Antonio Gramsci, o jovem comunista sardo que deu muito ao mundo

O nome desta coluna, “A Cidade Futura”, foi inspirado num importante trabalho do italiano Antonio Gramsci, publicado em 1917. A ideia, à época, não era falar do futuro de uma cidade qualquer, mas, sim, pensar a maneira como os seres humanos poderiam

definir relacionamentos numa sociedade nova, numa comunidade baseada noutros valores, em inéditos códigos de convivência.

A cidade, nesse sentido, seria o espaço que se ocupa, a síntese de todas as comunhões.

No limite, a cidade é o mundo inteiro. Nela se produz a vida e se renova a esperança. Se cada sujeito humano pudesse viver em mil cidades ao mesmo tempo, ainda assim teria uma única existência, uma determinada forma de pensar e sentir. Cada viagem, cada mergulho em si mesmo, erige um edifício na cidade em que se vive, para onde sempre há retorno, a fim de estudar, trabalhar, namorar, seguir em frente. Nesses termos, a cidade futura se constrói todos os dias, ressignificando experiências.

Andei pensando nisso tudo por causa da leitura encantada que tenho feito da excelente biografia de Gramsci escrita por Angelo d’Orsi, recentemente lançada no Brasil pela Editora Expressão Popular. Trata-se de um trabalho monumental que retrata a vida do comunista italiano desde a infância na Sardenha, passando pela atividade política na imprensa e nos partidos no norte da península, até os fatídicos anos no cárcere, do qual saiu, em 1937, para morrer pouco tempo depois, aos 46 anos de idade.

Condenado a 20 anos de prisão pelo regime fascista, Gramsci escreveu intensamente no cárcere. Suas reflexões, registradas em cadernos, deram ao mundo uma produção intelectual vigorosa, embora fragmentada, com contribuições nos campos da política, da cultura, da educação e das mais variadas críticas à sociedade burguesa da primeira metade do século passado. Muitas décadas após sua morte, seu trabalho é estudado em todo o planeta, viceja inúmeros grupos de pesquisa, dá tom a uma infindável quantidade de atividades acadêmicas e de militância política. Não é nenhum exagero afirmar que seu pensamento está entre os mais visitados de todos os tempos.

Settimo Torinese, Italy – Circa January 2021: Via Antonio Gramsci (Italian Marxist philosopher) street sign |  Foto: iStock 

Gramsci, o jovem comunista sardo, “viveu” em muitas cidades, mesmo que estivesse encarcerado. Por meio de livros, imaginação e produção de ideias revolucionárias, reinventou o mapa-múndi e ofertou à esquerda mundial novas possibilidades de luta e

compreensão de si mesma. Sua “filosofia da práxis” – nome com o qual tratava o “marxismo” para fugir à censura da prisão – trouxe à luz conceitos como os de “bloco histórico”, “guerra de posições” e “hegemonia”, sem os quais se torna impossível compreender os principais eventos históricos da contemporaneidade.

Vale ressaltar que Gramsci dedicou-se muito aos estudos culturais, por entender que era urgente “tocar” os espíritos para reinventar a condição humana. Sempre será tarefa dos revolucionários disputar, com inteligência e sensibilidade, mentes e corações.

Na cidade futura, Gramsci aguarda o bom mundo que, um dia, seremos capazes de fazer.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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