SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A bola teimava em não entrar. A ‘zica’ vivida por Aloísio Boi Bandido no início do Campeonato Brasileiro de 2012 parecia não ter fim. Seu time, o Figueirense, não saía da zona do rebaixamento, técnicos caíam e ele seguia errando o gol. Foram 12 jogos em jejum até algo inusitado mudar tudo: uma ‘caixa’ de cerveja.
Em participação no podcast ‘Oscarcast’, comandado pelo meia Oscar, do Shangai (CHN), o atacante contou como uma promessa quebrada acabou transformando-o em um dos artilheiros do torneio nacional daquele ano.
“Fiz uma promessa: um ano sem tomar álcool pra focar ainda mais no meu futebol. Nem vinho, nem cerveja. Aí fui bem demais no Catarinense, fiz 15 gols, mas acabamos perdendo a final e começou o Brasileiro. Eu estava com uma zica. Contra o Botafogo, driblei o zagueiro, driblei o Jefferson, só que quando eu bati veio algum maluco e tirou a bola de dentro do gol. Falei ‘não é possível’. Botafogo foi lá e 1 a 0”, contou Aloísio em mesa com o atacante Elkesson, que atuou pelo Botafogo naquele dia. Os dois jogavam juntos no Guangzhou Evergrande, mas retornaram recentemente ao Brasil.
Depois daquele jogo, Aloísio pediu para ir embora. Logo no vestiário conversou com o técnico Hélio dos Anjos, disse que estava atrapalhando o time e queria sair, mas ouviu ‘não’ como resposta do treinador. Ligou, então, para o empresário e pediu um time na Série B ou até C, mas foi aconselhado a permanecer, sob a promessa de que no fim do ano sairia para um time melhor. Naquele dia, Aloísio duvidou: ‘como é que você vai conseguir um time bom? Faz 12 jogos que eu não marco’.
Quando voltou à Florianópolis, Aloísio resolveu quebrar a promessa feita no começo do ano e acabar com o jejum de álcool que já durava oito meses.
“Eu não podia nem sair na rua. Torcedor me xingando. Meu compadre me pegou no aeroporto. Falei: passa lá no posto, compra 15 pra mim, 15 Stella. Tomei. Não desci do carro, os caras queriam me matar. Fomos pra minha casa, comecei a tomar minhas Stellas depois de oito meses sem beber. Acabaram as 15, pedi mais 15 -já que estamos fazendo o negócio, vamos tirar esse atraso”.
“Tínhamos jogo em Recife contra o Sport, a gente numa zica. Jogo era na outra semana, não tinha treino nem nada no outro dia. Chegou contra o Sport: 1 a 0, gol meu. Um golaço. Meu compadre mandou mensagem na hora: ‘não é possível’. Chego a me arrepiar falando. Voltamos, jogo contra o Coritiba: fiz três gols e pedi música. Fui um dos artilheiros do Brasileiro neste ano, eu, Neymar e Barcos empatados em terceiro. Uma cervejinha faz bem, cara, não pode beber muito, mas faz bem. Não vai ficar enchendo a cara toda hora, mas às vezes é bom. Eu fiz a promessa, não cumpri, mas, pô, foi o que me levou para o São Paulo. Eu nunca contei, porque não é legal ficar falando isso, mas é a verdade. Relaxei ali, tirei o peso”.
O apelido de Aloísio, ‘Boi Bandido’, hoje atacante do América-MG, começou ainda no Figueirense, mas acabou extrapolando o clube e se popularizando no São Paulo time para o qual Aloísio se transferiu logo depois da boa temporada no time catarinense.
“Veio da novela América. É pelo meu jeito de treinar, eu chegava derrubando os caras no treino. Meu porte físico é forte, e no treino eu batia nos caras e derrubava, e os caras falavam ‘calma’. Mas é meu jeito, não consigo mudar. Aí falaram que eu parecia o Boi Bandido da novela. Quando fui para o São Paulo, na entrevista já perguntaram. Em um treino no São Paulo logo no começo, a bola sobrou para o Alisson, eu saí (correndo) para chegar na jogada, só que antes de chegar nele eu tropecei. Sabe quando pega o bico do pé no chão? Eu dei de ombro, de cabeça, no peito dele. Atirei ele morto assim (no chão). Acabou com o treino. Luis Fabiano, os caras todos, falando ‘não é possível que você fez isso’, ‘você é o Boi Bandido mesmo’. Aí ficou”, lembrou.
O atacante se assustou com a dimensão que tomou o apelido quando passou por um episódio em um aeroporto quando ia viajar com o São Paulo.
“Eu nunca tive problema com o apelido, mas chegou um momento… Cheguei no aeroporto, tinha dois caras no caixa eletrônico, eu passei com a mochila e escutei: ‘aquele ali não é o jogador do São Paulo? Como é o nome dele?’, e o outro respondeu, ‘é o Boi Bandido, o nome eu não sei, não’. Aí eu falei ‘ih, agora pegou, não sabem mais nem meu nome”, riu.
O meia Oscar, ex-São Paulo e Inter, criou recentemente o podcast OscarCast com intuito de contar um pouco sobre o futebol chinês e as histórias dos brasileiros por lá.
“A ideia de fazer o podcast surgiu em uma conversa de amigos. A gente gosta muito de futebol e queríamos contar as histórias dos jogadores daqui da China. A gente se inspirou nos podcasts do Brasil. Queremos fazer um bate-papo e mostrar o nosso lado, de quem está aqui na China que é longe, mostrar um pouco do futebol chinês. Estou achando muito legal”, contou à reportagem.
Ao lado de Oscar, participam do podcast Guilherme Milani e Lorenzo Panero, amigos do meia. No primeiro episódio, com Elkesson, o chinês Yunhua Shen também participou da mesa. Já no segundo, focado em Aloísio Boi Bandido, Elkesson também participou. Oscar, porém, não pensa em seguir carreira na comunicação. Pelo menos não por enquanto.
“Seguir a carreira na comunicação é mais difícil (risos). É muito mais fácil jogar futebol. Temos que pensar na carreira após o futebol, claro, mas no momento ainda não penso. Está sendo legal, quem sabe se der certo a gente não continua fazendo depois”.