Pessoas em situação de rua vão à sessão de cinema

Continuação de Pantera Negra, o filme “Wakanda para Sempre” tem arrastado milhões de espectadores às salas de cinema pelo mundo afora ao dar sequência ao primeiro longa-metragem da história protagonizado por super-heróis negros. Na manhã de quinta-feira (1º), a produção hollywoodiana contou com uma exibição em Londrina especialmente dedicada a uma plateia formada por representantes de outra parcela de excluídos: as pessoas que vivem em situação de rua. Cerca de 20 pessoas atendidas pela Casa de Passagem localizada na zona oeste tiveram a oportunidade de assistir ao filme gratuitamente em uma das salas da rede Cinesystem  e ainda ganharam pipoca e refrigerante.  

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Johnatan Vieira da Silva, 32 anos: “É a primeira vez que entro num shopping e também numa sala de cinema” |  Foto: Marcos Roman 

Uma boa parte do público presente na sessão especial que aconteceu no Londrina Norte Shopping esteve no cinema pela primeira vez. “É muita emoção! Tô tremendo e suando frio. Pareço uma criancinha que acaba de ganhar um presente. Fico emocionado pois essa é a primeira vez que entro num shopping e também numa sala de cinema”, enfatizou o pedreiro Johnatan Vieira da Silva, 32 anos. Nascido no interior de São Paulo, ele está em Londrina há uma semana em busca de oportunidade de trabalho.  

E emoção descrita por ele foi compartilhada por outros colegas abrigados atualmente na Casa de Passagem. “Faz uns 35 anos que não vou ao cinema. Antigamente eu costumava ir com minha esposa assistir filmes de faroeste em um cinema antigo de Tarumã, no interior de São Paulo, onde a gente morava. Com a morte dela, há cerca de 10 anos, acabei deixando tudo para trás e desde então tenho passado por várias cidades sem ter um rumo certo. Onde paro, encontro trabalho como auxiliar de serviços gerais para conseguir me manter por um tempo. Cheguei em Londrina na semana passada e estou revivendo boas lembranças neste retorno ao cinema depois de tanto tempo”, comentou Valdecir de Souza, 35 anos. 

Luis Paulo Ferreira, 35 anos: “Trabalhei num dos restaurantes deste shopping, antes de ficar em situação de rua” |  Foto: Marcos Roman 

A sessão especial de cinema também despertou boas lembranças em Luís Paulo Ferreira, 35 anos. “Trabalhei por muitos anos em um dos restaurantes desse shopping e costumava vir ao cinema daqui com frequência. Isso acontecia há uns cinco anos, antes de eu me envolver com drogas e ficar em situação de rua devido à depressão pela morte de minha avó, que cuidava de mim. Trabalhei como garçom, pizzaiolo e barman. Esse lugar me traz muitas recordações. Essa oportunidade de voltar ao cinema é muito bem-vinda”, destacou. 

“São muitas histórias emocionantes que ouvimos diariamente na Casa de Passagem, mantida pelo Ministério de Missões e Adoração. Lá os abrigados contam com apoio de assistentes sociais e psicólogos. Ao saber que poderiam vir ao cinema hoje todos ficaram muito animados e a gente acaba se emocionando também cada vez que surge uma boa oportunidade para eles” ressaltou Lucélia de Oliveira, cuidadora da Casa de Passagem ao comentar que a iniciativa de promover a exibição gratuita do filme dedicada aos abrigados da instituição partiu de estagiários do curso de Psicologia da Unifil.  

“O intuito de realizar essa sessão foi proporcionar às pessoas que vivem em situação de rua um momento de lazer, que é um direito de todo ser humano”, comentou a estudante Thalita Bessani, uma das idealizadoras da iniciativa que contou com apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social para o transporte dos espectadores. Ela conta que ideia ganhou adesão de colegas de turma e  professores da Unifil.  

“Os estudantes fizeram uma vaquinha que teve a colaboração  da comunidade escolar e também de familiares e amigos. Com o dinheiro arrecadado, conseguimos pagar a exibição do filme e ainda comprar pipoca e refrigerante para todos. É um movimento de inclusão muito importante. Além de aprenderem a parte técnica na sala de aula, os alunos estão aprendendo na prática a serem cidadãos através de atitudes como essa”, salientou Maisa Murata, professora do curso de Psicologia da Unopar.  

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