A cantora Margareth Menezes será ministra da Cultura no governo Lula e o restabelecimento do ministério deve ser comemorado. Na verdade, trata-se de um renascimento, depois de um período em que foi extinto o principal órgão da gestão cultural no País que foi reduzido a uma secretaria, dando início a uma dança das cadeiras que passou por Regina Duarte e Mário Frias.
Neste período, órgãos da Cultura foram desmobilizados e entregues a pessoas de caráter duvidoso. Entregaram a Fundação Palmares a um racista. Instituições como a Funarte e a Biblioteca Nacional foram dirigidas por aloprados que declararam, por exemplo, que “os Beatles estavam a serviço dos comunistas” ou que “o rock é abortista”.
Instituições importantes, como a Ancine, foram dadas a pessoas a serviço da censura que ignoram a história. Ouvi comentários, aqui mesmo em Londrina, sobre a “arte degenerada ” em oposição à “alta cultura”, um trunfo da arrogância.
Agora, quando a Cultura renasce em nível federal, vemos também renascimentos em nível estadual. O que me surpreende é que justo no governo Lula, quando é sabido que a Cultura será contemplada com mais recursos, haja um empenho em ressuscitar secretarias que também foram extintas. Toda iniciativa deve ser comemorada, mas não podemos perder de vista que isso talvez se dê pela possibilidade de verbas federais serem mais generosas num governo que é partidário da Cultura, na contramão da escassez de ontem.
Mas causou perplexidade, esta semana em Londrina, um projeto votado na Câmara Municipal para o realocamento dos recursos destinados ao Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) para outras pastas. O orçamento da Cultura é um dos menores da administração municipal e causa espanto que tenham espichado os olhos para ele. Mas na Câmara prevaleceu o bom senso e a emenda que reduziria os recursos do Promic não foi aprovada.
Em compensação ao pequeno orçamento, há um grande movimento cultural no município. Não faz muito tempo, numa das edições especiais da FOLHA, fiz questão de destacar “Londrina, Cidade dos Festivais”, num título que sugeri e hoje, com alegria, vejo que se tornou uma espécie de slogan.
Mas é preciso cuidar não só do slogan, mas da realidade, aprendendo que a Cultura não pode ser vista com um pensamento raso de puro entretenimento. Cultura é também cidadania e educação. Cultura é levar arte ao centro e à periferia, num processo de formação e transformação social. Há alguns anos, visitei uma oficina de hip hop na zona norte de Londrina e pude constatar o quanto significava um microfone e uma caixinha de som para crianças da comunidade que deixaram as ruas para fazer rimas. Essa é a cultura que transforma.
Causa espanto ver que projetos gerados por uma espécie de ressentimento tentam tirar da Cultura tudo o que ela dá em sua contrapartida. Para apoiar esse tipo de projeto é preciso não entender nada de Cultura, estreitando a visão como as pessoas que nunca vão teatro, desconhecem a produção cinematográfica de Londrina ou ignoram a formação de corais nas escolas públicas.
O voo da Cultura é bem maior do que a circunscrição do entretenimento. Cultura transforma e , para quem não sabe, já vi o rap salvar vidas de adolescentes que teriam um destino bem mais tortuoso, não fosse uma oficina cultural, um microfone e uma caixinha de som.
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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.
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