Juros elevados, queda nos financiamentos para a compra e construção de imóveis, falta de mão de obra, alta no custo dos insumos. Mesmo com tantos fatores desfavoráveis, o mercado imobiliário segue estável. Depois de um 2021 em que os números do setor registraram recordes, um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) projetou crescimento de cerca de 5% em 2022 para o país. Em Londrina, o clima é de otimismo. As empresas projetam encerrar o ano com alta acima da estimativa nacional e há boas perspectivas para 2023, com crescimento real de até 10%.
“Tivemos muitos investidores de fora chegando em nossa cidade. Somado a isso, a administração municipal conseguiu colocar o orçamento no eixo e tem tido capacidade forte de investimento. Londrina se tornou um grande canteiro de obras”, avaliou o presidente da Vectra Construtora, Manoel Luiz Alves Nunes, que ressalta o amadurecimento, a profissionalização e a alta qualidade dos produtos como pontos fortes que contribuíram para o avanço do mercado local.
Nunes destacou a expansão imobiliária em algumas regiões da cidade, como as avenidas Adhemar de Barros, Harry Prochet e Waldemar Spranger, na zona sul, que têm atraído investidores e muitos projetos de alto padrão. Somados, os novos negócios naquela região totalizaram R$ 300 milhões. “Imagine o tamanho do giro que esse mercado produz, sem contar outras regiões, como as zonas norte e leste, que sofreram grandes alterações na paisagem. Londrina pegou o jeito do desenvolvimento.”
“O mercado de alto padrão segue um fluxo bastante próprio. Durante a pandemia, por exemplo, sentimos que o segmento seguiu um crescimento, com procura por investimentos nessa faixa, um comportamento que se manteve neste ano de 2022”, disse a diretora executiva da Vectra, Roberta Alves Nunes Mansano. Para 2023, a empresa manterá todo o planejamento e projeta um crescimento real de 10%, com novos lançamentos na chamada “nova Prochet” e na Gleba Palhano, além de outras regiões da cidade.
Com empreendimentos em Londrina e em outras oito grandes cidades do centro-sul do país e também no Chile, o Grupo Plaenge espera, em 2022, crescer 8% sobre os resultados alcançados no ano passado. A expectativa é fechar o ano com 23 empreendimentos lançados nos dois países. Cinco deles, em Londrina.
Neste ano, o grupo ampliou sua presença em Porto Alegre, onde mantinha negócios desde 2019 por meio da marca Vanguard. Agora, empreendimentos com a marca Plaenge também estão sendo construídos na capital gaúcha, onde foi inaugurada recentemente uma central de decorados com mais de três mil metros quadrados, um investimento de R$ 16 milhões.
A Galmo Empreendimentos encerra o ano de 2022 com 300 unidades lançadas e expectativa de lançamento de outras 300 unidades no ano que vem. Em 2023, o Brasil inicia um novo momento, com mudanças políticas e econômicas, mas as perspectivas do presidente da empresa, Fernão Galindo, são positivas. “Tudo indica que o setor será bastante aquecido, que teremos bastante incentivos governamentais e a gente espera que em todos os segmentos, popular, médio e alto padrão.”
Presidente da Galmo Empreendimentos, Fernão Galindo | Foto: Tatiana Galindo/Divulgação
Mesmo com fatores externos que impactam negativamente o mercado, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a pandemia de Covid-19, que afetou e segue influenciando na movimentação dos portos chineses, puxando para cima os preços dos fretes e elevando os valores dos contêineres em 700%, os empresários do setor demonstram tranquilidade quando analisam o futuro do mercado imobiliário. Há 47 anos atuando na área, o presidente da Vectra disse que sua trajetória o fez entender que os negócios imobiliários apresentam “muitas curvas” e que é preciso aprender a “conviver com os ciclos do setor” mesmo que o cenário macroeconômico seja de restrições ao comércio, redução da concorrência e alta da inflação.
“A guerra perturba a cadeia de fornecimento, promove a inflação, que foi um grande desafio para o mercado imobiliário desde o início da pandemia. De uns três anos para cá, a inflação ultrapassou 35%, 40% em alguns projetos. Mais do que isso, a alta dos juros joga contra. Mas existe uma demanda que segura o mercado e as empresas têm buscado se reorganizar”, disse Galindo.
Ter um modelo de gestão consolidado em processos permite a rápida adaptação a diferentes conjunturas, destacou o gerente regional da Plaenge, Rodolfo Sugeta. “Temos operações tanto em cidades voltadas ao agronegócio como voltadas à economia industrial, o que permite manter o equilíbrio em diferentes conjunturas econômicas. Da mesma forma, mantemos operações verticais, nosso carro-chefe, horizontais, por meio de planejamento urbano para condomínios de luxo, e industriais. Esse modelo de operação baseado em diversificação ajuda a manter a saúde econômica e financeira em diferentes momentos da economia.”
Além de um eficiente modelo de gestão, baseado no crescimento orgânico, pautado em investimentos constantes em novas tecnologias e processos e aliado a uma administração financeira conservadora, que ajuda a enfrentar os altos e baixos do mercado, Sugeta ressaltou ainda que o investimento em imóveis segue atrativo para quem busca segurança e bom retorno a longo prazo, o que contribui para movimentar o mercado. “Permaneceremos preparados para nos adaptar ao cenário de 2023.”
Contato com a natureza, amplos espaços e inovações tecnológicas são tendência no mercado
Ao mesmo tempo em que impactou negativamente a economia, com reflexos em vários setores, incluindo o imobiliário, a pandemia de Covid-19 também teve efeitos positivos nesse mercado e impôs mudanças no conceito de moradia que foram incorporadas pelas construtoras. O isolamento social imposto pela crise sanitária trouxe novas necessidades e despertou uma tendência de valorização da casa como espaço de conforto, bem-estar e segurança.
