Copa do mundo e mercado de carbono: quando o jogo empata, mas todos ganham

Sem perder de vista as polêmicas ambientais e sociais existentes, uma das promessas para a Copa do Mundo no Catar é ser a primeira edição 100% neutra em emissão de carbono. O comitê organizador promete que os impactos produzidos pelos gases de efeito estufa emitidos em decorrência do evento serão integralmente neutralizados.

Para alcançar esse objetivo, os estádios possuem certificação de sustentabilidade. Todos funcionarão à base de energia solar e 40% da iluminação dos gramados será LED. Um desses estádios foi construído com 974 contêineres, que serão desmontados após o término da Copa e reutilizados em outros projetos esportivos.

Como historicamente acontece, o maior vilão de emissões das Copas é o transporte. Na Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, aproximadamente 70% das emissões de gases de efeito estufa foram decorrentes do transporte nacional e internacional para o evento. A Copa 2022, por ser sediada em um país pequeno, não demandará viagens aéreas para deslocamento interno. A maior distância entre estádios é de 74 km e cinco dos oito estádios podem ser acessados pelo metrô da cidade de Doha. Outro dado relevante é que 20% da frota de ônibus é movida à eletricidade.

Além dessas medidas, o comitê organizador informou que será realizada a compra de créditos de carbono para compensar as emissões que não puderem ser evitadas.

Mas o que são créditos de carbono?

Explicando de forma simplista: todos já ouviram falar nos gases de efeito estufa, que se concentram na atmosfera e contribuem para o aumento da temperatura do planeta. O principal desses gases é o gás carbônico. A atividade humana intensiva das últimas décadas tem provocado o aumento da emissão desses gases e, consequentemente, o aumento da temperatura do planeta, dando origem ao aquecimento global.

Para frear esse processo, que desencadeia desastres naturais e traz danos irreversíveis à humanidade, os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima firmaram um acordo que, além de prever medidas de conscientização direcionadas à população em geral e fixar metas mundiais para a redução de emissões dos gases de efeito estufa, criou um mercado para a comercialização de créditos de carbono.

O funcionamento desse mercado – ainda pauta de inúmeras discussões – é complexo e dividido em categorias com regulamentações distintas. Mas, basicamente, os créditos são lastreados em projetos que sequestram, evitam ou reduzem a emissão de gases de efeito estufa. Esses projetos quantificam o volume de gases que foram sequestrados, evitados ou reduzidos e os convertem em créditos que podem ser comercializados. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono, que na Europa chega a ser comercializado por 85 dólares a unidade.

Assim, caso as medidas utilizadas pelo comitê da Copa do Qatar não sejam suficientes para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa, os organizadores adquirirão créditos de carbono para compensar as emissões que não puderem ser evitadas ou reduzidas.

Vale dizer que a comercialização de créditos de carbono não se restringe a grandes eventos. Ela vem gradativamente sendo disseminada nos países e nas empresas. Segundo a Ecosystem Marketplace, organização norte-americana que fornece informações sobre serviços ecossistêmicos, estima-se que as transações nesse mercado giraram em torno de 1 bilhão de dólares em 2021.

Laurine Delfino e Carolina Kashiwaqui, advogadas especialistas em direito ambiental do escritório NMP, Londrina

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