Justícia

É como se o quadriculado em branco e vermelho fosse um dínamo binário, que oscila entre a produção de justiça e de injustiça. Na sexta-feira (9), Modric, seus amigos e o diabólico Zlatko Dalic armaram uma teia da qual o Escrete foi incapaz de se desvencilhar até o fim do primeiro tempo da prorrogação.

Argentina’s forward #10 Lionel Messi celebrates after defeating Croatia 3-0 in the Qatar 2022 World Cup football semi-final match between Argentina and Croatia at Lusail Stadium in Lusail, north of Doha on December 13, 2022. (Photo by JUAN MABROMATA / AFP) |  Foto: JUAN MABROMATA / AFP 

E o ofensivo Brasil de Tite, como numa recaída da Síndrome dos Estádios Demolidos – Sarriá e Delle Alpi -, acabou com a confiança decepada no chute errante de Bruno Petkovic.  Outro caso célebre de como o futebol pode ser um jogo injusto, no qual não há vitória por pontos como no pugilismo.

Nesta terça-feira, as coisas foram diferentes. Os balcânicos foram os maiores promotores de Justiça da face da Terra. Desta vez, o futebol matreiro dos vice-campeões mundiais foi castigado logo após o primeiro terço do jogo acabar, no qual foram ainda mais insolentes do que na partida contra o Brasil.

A partir daí, os alvicelestes se apossaram do roteiro e escreveram uma linda história argentina, feita de gols, cantos, choros e euforia. Uma história de justiça.

Com um maduro e exuberante Messi, autor do primeiro gol, de pênalti, que matou precocemente o adversário. O gênio do futebol contemporâneo bateu com raiva, no ângulo, vencendo quem parecia intransponível na semana passada, o goleiro Dominik Livakovic.

Justiça com Julián Álvarez, o Rei da América do ano passado que não passa de um garoto cheio de sonhos e energia, autor de um segundo gol marcante, desbravando a zaga croata como se estivesse em um treino na cantera do River Plate. 

Queridinho de Pep Guadiola no Manchester City e agora da vastidão que une Ushuaya a La Quiaca. No terceiro gol, as duas estrelas de gerações distintas dialogaram como se estivessem com uma cuia de mate na mão.

Messi fez um Carnaval pela direita, à guisa de um Garrincha na pista de tango, e deu passe adocicado para Álvarez chutar cruzado e novamente tapear o goleiro. Por pouco, não deu para ouvir aqui o barulho que sacudiu o Obelisco da 9 de Julio.

O recital de Lusail preserva o encanto do futebol sul-americano neste século em que tudo parece europeu demais no planeta bola.

Dolorosa pela comparação direta com nossa ruína, a vitória com a assinatura de Messi acalma a Taça Fifa, que ainda vislumbra uma chance de ser abraçada por um dos maiores jogadores da história.

E Diego não se importaria se domingo a Argentina passasse a ser politeísta no futebol. 

Em algum camarote celestial, Maradona estará a postos, ao meio-dia, para dar aquela mãozinha na conquista do tricampeonato.

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