Como minimizar as chances de miopia em crianças

São Paulo –  Foi necessário percorrer diferentes lojas até encontrar um par de óculos nas cores que Rafael, 9, desejava, mas quando ele colocou o acessório azul e amarelo no rosto, não tirou mais. O medo de “ficar feio” passou e ele aceitou o diagnóstico de miopia, doença que cresceu entre crianças e jovens de até 19 anos na cidade de São Paulo.

Para especialistas, a alta de casos de miopia -a dificuldade de enxergar de longe, grosso modo- está relacionada ao uso de telas, intensificado durante a pandemia de Covid-19 com o ensino remoto e o isolamento. Foi assim com Rafael e com a irmã, Júlia, 6. “Com a pandemia, eles ficavam na frente da tela o tempo inteiro, inclusive na hora de dormir, no almoço e no jantar, e resolvi levá-los ao oftalmologista para ver se estava tudo bem. Quando chegamos lá, ele estava com 1,25 grau de miopia e ela com 0,5”, lembra a mãe, Fernanda Vicola Barbosa.

“O nosso olho continua em formação na infância, ele não nasce pronto, e nesse desenvolvimento ele sofre influência do ambiente e das atividades que fazemos”, explica Ricardo Paletta Guedes, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Nesse sentido, a redução das brincadeiras ao ar livre e as horas em frente a videogames, tablets e celulares, que exigem apenas a visão de perto, estão literalmente mudando a forma como os mais novos veem o mundo.

“Quando as crianças ficam menos horas expostas à luz do ambiente externo, as estruturas fotorreceptoras não são estimuladas e o olho cresce mais, favorecendo a miopia”, comenta a médica Luisa Hopker, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica.

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O aumento da doença em crianças e adolescentes vem sendo apontado pela Organização Mundial da Saúde como um desafio e foi tema de um levantamento divulgado no ano passado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Na ocasião, cerca de 70% dos oftalmologistas consultados pela entidade afirmaram ter identificado progressão da doença em crianças durante a pandemia.

O fenômeno preocupa porque tem aparecido cada vez mais cedo e porque, conforme o olho cresce durante a infância, o grau também aumenta. Essa progressão favorece altos graus de miopia na vida adulta e eleva o risco de doenças oculares mais sérias, como glaucoma e descolamento de retina.

“Há 30 anos era raro encontrar crianças com grau de miopia acima de seis. Hoje, atendo crianças com oito anos e 11 graus de miopia”, compara Guedes.

De acordo com os médicos, os sinais da doença incluem dor de cabeça, coceira nos olhos, caretas ao tentar enxergar algo a distância e dificuldade de ler a lousa na sala de aula. Mas nem sempre há esses indícios. Rafael e Júlia, por exemplo, conseguiam ler placas na rua sem dificuldade, então não levantavam suspeitas, recorda Fernanda.

IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTORicardo Guedes, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia,  afirma que a criança tem facilidade de se adaptar e, às vezes, acha que a dificuldade que ela sente é normal, então não comenta. Além disso, há casos em que a miopia surge mais forte em um olho do que no outro e, se não há o trabalho de testar cada um separadamente, a doença passa despercebida. Daí a importância do acompanhamento com especialistas.

A recomendação, além do teste do olhinho na maternidade, é levar a criança para um exame oftalmológico completo até os dois anos de idade. Depois, aos cinco anos e, a partir dos sete anos, realizar uma consulta anual.

“Não basta ir à ótica fazer os óculos ou só procurar o médico quando estiver se sentindo muito mal. O ideal é fazer o exame preventivo uma vez por ano ou antes, se houver alguma queixa”, orienta o oftalmologista.

Na rede pública, a porta de entrada para a avaliação é a Unidade Básica de Saúde, que fará o atendimento por meio do médico da equipe de Saúde da Família. De acordo com a necessidade, o paciente é direcionado para o oftalmologista e, caso sejam necessários exames complexos, é encaminhado para clínicas conveniadas.CUIDADOS

Para minimizar as chances da doença, Luisa Hopker, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, ressalta que as crianças precisam ter, no mínimo, cerca de 1 hora e 40 minutos de atividades ao ar livre por dia.

A médica também destaca a necessidade de seguir as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria em relação ao tempo máximo de tela por idade e respeitar a distância de 33 a 38 centímetros entre os equipamentos eletrônicos e o rosto.

Já em relação ao diagnóstico e ao uso dos óculos, ela ressalta que é importante integrar as crianças no processo de escolha e encorajá-las a utilizar o recurso. E lembra que há novos colírios e lentes que ajudam a reduzir a velocidade de progressão da doença e são indicados em alguns casos.

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RECOMENDAÇÕES SOBRE USO DE TELAS POR IDADE

– Menores de 2 anos: evitar a exposição de crianças menores às telas, mesmo que passivamente;

– Entre 2 e 5 anos: passar, no máximo, uma hora por dia em frente a telas, com supervisão dos cuidadores

– Entre 6 e 10 anos: tempo de telas deve ser limitado de uma a duas horas por dia, sempre com supervisão de pais ou responsáveis

– Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar entre uma a duas horas antes de dormir

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria

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