Essa nova tendência tem pautado o lançamento de projetos verticais de alto padrão da Plaenge desde 2021, com apartamentos espaçosos e plantas bem resolvidas, e houve também uma maior valorização do contato com a natureza nos empreendimentos e entorno, com a construção de praças e obras de paisagismo, outra exigência do mercado surgida no rastro da pandemia. “O objetivo é incentivar o lazer, o encontro, a prática de esportes e a realização de eventos ao ar livre. Dessa forma, cria oportunidades para que os moradores desçam de seus apartamentos para viver a experiência do bairro, compartilhando com os vizinhos uma vida em comunidade”, explicou o gerente regional da Plaenge, Rodolfo Sugeta.
A diretora executiva da Vectra, Roberta Alves Nunes Mansano, destacou que a preocupação com o conforto e bem-estar dos clientes começa ainda na escolha da localização do empreendimento, priorizando investimentos em áreas onde o potencial para a qualidade de vida já está presente. Áreas próximas ao Lago Igapó, arborizadas e que promovam a mobilidade, além de apartamentos com plantas inteligentes e que tenham boa integração de ambientas são prioridade nos projetos lançados pela construtora.
Mansano ressaltou também que a empresa tem investido fortemente em inovação. “Temos trabalhado com conceitos como a biofilia, que busca a conexão com a natureza, e além disso, temos olhado muito para a tecnologia, visando a entrega de uma proposta com grandes possibilidades”, disse a diretora executiva. “Quando tratamos de tecnologia, estamos também falando sobre qualidade de vida, sobre redução de custos, sobre economia de água, de energia, de melhor aproveitamento dos recursos, sobre segurança.”
Para os empreendimentos residenciais, o presidente da Galmo Empreendimentos, Fernão Galindo, destaca os projetos que oferecem áreas de lazer completas com espaço gourmet integrado e plantas que possibilitam a instalação de estações de home office em todos os dormitórios. Nos projetos corporativos, o foco está na localização. “Estamos lançando duas torres comerciais integradas a shoppings. Acreditamos muito no segmento corporativo de empreendimentos com boas localizações.”
Novo Plano Diretor deve reduzir entraves à expansão imobiliária
O presidente do Sinduscon Paraná Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), Sandro Nóbrega, comemora os avanços e resultados do mercado imobiliário em Londrina, em 2022, mas afirma que os lançamentos ficaram aquém da expectativa e abaixo da demanda. “Existe demanda para mais lançamentos em todos os segmentos de habitação, principalmente nas rendas mais baixas”, ressaltou.
A dificuldade em ampliar ainda mais a expansão imobiliária no município, segundo ele, se deve a alguns gargalos: o custo da terra, a alta do custo da construção e a escassez de mão de obra qualificada para o setor.
O “apagão” de trabalhadores começou em 2015, quando houve a redução na atividade da construção civil. De lá para cá, com aposentadorias, estagnação, falta de treinamento, especialmente em novas tecnologias, e a pandemia, que obrigou muitos profissionais a mudarem de área de atuação, a mão de obra ficou ainda mais reduzida.
A queda nos rendimentos das famílias, principalmente das de baixa renda, aliada à elevação do custo da construção, causada pela inflação nos preços dos insumos, também contribuíram para a redução dos lançamentos. “O custo do (programa) Casa Verde e Amarela e da habitação popular subiu e deixou de caber no bolso, tornando-se parcialmente inviável”, avaliou Nóbrega.
Soma-se a esses dois fatores, o alto custo dos terrenos, fruto de um plano diretor ainda em revisão, segundo o presidente do Sinduscon. “O custo do solo inviabiliza a moradia popular e para a classe média.” O valor do terreno, ressaltou ele, representa a maior fatia nos custos de um empreendimento.
À medida que ocorre o crescimento imobiliário, Londrina avança sobre áreas até então agrícolas localizadas nas bordas das zonas de expansão urbana. Sem revisão, o Plano Diretor atual cria entraves e há casos de projetos que levam de 11 a 12 anos para serem aprovados pelo município. “É preciso que os projetos sejam aprovados em tempo menor, que seja mais rápido o parcelamento do solo. Essa demora dificulta muito o custo da habitação”, defendeu Nóbrega. “Se eu tiver um sítio de dez alqueires dentro do perímetro urbano, quando vou lotear essa área, faço um custo de viabilidade do empreendimento. Conforme o tempo passa, avança a construção civil naquele entorno e o lote começa a ficar mais caro. Um terreno que custava R$ 500 mil, R$ 600 mil, chega a R$ 1 milhão. Como viabilizar um loteamento novo para habitação para as classes menos favorecidas?”, questiona.
A Câmara Municipal de Londrina votou a lei geral do novo Plano Diretor, mas ainda precisam ser votadas as leis complementares, como a Lei de Uso e Ocupação do Solo, o Código de Posturas e a Lei do Perímetro Urbano. Nenhuma delas, porém, chegou ao Legislativo até o momento. O Executivo, por meio do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), tem promovido audiências públicas para apresentar uma proposta dessas leis complementares. A expectativa do setor é que o novo Plano Diretor simplifique as regras e reduza o tempo de tramitação de projetos.
“Temos urgência, mas não temos pressa. Vamos perseguir uma coisa ótima, vamos pensar para daqui a cem anos. A gente precisa pensar em um futuro de verdade e está se preparando para que nos próximos anos a cidade tenha uma tangente de crescimento positiva. A expectativa é que o Plano Diretor seja aprovado de uma forma muito pragmática”, disse Nóbrega.
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