OURO VERDE – Uma agenda feita a lápis

“O jornalista Carlos Eduardo Lourenço Jorge – funcionário da UEL e responsável pelo setor de cinema da Casa de Cultura – fala do período entre 1978 e 1986, quando o Ouro Verde, já conhecido como uma sala de exibição classe A, passou a figurar como espaço de vanguarda. Ele guarda com cuidado uma série de caderninhos em que anotações a lápis pontuam a presença de grandes nomes que se apresentaram em Londrina. Folhear esta agenda é vislumbrar a efervescência cultural de um País que desafiava a ditadura militar produzindo no terreno das artes o que seria sua grande conquista.

Em agosto de 1979, o grupo Oficina, dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa, apresentou em Londrina o espetáculo “Macunaíma”. 

“Para isso – conta Carlos Eduardo –  foi preciso abrir um alçapão no palco do Ouro Verde, por ali o personagem  entrava em cena.” No mesmo ano, a agenda registra um show de Elis Regina e outros cantores que também desembarcaram na cidade trazidos pelo Projeto Pixinguinha, um circuito de shows que corria o Brasil.

Em 1980, a cidade viveu outro grande momento com a estreia do espetáculo “Rasga Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho, dirigido por Zé Renato. Carlos Eduardo lembra que o grupo estrearia em Campinas, mas o teatro da cidade paulista não ficou pronto. A companhia quis vir para Londrina, um proposta considerada irrecusável. No dia 26 de setembro a cidade compareceu à estreia em massa.

(…)

Também em 1980, o grupo Proteu, dirigido por Nitis Jacon, encenaria “Na Carreira do Divino”, um do seus grandes sucessos. Grupos locais de teatro e dança se apresentavam periodicamente no local. Ainda em 80, o Ouro Verde receberia um filho da terra já reconhecido como um dos mentores da chamada “vanguarda paulista”: o londrinense Arrigo Barnabé.

1980 – Público em frente ao Ouro Verde para assistir ao concerto de Astor Piazzolla |  Foto: Arquivo Folha 

Em 1980, o show do mestre argentino do bandônion Astor Piazzolla também deixou hipnotizada uma plateia de 900 pessoas. Antes da chegada do músico, a equipe do Ouro Verde não conseguia esconder o nervosismo. Um temporal desabou sobre a cidade e não havia teto para o avião que traria Piazzolla e o Sexteto Nuevo Tango descer no aeroporto de Londrina.

Já passava das 20 horas quando o tempo melhorou e um jatinho particular decolou de Curitiba com os artistas. O show estava marcado para às 21 horas. Às 21h30, Piazzolla desembarcou e às 21h50 pisava no palco executando os primeiros acordes de um tango. Quando tocou ‘Adiós Nonino’, havia pessoas chorando na poltrona.”

(Trecho do livro “Londrina Puxa o Fio da Memória, de Célia Musilli e Maria Angélica Abramo. Editora Letra D’Água/ 2004. Livro publicado com patrocínio do Promic – Programa Municipal de Incentivo à Cultura)

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