Na última quinta-feira (15), um público ruidoso tomou as galerias da Câmara Municipal de Londrina, determinado a quebrar o silêncio formal. Eram trabalhadores da Cultura: artistas, produtores, técnicos, pessoas que trabalham em cena ou nos bastidores. Eles foram à Câmara para lutar pelos recursos integrais destinados ao Promic – Programa Municipal de Cultura – no orçamento de 2023.
O motivo dessa movimentação no local eram três emendas propostas pelo vereador Santão (PSC) que, conforme adiantado pela FOLHA na segunda-feira (12), retirariam R$ 2 milhões do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) do orçamento de 2023 que, ao todo, conta com R$ 5,3 milhões para o programa.
O Promic vai completar 20 anos em 2023. Neste período, o empenho municipal em fomentar a Cultura não só manteve o sucesso da chamada “Cidade dos Festivais”, como alimentou o desenvolvimento de diversas linguagens artísticas que vão do teatro ao circo, da dança à literatura, da música às artes visuais. Num levantamento anual, é possível observar que de janeiro a dezembro Londrina conta com eventos que formam uma rede cultural difícil de se observar em cidades do interior.
Ao fim de um debate que durou 2 horas e meia na Câmara, os recursos integrais do Promic foram mantidos em vez de migrar para outras pastas, conforme as emendas propostas. É preciso observar que aquilo que a classe artística reivindicou e conseguiu não passa só pela criação ininterrupta de saraus e espetáculos, mas pela luta política que mantém acesa a chama de uma cidade mais estimulante e reconhecida em nível nacional pelo que produz de Cultura.
O que chama a atenção neste episódio, muito além dos embates, é a presença marcante de cidadãos londrinenses na Câmara Municipal, numa demonstração de que suas galerias lotadas representam a vida política pulsando na cidade não só nas eleições, mas no cotidiano.
Neste sentido, é preciso enaltecer a participação popular nas decisões que vão guiar e determinar o futuro.
Só a participação efetiva da população pode elevar a política cotidiana – do embate e do debate – à esfera da política institucional. Vereadores e deputados são eleitos para legislar, o que não significa que possam empunhar a caneta sozinhos. Eles são representantes do povo. Independentemente do motivo da luta – seja pela Cultura, pela Saúde ou pelo Transporte – as pautas e mudanças têm mais legitimidade quando as galerias se manifestam. Democracia é ocupação de espaço político também no cotidiano, na vigência dos mandatos, e não só nas urnas.
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