Sopa de fubá

  Essas coisinhas de família parecem insignificantes mas enfeitam a nossa vida, valorizam os nossos laços, embelezam a nossa história   

Não sei se pelos costumes da família de origem italiana ou pela vida dura da época, o que sei é que o fubá, em forma de bolo, sopa, mingau ou polenta, sempre fez parte da nossa culinária familiar. A princípio o milho era socado no pilão, para depois ser peneirado e ficar um pouco mais fino. Minha avó paterna fazia umas polentas muito genuínas, numa panela de ferro, colher de pau, ficava bastante tempo mexendo e mexendo, até o fubá desgrudar da panela e a gente disputar aquela crosta que ficava grudada no fundo.

Acompanhava um molho vermelho muito bom, ou então misturava pedaços de frango, o que era um verdadeiro banquete italiano. Meu avô comia com prazer, relembrando o orgulho de ser italiano e, é claro, juntava um vinho de garrafão para ficar melhor ainda. Minha tia Ercilia fazia uma polenta doce para levar na roça na hora do café. Minha mãe, uns bolos de fubá com goiabada maravilhosos. E eu, bom, eu costumava fazer sopa de fubá. 

Lembro de minha avó Luiza contando que, quando minha irmã era bebê, ela sobreviveu a um acidente muito sério e estava muito fraquinha. Com as poucas condições da época, o jeito foi se virar e tratar de fortalecer a menina com muita sopa de fubá, comida forte, até que ela ficou gorda e corada, padrão de saúde e beleza, na época.

Quando minhas filhas eram pequenas eu fazia para elas a famosa sopa de fubá, fácil de fazer, com ingredientes simples, que ficava ao mesmo tempo leve e saborosa, além, é claro, de acreditar que fazia muito bem para a saúde. O fato é que a sopa de fubá fazia parte das nossas refeições, assim como o arroz e o feijão, enriquecida com couve picadinha, ovos ou carne. Quando íamos viajar, por exemplo, passar as férias na praia, tinha que levar fubá, os temperos e a panelinha, agora não mais de ferro mas, esmaltada. Aí todo mundo queria tomar sopa de fubá.

Minha filha mais nova era tão fã que, aos dois ou três anos, já sabia a receita e ensinava pra todo mundo. Certa vez fomos à pediatra, na época a Dra Kessae, que atendia no posto de Saúde do Jardim Bandeirantes, a qual perguntou sobre a sua alimentação, se estava bem, etc. E não deu outra: “ Eu gosto de sopa de fubá , que se faz assim, ó: você pega uma panela, põe óleo e bastante alho, assim ó, de alho, bastante mesmo. Tempera bem a água e põe o fubá, mas pouco, pra ficar bem molinho “. “ É assim que se faz a sopa de fubá .” A pediatra ficou admirada com a disposição e a receita da paciente, e a história ficou na história. 

Hoje, a sopa ainda é oferecida aos netos, como uma tradição.

Essas coisinhas de família parecem insignificantes mas enfeitam a nossa vida, valorizam os nossos laços, embelezam a nossa história, faz a gente remexer nas origens, compreender que não nascemos de chocadeira, mas de famílias, com sentimentos, com tradições, com belos momentos que devem ser compartilhados para que nunca se percam. Como cada família deve ter a sua receita especial, que tal partilhar, não tanto para ser realmente feita mas para ajudar na melhor receita da vida, que é viver bem…

Estela Maria Ferreira

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