Indiferença pela ciência e pesquisa

Não faltam exemplos que demonstram de forma cabal a indiferença do Brasil pela ciência e pesquisa. Brasil, neste caso, pode ser sinônimo de Nação ou de poder político, tanto faz. Entre as tarefas que o planejamento nacional deve se debruçar com mais vontade é este despertar urgente. Não subiremos degraus sem ele.

O censo demográfico é um caso corrente. Não é a primeira vez que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) enfrenta escassez de recursos financeiros e humanos para esta grandiosa empreitada, ainda mais desafiadora num país tão grande, de tantos biomas e ocupações diferentes e em profunda crise de civilidade neste 2022.

Basta lembrar que o país demorou cinco décadas após a independência para fazer o primeiro censo nacional, em 1872, logo depois da Guerra do Paraguai. Até então, o Segundo Reinado governava às cegas. Como todos sabem, os milhões de questionários respondidos neste levantamento são âncoras para a elaboração de políticas públicas e também para as ações mais urgentes do poder público. A defesa da sua relevância é desnecessária.

Reportagem publicada na edição de quarta-feira (13) desta Folha informa que o trabalho do IBGE em Londrina atrasou e que não será concluído mais este ano, conforme o planejamento inicial. A estimativa é que a coleta dos dados será encerrada no fim de janeiro. Vale destacar que o ideal é realizar o censo a cada 10 anos. O último concluído foi em 2010. Pandemia e falta de recursos provocaram dois adiamentos, que causaram um obstáculo extra.

Coincidindo com o calendário das eleições gerais, os pesquisadores de campo foram muitas vezes confundidos com cabos eleitorais, o que aumentou a taxa de recusa. No entanto, o escritório local do instituto garante que o índice se estabilizou em 2% e está dentro da média nacional e da expectativa.

Por todo o País, o noticiário destaca a dificuldade de se arregimentar recenseadores em decorrência da baixa remuneração, mesmo com tanto desemprego e muitas mulheres e homens ganhando a vida no mercado informal.

Que o Brasil aprenda esta lição para os próximos censos. O orçamento tem que ser mais robusto, a população deve ser esclarecida de modo mais eficiente sobre as visitas, e a sociedade civil deve cobrar com mais eloquência o governo de ocasião para realizar um trabalho dentro do prazo correto.

Que no próximo levantamento, em 2030, o Brasil saiba, enfim, ir além da curiosidade de quantos e quem somos. Que já estejamos em um nível de entender que não é possível encarar ciência, pesquisa e planejamento como algo não essencial na vida pública.

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