibovespa fechou o ano passado em queda de 11,93%.
Os principais investidores da Bolsa brasileira são estrangeiros. Eles representam 53,2% do capital aplicado. Instituições financeiras (26,2%) e pessoas físicas (15,7%) são os outros grandes grupos de participantes do mercado.
“Vemos estrangeiros entrar [na Bolsa], fazendo movimento de rotação entre ações de crescimento para valor. Lá fora as ações de tecnologia estão caindo muito e, aqui dentro, empresas de valor, como as de commodities e bancos, estão se valorizando puxadas por estrangeiros”, diz a estrategista da XP.
Enquanto a Bolsa caía, o Banco Central promovia uma forte aceleração da taxa básica de juros (Selic), que passou de 2% para 9,25% de janeiro a dezembro de 2021, tendo alcançado em 2022 o atual patamar de 10,75% ao ano. A medida, adotada para domar uma inflação de dois dígitos, vem “tornando a renda fixa cada vez mais atrativa” para o investidor brasileiro, afirma Li.
Para investidores internacionais, porém, a situação é diferente. Eles tiveram lucros extraordinários nos principais mercados globais em 2021, com destaque para os resultados nos Estados Unidos. O índice S&P 500, referência do mercado de ações de Nova York, entregou ganhos de 28%.
Juros praticamente zerados e injeções de dinheiro no mercado por meio da compra de ativos foram o fermento utilizado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para que esse bolo crescesse tanto.
Em 2022 a situação é diferente. O S&P 500 recuou 6,8% do início do ano até esta quarta (16). A Nasdaq, bolsa que concentra empresas de tecnologia e que possuem maior potencial de crescimento, já afundou 10,7%.
As quedas no mercado americano ocorrem devido à expectativa de que o Fed será forçado a promover um forte aperto monetário para controlar a maior inflação do país em 40 anos. O ajuste está previsto para março, mas a autoridade monetária não tem sido clara sobre quanto e em qual velocidade irá elevar os juros.
Enquanto esperam uma definição sobre o tamanho do ajuste, investidores liquidam ativos encarecidos pelas altas recentes nas principais bolsas e buscam papéis desvalorizados e promissores em mercados emergentes.
O Brasil aparece com destaque entre as opções devido ao momento favorável às suas empresas de maior valor, principalmente no setor de materiais básicos. Pontos fortes das commodities brasileiras, petróleo e minério de ferro estão em alta.
Também atraente aos estrangeiros, o sólido setor bancário é avaliado como promissor. Em um ambiente de juros em altas, investidores esperam ampliar lucros com ações desse segmento.