Doha, Catar – A torcida do Irã trouxe para a arquibancada protestos em favor dos direitos das mulheres no país e por justiça pela morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos morta pela polícia moral, em Teerã, por violar uma lei que impõe um código de vestimenta.
A presença de bandeiras com dizeres políticos desrespeita determinação da Fifa de que itens com conteúdo político, discriminatório e mensagens ofensivas não podem entrar nos jogos.
Os protestos ocorreram no jogo contra a Inglaterra na tarde desta segunda-feira (21), no horário local, no estádio internacional Khalifa, em Doha, capital do Catar.
O jogo era a estreia dos dois times na Copa do Mundo e marcou também as primeiras manifestações políticas em um torneio marcado por questões relacionadas aos direitos humanos.
Jogadores ingleses também protestaram ao se ajoelharem contra o racismo.
Os torcedores iranianos, por sua vez, carregaram bandeiras com dizeres como “liberdade para o Irã” e “mulheres”. Em outra, as palavras eram “mulher, vida e liberdade”.
A frase faz referência aos gritos de “jin, jiyan, azadi” (mulheres, vida, liberdade, em curdo), entoados por uma multidão no enterro de Amini, em sua cidade natal, Saqez, no Curdistão iraniano.
Desde a morte da jovem, protestos massivos tomaram conta do país e se tornaram alguns dos maiores registrados no Oriente Médio em anos. Mulheres iranianas rasgaram seus véus nas ruas para pedir justiça. As manifestações já são o maior movimento contra o regime desde 1979, ano da Revolução Islâmica.
Autoridades locais afirmam que a jovem morreu em decorrência de um problema cardíaco, mas a família contesta. Ao lado de ativistas, afirmam que Amini foi agredida pelas forças de segurança e, por isso, morreu.
Segundo a ONG Ativistas de Direitos Humanos no Irã (HRAI, na sigla em inglês), 402 pessoas morreram durante os protestos. De acordo com a organização, 16.800 pessoas foram presas, sendo algumas condenadas à morte.
Torcedoras iranianas têm medo de falar sobre o regime devido ao número de mortos, presos e condenados. Elas acreditam que há risco de serem seguidas mesmo fora do país.
A iraniana Sara (nome fictício), que estava no estádio, diz que o desrespeito às leis que estabelecem o código de vestimenta é o menor dos problemas das mulheres do Irã, que ainda sofrem muitas opressões devido ao governo local.
Ela, que vive em Teerã, foi às ruas de sua cidade. Seus familiares não a apoiam, mas permitem que ela se manifeste.
A passagem pelo Catar, país que também é restritivo com o direito das mulheres, mas mais liberal que outras nações islâmicas, faz com que ela não queira voltar para casa.
“Eu quero mudar de país, mas neste momento eu fico para tentar mudar”, diz. Ela é otimista de que as mulheres alcançarão mais direitos e o que atual presidente, o ultraconservador Ebrahim Raisi, será derrubado. “Da forma que está não tem como ficar.”
Era esperado que houvesse manifestações políticas no jogo devido à visibilidade que a Copa pode dar aos protestos que tomaram o país árabe nos últimos meses.
O regime catariano utiliza o evento para tentar limpar a imagem após violações de direitos humanos relacionadas às mulheres, à comunidade LGBTQIA+ e a migrantes que construíram as estruturas do Mundial.
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