São Paulo – A expectativa de vida no Brasil aumentaria em 2021, chegando a 77 anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicados na sexta (25). A marca supera em 2 meses e 26 dias os 76,8 anos do ano passado. Mas os 77 anos publicados nesta sexta (25) apenas seriam a expectativa, porque a projeção da população considera os dados do último Censo, realizado em 2010, e novamente não levou em conta as mortes causadas pela Covid-19.
Segundo as informações, reunidas nas Tábuas Completas de Mortalidade para o Brasil 2021, a expectativa de vida seria maior para mulheres: 80,5 anos. Já entre a população masculina, a estimativa alcançaria 73,6 anos.
O IBGE calcula a expectativa a partir de projeções populacionais, que por sua vez são baseadas em dados do Censo Demográfico, que costuma ser realizado de 10 em 10 anos. Ou seja, a tendência é que uma pessoa nascida no Brasil em 2021 atinja a idade de 77 anos.
SITUAÇÃO COMPLICADA
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, sem a atualização do Censo, os dados ficam distantes da realidade, especialmente por causa da Covid.
“Diminuiu no mundo inteiro, então no Brasil também. É uma situação oficial, por lei [o IBGE] tem que divulgar. A própria nota do IBGE fala que não considera as quase de 700 mil mortes. É uma situação complicada”, diz Alves, que é pesquisador aposentado do IBGE. Para ele, a projeção de 77 anos só seria atingida em 2027.
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A diminuição global da expectativa de vida ao nascer foi anunciada pela ONU em julho deste ano. Enquanto em 2019 ela era de 72,8 anos, no ano passado foi de 71, segundo relatório da organização.
Já a complicação citada por Alves é a obrigação por lei que o IBGE tem de divulgar anualmente a expectativa de vida, estabelecida em um decreto presidencial de 1999. A informação serve, por exemplo, para calcular o fator previdenciário para aposentadorias.
‘TEMOS EXCESSO DE MORTALIDADE’
Para Ricardo Ojima, professor de demografia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), as mortes causadas indiretamente pelo coronavírus também geraram impactos significativos.
“Temos um excesso de mortalidade que decorre das consequências direitas diretas e indiretas da Covid. Em 2021, ano crítico da pandemia, houve no Brasil um excesso de mortalidade de 44% pessoas a mais do que o esperado, considerando a tendência dos últimos anos”, diz Ojima.
O excesso de mortalidade tem sido monitorado pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) como forma de verificar os impactos da Covid-19, segundo recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A edição mais recente do Censo ocorreu em 2010. A seguinte seria a de 2020, adiada em razão das restrições provocadas pela pandemia. Em 2021, o Censo foi cancelado devido ao corte de recursos que seriam destinados para o trabalho.
Após atrasos, a nova edição ficou prevista para este ano, mas a coleta de dados ainda não foi concluída. Na segunda-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (PL) editou uma medida provisória que autoriza a contratação de funcionários para atuarem no censo sem a necessidade de processo seletivo, em uma tentativa de conseguir as informações ainda este ano.
RUMO AO ENVELHECIMENTO
Com a finalização do novo Censo, novas tábuas serão elaboradas, e o conjunto de dados poderá dimensionar o impacto das mortes por Covid-19 em projeções para a expectativa de vida. O país caminha para 690 mil vidas perdidas para a doença desde o início da pandemia.
Além disso, o Brasil segue rumo ao envelhecimento, e precisa aproveitar a fase final da janela do bônus demográfico, que ocorre quando a maior parcela da população é composta por pessoas economicamente ativas no mercado de trabalho.
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