Doha, Catar – “Que mirás, bobo?” Em questão de minutos, a pergunta em tom de desafio de Lionel Messi para Wout Weghorst correu o mundo, virou meme nas redes sociais e motivou discussão entre torcedores.
Publicações europeias criticaram o comportamento dos sul-americanos, acusando-os de “soberba” e de não saberem se comportar com dignidade na vitória | Foto: Juan Mabromata/AFP
Tratou-se de um chamado às armas. Classificado para a semifinal da Copa do Mundo, a frase do camisa 10 para o atacante rival, este “tá olhando o que, bobão?”, virou um emblema da seleção que adotou a ideia de que, agora, são eles contra o mundo. Como Diego Maradona faria.
“Festejei na cara deles porque havia um jogador da Holanda que a cada pênalti vinha e dizia coisas a um dos nossos jogadores”, disse o zagueiro Nicolás Otamendi após a Argentina derrotar a Holanda nos pênaltis na última sexta-feira (9) pelas quartas de final.
Da mesma forma que o vídeo de Messi intimando Weghorst, a foto de jogadores argentinos, com Otamendi à frente, zombando dos adversários quando acabou a partida, viralizou. “A imagem foi tirada de contexto e foi uma resposta nossa ao que aconteceu”, definiu o defensor.
No jogo mais emocionante e cheio de reviravoltas do Mundial do Catar, a Argentina tinha vantagem de dois gols, levou empate no 55º minuto do segundo tempo e venceu nos tiros da marca penal. O confronto também teve dezenas de provocações, troca de empurrões e chute proposital em direção aos atletas do banco holandês.
Publicações europeias criticaram o comportamento dos sul-americanos, acusando-os de “soberba” e de não saberem se comportar com dignidade na vitória.
Para os jogadores argentinos que tiveram contato com a imprensa, é um julgamento injusto. “O árbitro deu tudo para eles”, reclamou o goleiro Emiliano Martínez, herói da disputa de pênaltis com duas defesas.
O principal artífice das provocações holandesas foi o lateral Denzel Dumfries. A declaração do técnico Louis van Gaal de que a Holanda teria vantagem se o confronto fosse para os penais, também irritou bastante a alviceleste. Martínez foi tomar satisfação quando acabou o jogo e xingou o treinador.
O ar desafiador encanta os milhares de torcedores da Argentina que estão no Catar para a Copa do Mundo. No caminho de saída do estádio de Lusail e na fila do metrô, eles cantavam e gritavam os nomes de Lionel Messi, Emiliano Martínez e Nicolás Otamendi. Os que mais saíram em defesa do comportamento da equipe em campo.
“Senti-me ofendido por Van Gaal e seus comentários prévios à partida. Alguns jogadores deles falaram demais”, reclamou Messi. Ele também ironizou o fato de o holandês ser considerado um representante do futebol bonito e ter passado o segundo tempo com seu ataque lançando balões para a área em busca de cabeçadas.
Atrair inimizade e hostilidades para ganhar força interior é antiga tática maradoniana. O zagueiro Oscar Ruggeri lembra que, quando a seleção eliminou a Iugoslávia nas quartas de final de 1990, Maradona avisou-lhe para prestar atenção na confusão que aprontaria em seguida.
Na entrevista que aconteceu em seguida, a primeira antes da semifinal contra a Itália, dona da casa, o camisa 10 pediu para o hino argentino não ser vaiado.
“O norte nunca considerou os napolitanos italianos de verdade e agora querem o apoio deles para a seleção da Itália”, cutucou.
Maradona era ídolo, dono e senhor de Napoli. Ele não perdeu a chance de também lembrar que, quando sua equipe jogava em Turim, Milão e Verona, as torcidas locais penduravam faixas dizendo que napolitamos deveriam “se lavar”.
O hino da Argentina não foi hostilizado e os sul-americanos se classificaram nos pênaltis.
A seleção de 2022 está fechada em si mesmo e entre os seus apoiadores porque terá pela frente a Croácia, sua algoz na fase de grupos de 2018, na Rússia. A derrota por 3 a 0 quase elimina de maneira precoce a equipe. Em caso de vitória nesta terça, há o confronto em potencial com a França na decisão. Um Messi x Mbappé que seria um duelo de gerações.
Lionel assume cada vez mais o papel do irascível capitão argentino. Algo que jamais teve vontade de encarnar no passado, mas onde agora se sente à vontade. Mais do que isso, identifica-se com o torcedor do país ao fazer isso.
Alguns deles, na saída de Lusail reviam o passe mágico do camisa 10 para Molina fazer o primeiro gol contra os holandeses. Mas também assistiam às confusões do jogo, o “que mirás, bobo?” e o atacante comemorando seu gol olhando para van Gaal, em ar de desafio, com as mãos espalmadas atrás das orelhas.
Foi um gesto de pura simbologia. Era Messi respondendo ao treinador que no passado disse que ele sozinho não ganhava títulos e ironizava o título de “melhor jogador do mundo” que haviam dado ao argentino.
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