Como demissões em massa podem ajudar Fed e beneficiar big techs

Os Estados Unidos vivencia anúncios de demissões em massas nas maiores empresas de tecnologia, chamadas de big techs. Amazon, Microsoft, Twitter, Meta e Alphabet (Google) comunicaram recentemente cortes no quadro de funcionários. O país enfrenta a maior inflação em 40 anos e elevações sucessivas nos juros estão sendo anunciadas para desacelerar a economia. Com juros mais altos e condições financeiras mais apertadas, empresas reduzem a força de trabalho para se protegerem do cenário mais adverso. A notícia ruim para os trabalhadores, no entanto, pode frear o aperto monetário e, consequentemente, beneficiar… as próprias big techs.

Apesar do esforço do banco central norte- americano, o Federal Reserve (Fed), em contrair a economia, o mercado de trabalho continua forte e tem sido um dos principais fatores de para o Fed continuar com o aperto monetário. A perspectiva de continuidade na elevação dos juros prejudica as empresas do setor, que são bastante afetadas pela elevação dos juros pelo encarecimento do crédito. Quando os juros são elevados, os custos de empréstimos e dívidas aumentam, o que pode afetar a capacidade das empresas de investir em novos projetos e expandir suas operações. Para lidar com esses desafios financeiros, essas empresas estão adotando estratégias para cortar custos, incluindo demitir funcionários em massa. No entanto, essas demissões também podem ser vistas como uma estratégia para ajudar a desaquecer a economia americana. “Naturalmente, todos esses números ajudam a reduzir o ímpeto do forte mercado de trabalho nos Estados Unidos, um dos pilares por detrás do surto inflacionário atual, o maior em 40 anos. Em continuando esse movimento, o ajuste macroeconômico da inflação poderá ser agilizado pelos layoffs. Mas até o momento, as estatísticas mostram ainda uma robustez do mercado de trabalho e ainda vemos apenas a queda no percentual de desempregados. Ou seja, ainda tem água para passar debaixo dessa ponte americana”, diz Rodrigo Correa, estrategista chefe e sócio da BRA BS.

Vários dados ainda mostram robustez no mercado. O mais recente são os pedido de auxílio desemprego, que seguem abaixo da média esperada pelo mercado. Os pedidos recuaram 6 mil na semana encerrada em 21 de janeiro, para 186 mil, abaixo da previsão de 205 mil, e nem mesmo as demissões em massa parecem estar ajudando a arrefecer o mercado de trabalho.

O setor de tecnologia registrou mais de 150 mil desligamentos em 2022, de acordo com o site de rastreamento Layoffs.fyi e o movimento de novos cortes segue prevalecendo nos planos das empresas para este ano. “Não acho que é movimento articulado para fazer economia desaquecer, é um movimento ligado ao momento econômico mais desafiador. Elas estão tentando diminuir os custos para manter o resultado”, diz Rafael Marques, economista da Philos Invest. O especialista, no entanto, ressalta que o mercado de trabalho está demasiado aquecido para um país que busca inflação no patamar de 2%.

Segundo Correa, os layoffs nas empresas de tecnologia representariam apenas 2,6% de todos os desempregados dos Estados Unidos. “Olhando de outra forma, a maioria dessas empresas contrataram nos últimos dois anos um número superior ao que agora demite. Ou seja, ainda que seja impressionante falar em 150 mil desempregados, em termos relativos, é pouca gente e a contribuição em desemprego foi muito menor que em geração de empregos.”, diz.  

Embora essas demissões possam ajudar a estabilizar a economia americana, elas têm um impacto negativo sobre os trabalhadores e suas famílias. As demissões em massa podem causar instabilidade econômica e social, e podem levar a uma diminuição da confiança do consumidor e do investimento, assim como podem obrigar o governo americano a injetar recursos na economia para apoiar a população, podendo causar um novo revés altista na inflação.

Confira abaixo os planos de desligamentos anunciados por cada empresa.

– Spotify, 600 pessoas, 6% da força de trabalho
– Alphabet (Google), 12.000 pessoas, 6% da força de trabalho
– Microsoft, 10.000 pessoas, 5% da força de trabalho
– CoinBase, 950 pessoas, 20% da força de trabalho
– Amazon, 18.000 pessoas, 1,2% da força de trabalho
– Salesforce, 7.000 pessoas, 10% da força de trabalho
– Twitter, 5000 pessoas, 75% da força de trabalho
– Meta, 11.000 pessoas, 13% da força de trabalho. 

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