‘Foi por pouco que não caímos”, diz sobrevivente de deslizamento na BR-376

Curitiba –  O primeiro deslizamento já tinha ocorrido. Pequeno, mas suficiente para interditar uma das pistas da BR-376, no  Litoral do Paraná. O carro em que estava a família de Letícia Santos, 39, aguardava há três horas parado na fila do quilômetro 669 quando ela viu a primeira pedra cair. “Veio uma pancada e em seguida já desceu o barro empurrando tudo”, conta.

O veículo bateu na mureta de proteção entre as duas pistas e parou a poucos metros do despenhadeiro, onde ainda estão soterrados ao menos 30 pessoas e 16 veículos. Dois corpos já foram retirados do local e identificados, mas os bombeiros ainda não sabem precisar quantas vítimas ainda estão sob a lama.

A família de Letícia foi arrastada para cima de um caminhão e o veículo onde ela, o filho de quatro anos e seus pais, de 71 e 72 anos, estavam ficou destruído. “Um carro à frente e não estaríamos mais aqui”, enfatiza. “Foi por pouco que não caímos”.

Ela não sabe como, mas o resultado foi que todos ficaram a salvo. “Minha mãe quebrou quatro costelas e eu fiquei com hematomas, mas meu filho e meu pai não se machucaram”, relata.

Ela lembra que o carro ficou de lado e foi preciso sair pela janela do motorista e atravessar um caminhão destruído para conseguir socorro de um ônibus que vinha atrás.

“Meu pai saiu primeiro, eu dei meu filho pra ele e fiquei no carro pra ajudar minha mãe, pois ela teve dificuldade. Eu só queria sair dali porque estava com muito medo de outro desmoronamento, se isso acontecesse íamos ser empurrados pra fora da estrada.”

Chovia muito na hora e era noite, por volta das 19h30. “Eu não escutei nada, nenhum pedido de socorro, sinal de luz, celular, nada. Só via mato e lama.”

A família é de Paranaguá (Litoral), região que sofre com as enchentes causadas pela chuva, que cai no estado desde sábado (26) e já deixa quase 5.000 desabrigados. Os quatro voltavam de Curitiba após uma consulta médica de rotina.

Eles nunca haviam sofrido um acidente automobilístico e Letícia associa o desfecho a um milagre. “A gente não tinha noção da dimensão do acidente e da extensão da tragédia. Só fomos entender direito depois de ver as fotos”, diz.

O filho, lembra ela, ficou em choque. “Hoje ele acordou chorando, mas está bem.”

Os pais, ainda muito assustados, também se recuperam do acidente, afirma a filha, que pretende nunca mais viajar com chuva.

BUSCAS

As buscas pelos desaparecidos avançaram na quinta-feira (1º), quando a chuva deu uma trégua pela manhã. Foram concluídos os trabalhos de remoção dos veículos visíveis arrastados pela lama, mas a operação segue cautelosa pelos riscos de novos acidentes no local.

O acesso ao Litoral  está totalmente interditado pela BR-376, mas foi liberado o acesso parcial pela BR-277, que liga ao litoral, também atingida por deslizamentos de terra, ficando totalmente interditada até a tarde de ontem. Segundo o governo, a rodovia passou por limpeza e foi liberada em pista simples do quilômetro 39 ao 42, tanto no sentido litoral quanto no sentido Curitiba.

A Estrada da Graciosa (PR-410), outro acesso ao litoral do estado, também está totalmente interditada por tempo indeterminado, já que apresenta deslizamentos em variados pontos. Desta forma, não é rota alternativa para os motoristas.

Com a chuva que causa enchentes em 12 cidades, o estado decretou situação de emergência e precisou escoltar caminhões para levar insumos às famílias atingidas pelos alagamentos.

A trégua na chuva, porém, não durou muito. No fim da tarde desta quinta voltou a chover na Serra do Mar, local do da tragédia. O volume de águas já supera todo o acumulado do mês de novembro, afirma o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná).

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