Viva a Copa: que os direitos humanos esperem mais um pouco

O Brasil vence a Suíça e garante a vaga para a segunda fase. Gana vence e Camarões e Sérvia empatam. Milhares de torcedores e torcedoras pessoalmente, milhões de longe. A festa quadrienal envolve até quem não é tão fã do esporte. Movimenta o comércio (viagens, camisas, bebidas, bandeiras, enfeites…) e cria heróis da bola. De repente, na partida de Portugal e Uruguai, um homem invade o campo com uma bandeira que lembra o símbolo da comunidade LBGTQIAPN+ e uma camiseta com os dizeres “Respeito pelas mulheres iranianas”.

Ah, os direitos humanos não foram esquecidos na Copa do Mundo, mesmo que por um desconhecido. Saiu de campo escoltado. Sem contar algumas pontuais e tímidas manifestações de times da competição. Afinal, a Fifa tem defendido o país sede da competição e negado pedidos de mostras mais efetivas de protestos.

Mas o que leva o Catar ser criticado por vulneração dos direitos humanos? O Escritório do Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos já teve que desmentir publicações da imprensa do Catar, após reunião com representantes do país. Ou seja, liberdade de imprensa comprometida.

A sede da Copa é um dos países onde a homossexualidade é criminalizada, com pena de até sete anos. Há censura frequente de conteúdo do gênero no país. Catar disse que aceitaria turistas da comunidade, com tolerância. Só aí já seria motivo de não aceitar a inscrição do país como sede da competição.

No Catar, a mulher é desvalorizada e discriminada, por meio do sistema de tutela masculina, tendo que pedir permissão para trabalhar, estudar e casar. Até, pasmem, para acessar exames de saúde reprodutiva. Imagine conseguir um divórcio ou a guarda dos filhos? O uso de migrantes para a construção dos monumentais estádios também esteve em pauta e mortes chegaram a ser relatadas, pelo calor extremo e trabalhos perigosos.

Existem motivos de sobra para menosprezar a Copa e não assistir aos jogos. Mas a principal pergunta é: quem aguenta?

Diogo Cavazotti Aires, doutorando em Educação, mestre em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário

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