RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em poucos minutos, Elenir de Souza viu ruir o que levou 38 anos para construir. Moradora da Vila Felipe, bairro de Petrópolis (RJ), ela precisou sair de casa às pressas porque parte do imóvel desabou em razão das fortes chuvas que castigaram a cidade nesta terça-feira (15), matando pelo menos 44 pessoas e deixando mais de 300 desabrigados.
“Foi uma luta muito grande para eu construir minha casa e perder tudo assim tão de repente, é muito doloroso. É uma tragédia. O meu bairro acabou. Eu moro na Vila Felipe há 38 anos. São 38 anos de muita história, mas a vila acabou”, disse ela, enquanto outros desabrigados procuravam roupa em uma igreja batista localizada no bairro de Alto da Serra, uma das áreas mais afetadas pelos temporais.
“Só saí com documento de casa e mais nada. Nós chegamos ao abrigo completamente enlameadas”, conta Elenir, acrescentando que perdeu no temporal muitos vizinhos. “Casas desceram morro abaixo. Várias amigas morreram. Filhos, maridos e netos morreram”, diz ela, contando nos dedos os amigos e vizinhos que perderam a vida.
A estudante Emily dos Santos,15, também perdeu pessoas próximas. “A minha avó está soterrada. O meu primo de quatro aninhos está com ela. É realmente muito triste. Não tem o que falar nessas horas”, diz a jovem, cuja prima e o filho dela de dois anos também estão desaparecidos.
Ela conta não ter ouvido o momento em que as casas começaram a desabar e diz que a família foi alertada por sua avó paterna.
“Foi tudo muito de repetente. A minha mãe estava cozinhando feijão e não escutamos as casas do lado caindo. A minha outra avó conseguiu ver e começou a gritar. Quando a gente saiu, a casa desabou. Foi realmente Deus protegendo a gente. Mais um minuto e não ia dar, porque não sobrou nada.”
Sentada com a família em uma praça de Alto da Serra, ela diz que os abrigos lotaram e que, por isso, não conseguiu vaga nas unidades. “A gente só quer um abrigo ou algum lugar para ficar. Estamos cheios de crianças, sem comida e sem água”, diz ela, que estava na praça com a família desde as primeiras horas da manhã.
Ali ao lado, Carla dos Santos, 35, mãe da jovem, segurava uma criança no colo sem saber como iria fazer para o almoço. Ela só tinha comido um pedaço de pão, entregue por uma pessoa que mora no entorno da praça. Já a água que eles tinham para beber havia sido dada por um bombeiro.
“A gente não sabe o que fazer. A gente não sabe para onde ir. Estamos ao Deus dará, esperando para ver o que vai acontecer. Só que estou mais interessada em saber notícias da minha mãe, que está desaparecida”, diz ela.
A alguns metros dali, Carlos Alberto, 56, conta que uma amiga morreu nesta terça-feira, quando o ônibus em que estava caiu dentro de um rio durante o temporal.
“Ela estava desaparecida e, quando fui ver no Whatsapp, descobri que ela tinha morrido. Nós tínhamos esperança de encontrá-la com vida. É a mesma esperança que temos agora de encontrar com vida amigas nossas que estão desaparecidas aqui”, disse ele, apontando direção a um morro enquanto outros desabrigados desciam com trouxas de roupas sobre os ombros. “Não existe outro sentimento que não seja de tristeza.”