Nós, os socialistas

Divido-me entre a melancolia e o otimismo. Sei que parece contraditório, mas é assim que é. O lado melancólico se reveste de um romantismo revolucionário, de uma forte sensação de que alguma coisa importante se perdeu no tempo. Confesso que me fazem falta a cortesia, o sentimento comunitário, o engajamento numa boa ação por um mundo melhor. Já a minha dimensão otimista… Bem, essa é incontornável: trata-se da matéria-prima de que sou feito.

Nós, socialistas, temos como projeto estratégico a superação da exploração do humano pelo humano. Por si só, isso não sobrevive sem altas doses de otimismo. Afinal, como imaginar um mundo baseado naquilo que nos seja comum, sem acreditar de fato que podemos ser muito melhores do que somos? Revolucionários pessimistas espalham dor, tristeza e desesperança; movem-se porque se veem obrigados a tal, não porque se sentem convencidos. No fundo, são apenas pessimistas, nunca revolucionários.

|  Foto: iStock 

É vital que não nos escondamos. Socialistas camuflados prestam pouca ou nenhuma ajuda ao projeto de construção de um mundo realmente bom. Por receio de não serem compreendidos ou terem de dar explicações óbvias a toda hora, os socialistas aparentemente desapareceram dos espaços públicos. Contra essa tendência, é imperativo que nos apeguemos à trajetória de sonhos e lutas daqueles que nos antecederam: em cada período histórico, sem exceção, mentalidades rebeldes enriquecem nosso legado e oferecem pistas para as utopias do presente. Se há algo de que os socialistas não podemos reclamar é da falta de tradição.

No limite, acerta o alvo a máxima de Antonio Gramsci: “Pessimismo do pensamento, otimismo da vontade”. Muitas vezes, o diagnóstico é desestimulante e a realidade, hostil. Nessas horas, cabe não desanimar, reunir forças, estudar sem tréguas, organizar aqueles que, como ensina Walter Benjamim, não perdem a esperança em nome dos já desesperançados. Sabemos hoje como é difícil alimentar o otimismo, diferentemente de gerações anteriores que dedicaram suas vidas a uma grande causa, a um nobre ideal. Se ontem parecia uma questão de tempo assaltar os céus e conquistar a humanidade, agora tudo é mais nebuloso, menos atraente, muito mais complexo.

O socialismo apoiou-se durante tempo demais na “necessidade histórica” da revolução social. Ingênuos e bem-intencionados, os revolucionários do passado acreditavam lutar pelo inevitável, pelo futuro radiante que o tempo traria como recompensa aos seus

esforços. Esse tempo passou e essas expectativas se metamorfosearam. Embora imprescindível, o otimismo sozinho é nada; precisamos de um horizonte, de capacidade de persuadir, de valorização das ideias, de um debate público saudável e inteligente.

Estou convencido de que o futuro do planeta e da humanidade depende do fortalecimento das ideias socialistas, em parceria com a democracia e com a multiplicação de rebeldes, esses sujeitos que não se conformam, vivem a se movimentar, aglutinar, esperançar. Olhando bem, há mais socialistas por aí do que podemos supor. E isso é excelente.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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