O carro passou pela rua Pernambuco, deixou o calçadão para trás e seguiu na velocidade permitida. Pela Pio XII, desceu uma moto a 30 km/h. Naquele dia, o semáforo estava quebrado. Os dois veículos não pararam, apenas desaceleraram e, em um segundo de descuido, colidiram.
Do outro lado da Avenida Higienópolis, um casal andava e conversava. Era o primeiro encontro. Os dois se conheceram na faculdade e combinaram de ir em um barzinho da Paranaguá. Ele morava no centro da e ela em de Ibiporã. Depois de alguns chopes e uma porção de frango, eles saíram para caminhar. Alguns quarteirões depois, pararam, se olharam no fundo dos olhos e se beijaram.
Não muito distante, uma moto voava pela Rio Branco. Uma moto esportiva, com a placa um pouco levantada, para não ser pega pelo radar. O motociclista estava com um capacete estampado com dentes de tubarão. Ele desceu em direção à Winston Churchill, numa velocidade muito maior que a permitida, devia estar com pressa, era dia de jogo do Londrina.
Essas foram apenas algumas das situações que aconteceram no dia 28 de outubro de 2022. No dia anterior, foram registrados outros acidentes, beijos e infrações de velocidade. Nos meses de agosto, julho e janeiro também; no ano passado, várias; há cinco anos, tantas outras. Não vou falar 10, porque aí já é demais.
As lentes são atentas. Dia e noite memorizam os movimentos de leste a oeste, do União da Vitória ao Cincão. Elas guardam tudo na memória, em arquivos que nem podemos imaginar. São vigias incansáveis, que não piscam os olhos ou saem para almoçar. Silenciosamente, elas vão se espalhando, tornando-se mais comuns a cada dia, e vão colhendo nossa existência, armazenando memórias preciosas no esquecimento, para jamais serem vistas. A não ser quando chega uma multa.
Davi Ortiz – Estudante